quarta-feira, 9 de junho de 2010















Cara de palhaço
Pinta de palhaço
Roupa de palhaço
Foi este o meu amargo fim!...

PALHAÇADA - Haroldo Barbosa e Luiz Reis


Entrei no melhor da festa,
embora muita porrada
rolasse nos bastidores.

A princípio não foi fácil
ajustar-me ao picadeiro.
Nunca estivera lá antes,
sequer havia ensaiado.
Fora mesmo ali jogado
pra fazer o show na marra.
Foi barra, mas levo jeito:
Me acostumei a apanhar
e a levar chutes na bunda
_o trivial de um palhaço...

_Quanto à minha integridade?!...
Esta era preservada
pela espessa maquiagem
que cobria minha face.

Tudo então corria bem:
A platéia toda ria,
a criançada aplaudia
e eu no palco me fodia,
sem temer humilhações.

_Sabe que até pensei
em seguir esta carreira!...
Parecia ser perfeita
para a minha atuação.
Se o cara que cospe fogo
não tivesse se empolgado,
talvez tivessem me alçado
ao grau de grande atração.

Mas meu sonho durou pouco,
queimou e virou fumaça...
Pois o circo pegou fogo!...
Não achei a menor graça!

Todo aquele desespero.
Toda aquela correria.
Queimei até meu cabelo!
Rasgaram-me a fantasia!!!...
E sabe o bom da piada?!
Que não vão me pagar nada!
Não vão dar, nem de bondade,
salário insalubridade!
Cadê a carteira assinada?!...

Resta só meu desabafo.
Resta só o que eu lhe digo...
E agora, doutor, quê que eu faço?...
Só sei trabalhar em circo!...


RELATO DE UM PALHAÇO APÓS O CIRCO PEGAR FOGO



Marcelo Farias

2 comentários:

Ganso neurótico disse...

Tu gostas de escrever sobre palhaços. - belo poema.

Raissíta disse...

Achei genial o poema.