segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

ESTRANHO ENCONTRO COMIGO MESMA



Uma noite sonhei que me penteava em frente a um espelho oval. Eu estava em um quarto grande e antigo. Olhava-me no espelho e penteava os cabelos devagar, com um jeito sofrido. Estava com uma camisola branca, bonita, imaculada dentro daquele quarto sombrio, que me prometia o estupro.
Mirei o espelho e contemplei minha própria imagem. Dando a mim mesma algum tempo, aguardando o inevitável. A porta então se abriu, suavemente, sem nenhum baraulho. Era antiga e pesada, mas não rangeu. Ela então apareceu. Branca, linda e selvagem, imagem e semelhança de mim. Vestia seu vestido vermelho antigo, com arabescos pretos. Parecia um hobby.
Seus olhos vermelhos olharam para mim, como o lobo para o cordeiro. Seu sorriso se abriu e suas presas apareceram. Ela se aproximou lentamente, os olhos vermelhos de fome, me hipnotizando. Eu sabia o que ela queria e sabia o que iria fazer. Ela havia prometido e eu havia calado, consentido...
Ela encostou o corpo em mim e passou a mãos em meus ombros, acalmando sua presa, anestesiando-a. Eu sentia seu calor em minhas costas, através do vestido, da camisola... Ela se abaixou, afastou cuidadosamente meus cabelos, como se fosse dar um beijo em meu rosto, um beijo de irmã... Mas a mordida foi ágil e certeira. Penetrou-me no fundo da alma... e eu senti o sangue escorrer...
Hoje eu penteio os cabelos e olho de frente para mim. Não existem vampiros. Vampiros não são quentes. Não vemos sua imagem no espelho. Mas meus olhos estão sempre vermelhos, sempre! E não sinto culpa, ou peidade... e uma estranha liberdade...




Marcelo Farias

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