quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

NOITE VAZIA














Todas as essências de um sonho
dão um brilho ao meu cotidiano.
No vago, megulho em teus olhos,
fugitiva de um amor insano.
Afinal, o que tanto eu procuro
está dentro, não muito distante.
E sinto cada vez mais duro
esse seu silencioso semblante.
E na noite leve sobre a cama, cismo.
Penso no desejo que me envaidece.
Nessa tua gama que me faz tão fria,
sou noite vazia de um dia em flama.



Pollyanna Furtado. Ilustração: Ariadne - John William Waterhouse.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Do Que Acontece Às Seis e Meia da Noite no Recife


Motores cantando,
sirenes e buzinas
soando.

os olhos do tempo
fechados,
e ainda assim,
observando.

cada detalhe
que não existe
no caos do trânsito.

André Espínola

SUPERFÍCIE


















Calo-me
na luz fria
do espelho d'água.

Fora os rumores
dentro é o nada.

Navego nas ondas
curtas das notas
hipinóticas

e deixo tudo em branco.



Ivonefs. Ilustração: Sol e Lua no pólo norte.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

11























Bebericou o chá, estalou a língua e sorriu.

Como era de praxe, despediu-se efusivamente de Britney, sua gata siamesa.
Com o crachá em mãos optou pela entrada principal, não sem antes respirar fundo, posto evidenciar o novo emprego (a exuberância daquele saguão) a aquisição de um novo patamar financeiro.

Naquela que considerou uma das mais agradáveis manhãs de setembro.



Muryel. Ilustração: torres gêmeas do All Trade Center vistas de baixo.

BETO - O FILHO























Gerado de sonhos
num mundo real,
nasci bem formado
e fui recebido
em minha família...
família real!

Fui tolo nascido.
Nasci sem querer.
Cai neste mundo
e nem pude escolher.

Hoje sou Beto,
sou filho.
Não sei por quê.
Hoje sou Beto
e nem pude escolher.



Beto Reis.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

POEMA PECADO























Strip tease é a arte de provocar tirando a roupa.
O primeiro strip... é feito em casa
em frente ao espelho.
O sonho da menina é posar nua.
Ser comida com os olhos
é o supremo gozo
de quem ainda traz pecado na cabeça.
Não existe sexo na adolescência,
apenas indecência.
Hormônios são uma mentira,
o novo nome dado ao Capeta.
Os deuses greco-romanos são tarados,
são deuses do pecado,
pois não vivem em Atenas
mas em Roma.
Queremos viver uma grande orgia,
pelo menos enquanto dure a vida,
ou a mente nos desvirtue a alma
ao apelo incessante da carne,
que queima no corpo
e arde no coração!



Marcelo Farias - Ultramodernidade.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

FIM DO MUNDO


















Não sei dessa construção cristã
greco-pérsica
o poder de me abater.
Apenas sei das almas caindo no abismo
para a segunda morte.
Os céus abrem em minha mente
mesmo que eu não queira
e tudo se torna negro como um saco de crina.
O Diabo sorri na carta XV.
Em outra a Torre desaba
e por fim O Julgamento,
seguido da Morte...
e eu dependurado,
Enforcado pelo pé,
que ousa caminhar por onde não deve.
O maior pecado: desobedecer!
Desobedecer e não cegar e querer ver,
querer provar!
Querer saber o que foi proibido:
o fruto da Árvore do Conhecimento.
Tinha que ser Eva pecadora,
sedutora ingênua, irmã
de uma humanidade dolente
filha de Pandora,
enteada de Prometeu.
E quem sou eu?! E quem sou eu!...
Para contrariar a ordem de Deus!
Mesmo que ela seja injusta,
pois é justa a punição eterna
e mesmo linda!
Linda de morrer...



Marcelo Farias - Ultramodernidade.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Sou

















"Apesar disso
- escutem bem -
todos os homens
Matam a coisa amada;
Com galanteio alguns o fazem,
enquanto outros
Com face amargurada;
Os covardes o fazem com um beijo,
Os bravos, com a espada!

Oscar Wilde


Sou

Um deserto num oásis,
Um jardim estéril
Num apartamento
Não acabado,

Um jogo de póquer sem "ásis"
Um cata-vento sem vento,
Uma prosa de versos
Rabiscados.

Sou

O assassino louco
Inconsequente e psicopata,
Do meu próprio Mar Morto.
As presas que nele mergulham,
Termino sempre por matá-las.



André Espínola

AMIGOS PARA SEMPRE





















Lá fora o sol e o céu azul,
Aqui dentro, frio e escuridão.
Lá fora, os normais, os merecedores.
Aqui, o refugo, os marginais, os excluídos, os apontados.

Oh, dor suprema de ser assim renegado.
A quem pedir socorro?
Quem se importa com a nossa dor?
Quem a não ser outros como eu?

Em nosso covil nos reunimos,
Trocamos experiências e sensações.
E noite afora nos confortamos nos braços da morte.
Matando e exaurindo.

Sangrenta e doce vingança.

E noite após noite,
Sugamos o sangue sagrado.
E através dos rastros deixados,
Somos ainda mais amaldiçoados.

Preciso de vosso amor seres da noite sem fim.
Sem vós, nada sou.
Pois sozinha consigo caminhar.
Mas sem a lugar algum chegar.

E nos braços frios daqueles que vagam,
Encontro meu conforto e alegria.
E sigo através da eternidade.
Confortada por vossa amizade.

By Ana Cristina
Kaya, the vampire

DUAS FACES



















A máscara cai
e mostra a face pálida
descarada...
e encara sem pudor
a multidão de mutildaos.
Desenganada,
a face nua ri e chora sem pudor.
Não sente prazer, nem dor
ao fixar o olhar para enfrentar a realidade.
O medo do fracasso
que desfaz a vivacidade
do gesto e do olhar.
A expressão congestionada
limita a vida.
É preciso aliviar a tensão.



Pollyanna Furtado.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A NOITE
















A noite caiu suave...
Acordam os meu sonhos...
Delírios vêm busando...
tudo o que o dia roubou.

A noite vem escura,
domando minha luz...
castrando o meu viver...
sonhando o meu querer!

A noite vem chegando...
e eu me encontor aqui...
poetando!!!



Beto Reis.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

FOGO, ÁGUA E AR.























Tua pele crua, palpitando (chama)
se estende lua em lençois noturnos.
Nas minhas mãos, possuído, lambes
pingos de minha língua que te procura.

Do teu rosto, a luz dos teus olhos,
fios imersos, alertam minhas esferas,
deságuam num encontro caudaloso,
incontido e como reféns nos esmeram

e te devo água e te devo ar e me devoras
nas canções nossas, notas tocadas
arranjos blues, improviso azul amora

e sempre serás um desconhecido,
um novo a descubrir, um oceano
e sempre terás minha língua assídua.



Ivonefs. Ilustração: gravura renascentista mostrando os quatro elementos - fogo, ar, terra e água.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

NOITE PAULISTA


















Como é bom estar entre iguais.
Não mais a exclusão, o espanto.
Apenas curtindo, pessoas iguais,
Normais até onde todos têm um pouco de louco.

Mas o que é loucura e lucidez?
Um te transporta á mundos mágicos,
Outro te corrói, com a realidade, a sensatez.
E onde está a felicidade? Nos momentos.

Cada momento é único, fugaz.
Cada lindo instante é um momento de paz,
Onde o coração se acalma e se rejubila
Com a satisfação e a cura da alma ferida

Há momentos ruins, pois, é fatal.
Onde a ira de Deus nos afasta do mal.
Que insiste e persiste letal.
Engolfando-nos com o golpe fatal.

E noite após noite continuamos a perambular
Em busca de algo que nos faça sonhar,
Que faça nosso coração palpitar
E que a luminosidade divina nos faça amar a todos sem pestanejar.

É noite, noite alta.
E o que será que me falta? Neste momento feliz, não consigo refletir.
Vou esperar o nascer do sol e a resposta surgir.

Será tudo isso falso, devaneios?
Mas são verdadeiros meus desejos,
Que se realizam com tão pouco.
Podem até dizer que é tudo tão louco.

Cabelos longos, topetes, moicanos...
Todos juntos através dos anos
Novos ou velhos, todos têm o mesmo sonho
E convivem juntos, mesmo em outro plano

E a noite se arrasta e se agita.
Alguns se vão, a maioria fica
Até que o sol apareça no horizonte
E tudo solitário se torne.......

Outra vez!!!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Enquanto Um Cai, Outro Fica Em Cima























Quando o mar braveja
Com suas ondas furiosas
E dissolve o distinto
Castelo de areia,

Uma criança brinca,
Outra chora.

Quando a tempestade
Transcende a conta de gotas
E derruba barreiras,
Leva casas ao chão,

Um fica desabrigado,
Outro pensa em saudade
Ou solidão.

Quando a noite chega
Há quem quer e há quem
Não queira,
Mas cada um pragueja:

Um pelo trabalho que tem,
Outro pelo que deseja.

André Espínola

QUIMERA























Se eles me vêem na rua,
com olhar desesperado,
proclamando em lágrima,
apressam-se em concluir:

_É choro de criança mimada!

E ali,
aconchegada na calçada,
meu pranto é santificado
perpetuando a crença
num mundo de caramelos
e almofadas.



Bárbara Leite. Ilustrção: quimera em antiga cerâmica grega.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

ANJO NEGRO - poesia
















Meus olhos se abrem ao nascer do crepúsculo.
Meu primeiro pensamento vai para ti, meu doce anjo negro.
Uma fagulha percorre todos os meus músculos.
Acendendo a chama que clama por este amor tão puro.

Meus lábios rubros anseiam por teus beijos,
Todo meu corpo se inflama de desejo.
Minha pele ainda sente teu toque carinhoso.
Meu peito parece explodir tamanho é meu anseio.

E fico a te esperar sob o céu coalhado de estrelas.
Sonhando acordada, com tua breve chegada.
Sinto-me repleta, totalmente apaixonada.
Tenho ganas de gritar, de correr pela escura estrada.

Onde estás que ainda não chegaste?
Onde o sabor de teus lábios macios?
Onde o calor do sangue escarlate?
Venha logo meu doce amor, não faças desvios.

Não suporto mais a angústia de te esperar.
Vou sair noite afora, vou te procurar.
Entre becos e ruas desertas, em algum lugar hás de estar.
Esta dor aqui dentro só passará, eu sei, quando te encontrar.

Apenas te amo, assim sem pensar.
Não importa quantos séculos ainda tenha de esperar.
Pois sei que tu também me amas ternamente.
E assim será meu anjo negro............. eternamente..............


By Ana Kaya Cristina

RAZÕES DA ALMA





















O que ata
desce feito lavas, abrasa
_vem sem explicação

nossos corpos:
sentidos e doçura
com letras impressas

lemos e relemos.

Nossos olhos _filamentos,
mão ligadas, objetos

e quem passeia
são nossas almas
que une os imperfeitos.



Ivonefs.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Amo você


Amo você mais do que tudo.
Amo você como se fosse muito.


E amo você mais um pouco.
Amo como se Deus fosse um louco.


Amo você o suficiente.
E como solução, amo você o bastante.


Mesmo quando o verso não rima...
Meu amor por você não termina.


Amo como se fosse doida.
Amo como se tivesse toda a razão.

E só para você ter certeza,
Repito com toda a clareza:


Eu


Amo


Você.

Com amor...


Teu corpo é meu.
Velho, talvez, novo para mim...
Perfeito para o sonho,
Pronto para o amor,
Pleno, pois mesmo assim,
Me faz feliz!
Teu corpo é carmim,
Minha boca é contorno
De teu desejo...

Me Morte
( foto de "Rembrandt - Homem nu sentado no chão com perna estendida")

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

SONETO DO LIVRE-ARBÍTRIO



















Sinto a piedade atravessando meus olhos,
cobrindo-me em manto branco. Apoderam-se,
profetizam minha infelicidade. Estancam-me
com suas línguas frias, lambem-me as feridas.

Deixem-me livre ao vínculo que escolho e nada
cobro. Nada perdi. Eu primavera. Queima
o Sol, descem folhas e nas noites frias, ligo às
frestas da janela entreaberta à boca em espera.

Vejam! o fogo que queima, não combato. É vida
plena e ainda que reste em tristeza, me foi beijo
de alegria. Não me peçam trégua se assim quero:

O que surgiu à minha frente, vivi nas mãos suas
além das paragens conhecidas da existência. Divino
ter. Planos sem danos, sem início, sem meio, sem fim.



Ivonefs.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

IMPROVISO



















Minha poesia
é minha vida
improvisada.

Jazz todo dia.



Ivonefs. Ilustração: Miles Davis.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Noite Sem Nome


















O que é noite aqui,
Para mim
Deveria chamar-se outra coisa.

Há um vazio completo de nada.

Aquele vazio do tipo
Que nunca passa
Despercebido.

Quando os arranha-céus não existem
O céu escuro abraça até o limite
Que as serras velando a cidade permitem.

A escuridão é maior.

Marcante, lá no alto,
É a Igreja que alumia
As vielas e o povo,
Mais que o próprio dia.

É nessa noite ainda sem nome,
Que Nossa Senhora ou
Qualquer um desses santos,

Renova a fé
Do povo Interiorano.

André Espínola.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Indigente

O corpo estendido na maca era de mulher. Coberto de carne dilacerada, o peito aberto como se tivesse levado dezenas de facadas. Um corpo nu, mais nada. Morto, abusado, seco de sangue e sujo de gozo. Estuprada. Uma mulher que há pouco respirava. Há pouco sorria, chorava, vivia, cantava...Fragilidade e frieza própria de quem morre. Morta, nua, intocável, finalizada. Será que foi amada? Ou morreu só? Teria uma história de vida ou a morte seria sua história? Ninguém sabe. Ninguém se importa. Ninguém lhe daria rosas no túmulo.
Era um cheiro de éter insuportável!
-Merda! Meu pai bem que dizia: Seja dentista! E eu optei por médico legista. -Desculpe moça. Não fossem esses furos até que dava.
Guardou o membro, fechou o ziper da calça e empurrou a gaveta. Ela merecia um epílogo.

Noites de Nova Iorque

A noite se levanta no meu quarto.
Eu não meu deito, dado a cafeína.
E crente que ainda acho a heroína,
Em horas revoltas, incauto, parto...

Num braço dado à solidão reparto
Ruas desertas (não paz), jogatina.
E nessas "noites ruas" não rotina
Multidão infeliz de que estou farto.

Ah! Menina dos olhos, Nova Iorque,
Na noite escura que assalta, assedia,
Procuro lugares. Onde não ir?

Para encontrar aquela que me enforque,
Antes que a luz da lua vire dia
E eu, cansado, volte a ter que dormir...

PAPA ANJO























Instintivamente cravou-lhe um beijo.

Destilando sadismo pelo ouvido da garota, desceu a língua pelos mamilos enquanto bolinava sua pequena vulva. Cheirou profundo os dedos, lambeu-os. Impelido pelo corpinho novo de menina, estocou profunda e cadenciadamente seu pau naquela gruta já providencialmente umedecida por cuspe. Pediu-lhe _Posso gozar em sua boquinha, anjo? _lambuzando-a em abundância com seu sêmen velho e doente.

Fechou o zíper e ainda ofegante, cobriu o corpo morto há dias, guardando-o com desvelo em uma das gavetas do IML.




Muryel. Ilustração: Desconstrução_by_Nonamething.

REALIDADE CRUEL























A mãe na cadeira de rodas,
pernas amputadas.

O filho, a sua frente,
drogado, demente

_obriga-a a tocar...



Ivonefs. Ilustração: O Grito - Edvar Munch.

ABISSAL
















Relutância,
sequela sem direito
neste vago dúbio estreito.

Aves no céu!

Falta de ar,
um pombo de ouro,
um lampejo que passa.

Justiça? Injustiça?...

Execução é a loucura
deixando na mão
quando o chão se abre.

A glória é o repouso:
nada de pena,
nem reclamações.

Os mortos são sagrados,
as feridas devem ser cobertas
e a cena se encerra.

Amarga a minha boca
que seja,
não há saber em nada.

Não quero compadecimento,
nem lamentos,
carrego o que me pertence.




Ivonefs.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Um Sábado Atípico



















- Amanhã a gente vai almoçar na casa da vó, tá? Eu te acordo às 8:00h.

Comé? Eu não estava a fim de passar meu sábado de – eca – carnaval na casa da avó. Eu já havia desligado o computador e não teria como avisar os meus amigos interneteiros que estaria off até a tardinha (pode não parecer mas isto é grave em dia de férias). Além do mais meus avós moram numa cidade extremamente pequena. Quando pirralha eu até brincava na terra mas, agora, não sei o que se faz por lá. Por aqui, aliás. Eis-me aqui.
Equipei-me de tudo o que poderia precisar: celular – fora de área de cobertura -, óculos escuros, um bom livro, mp4 player, chiclé e papel e caneta; pro caso das palavras virem.
Ainda há pouco, sentada aqui com o meu livro na mão, aparece-me uma senhora, que me parece conhecida. Vizinha da vovó, supus. Como estavam todos dormindo, fechei o livro e fui abrir a porta.

- Olá – cumprimentei-a.

Era daquelas meio acima do peso. Usava uma calça de ginástica que lhe dava uns 40 quilos a mais. Trazia uma daquelas santinhas que vão passando de vizinha para vizinha.

- Pode deixar aqui – apontei para a mesa.
- Aproveitando as férias para ler um pouco?
- Pois é. Não dá pra parar, né?
- É mesmo. Você tá em que série?
- Vou pro terceiro ano agora...

Ela disfarçou o espanto e tentou não me deixar perceber que me imaginava mais nova.

- Hum... E vai fazer o que na faculdade?
- Jornalismo.
- Ah! Mas aí tem que ler mesmo, né...
- Pois então.
- Mas tem Jornalismo aqui por perto?
- Eu pretendo me mudar. Florianópolis, talvez.

Agora ela já não disfarçava. Fitava-me com descrença. Como se dissesse “Que boba, menina. Contente-se com Xaxim.” Limitou-se:

- É. Daí tem que estudar mesmo.

Sorri. Ela continuou, com ar de velha sábia:

- Não dá pra ficar perdendo tempo com frescuras...
- Tampouco filosofando sobre a vida alheia.

Ela estufou o peito e foi-se embora, dizendo:

- Boa sorte.

Na verdade a educação não me permitiu dar essa última resposta. Mas quando eu estiver realizando o meu sonho bem longe de Xaxim vou fazer questão de que ela saiba.



- Duda de Oliveira.

Rosas mortas (Amor...uma rosa vermelha, por favor)


Aprendi a ver as rosas de uma maneira,
Que os meros mortais desconhecem,
Não via as mortes, nem os amores,
Mas antes a vida,os dissabores,
Que dali surgissem.

Aprendi a olhar as rosas,
Sentindo o perfume,
Despindo espinhos,
Redesenhando as cores.
Ofertei-as a ti sem tirar do chão...
Eu via as rosas com o coração.

A vida veio, dias cheios, nuvens cinzentas...
Não pude regá-las e num segundo,
Morreram todas...

Agora me dão uma segunda chance
De apreender com as rosas,
O gosto, o sabor, os instantes...

E antes que o dia venha assumir sua postura mórbida,
Te peço, dê-me uma rosa vermelha,
Para que vestida de vida, olhar as rosas,
Eu possa...

sábado, 2 de fevereiro de 2008

A MÁGICA DISFARÇADA























Sabe eu não sei que mágica
esconde minha família.
Eu não sei de onde ela tira
essa mágica absurda:
detrás da porta,
do vão do armário,
de alguma gruta,
de alguma oculta
pedra ao luar,
sei lá, de algum lugar!
Uma noite sonhei com ela.
Estava na terra dela,
um mundo verde e azul.
Sempre verde, sempre noite,
um mundo verde e azul.
Eu falava com uma fada
de azul verde esmeralda
era cor da veste dela.
(Eu acho que ela era ela,
a mágica disfarçada!).
Conversava em tom baixinho,
me contando um segredinho
que eu jamais posso contar!
Pus então num cofrinho.
De manhã eu acordei
e o que ela me disse?
Não sei! Eu nunca mais que lembrei!
Eu só sei que ela era linda!
Linda! Linda! Linda! Linda!
Linda fada verde e azul.
Rainha em seu mundo de sonho,
seu mundo verde e azul!



Marcelo Farias - Para Entender a Mágica.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

DA ESQUINA QUE TE DEIXEI
























*

Te encontro...

meu vestido preto,
curto espaço,
te enlouqueço

quase noite...

um círculo complexo,
curta metragem,
beijo e sexo

da esquina...

meus olhos te sequem:
corta os passos
meia volta, me medes

_nem parecia despedida...




Ivonefs.