Quero, desde já, deixar claro
que aqui não se lerão palavras fáceis.
O cinismo não terá lugar neste poema franco.
Sei que escrevo um monólogo,
mas em verso é assim que as coisas são!
Se arrogante ou aristocrata pareço,
saiba que, burocrata, nunca!
Labirintos não farei para te perderes.
Feijões não contarás exaustivamente.
Não abrirei um sorriso falso,
nem inventarei humildade
com o único propósito de humilharte.
Os salões do Olimpo humano não me interessam,
pois neles não há deuses, mas condenados.
Quem acha que a beleza é carregar um fardo,
não sabe contar as estrelas, nem flutuar no azul.
Um paladar sofisticado pode abortar um banquete,
mas a ceia dos bardos é capão com vinho.
Se porcos comerei o farei com alegria
e com mãos oleosas tocarei bandolim.
A paixão mais carnal moverá meu canto,
transbordando encanto,
sublimando feras,
revelando esferas por detrás do céu
e quando por fim, a manhã chegar,
seguirei caminho para encontrar o sol.
Marcelo Farias - Ultramodernidade. Ilustração: Fernando Pessoa.
2 comentários:
os condenados do Olimpo, as feras sublimadas e a franqueza,além da foto do Pessoa me encantaram
bjo
CARAMBA MARCELO, ESTE ESTÁ DE BABAR MEU AMIGO.
QUE TEXTO MARAVILHOSO, FORTE, UM SOCO NO ESTÔMAGO E UM DELEITE PARA A ALMA.
AI AI, QUE LINDAS SÃO AS LETRAS NÃO É MESMO? E AINDA QUANDO BEM ESCRITAS E COORDENADAS, FICA ASSIM, LINDOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO. SEM FALAR NA IMAGEM. SEM COMENTÁRIOS.
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