sábado, 28 de fevereiro de 2009
O rústico da sabedoria.
Não levo comigo os meus sonhos quando acordo;
Pois sinto que seria deveras cedo para que a realidade soubesse o que fazer com eles.
Tive comigo, o cálice dos deuses de todos os lugares;
E de todas as mil pérolas ou jóias que possuí,
Só restaram lágrimas de outrem.
Por saber demais - talvez...
Rico! Saia por uma porta de vidro maciço,
E não retornes à sua alma perdida!
Querida vida!
Promessas suas são a minha sabedoria;
Que em madeira ou em palha aliviam;
As matérias indevidas e condicionadas ao passado.
Portanto, sou - rato.
Algum ser rastejante pelo asfalto;
Que cobre a cidade com mentiras...
Não absorvo a verdade;
Só a rusticidade da sabedoria.
A TUDO SEREI ATENTO
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
CINZA
Marcelo Farias - Ultramodernidade. Ilustração: Golconda - René Magritte.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
RAINHA DA FESTA DO TOMATE
You can dance! You can jive!...
(Dacing Queen - ABBA)
Eu posso?...
Só meninas.
Preconceito.
Mura, Mura...
Que é isso?...
Esse bigode é postiço.
Gordo pode?...
Só mulher!
Trompa eu tenho.
Serve
nome de traveca?...
Que tal
Eddy Star?
A-d-o-r-e-i!...
Perrone está uma diva!
Falta apenas menstruar...
Deixa o Perrone entrar...
Põe essa foto minha, tá!
Só você me entende.
Mas não vá mostrar os seios!
Bota aquela foto tua:
RAINHA DA FESTA DO TOMATE
Danou-se...
Marcelo Farias
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
NADA MUDA
domingo, 22 de fevereiro de 2009
NÃO SEI SE A LUA MENSTRUA
sábado, 21 de fevereiro de 2009
AONDE O VENTO FAZ A CURVA?
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
WORK IN PROGRESS
buraco luminoso cai mundo
e tudo dentro de mim.
rastro de vácuo atrás dos passos
largos com que ando lado para outro
do quarto mundo dentro de mim
dentro dele, clausura.
caixacofres dentro entro cofrecaixas
como a boca que tenho na boca
e ainda assim as grades brancas
são os calcários dentes de Deus.
cai mundo: umbigodeus.
e na minha barriga o céu abrigado
(cosmicoito interrompido);
cai mundo e eu no quarto
de olhos serrados.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
DO DESCONHECIMENTO DA ESSÊNCIA PRÓPRIA
meu Pai sussurrava
poderosas borboletas
por sobre as flores
do jardim da frente.
eu, moleque,
gritava aviões
de guerra.
a cada berro dado
veloz revolvia-se a terra
e meu Pai, amoroso,
mais borboletas fazia.
que tanta graça,
em tal doloroso trabalho,
eu, moleque, via?!
não sei...
Anderson H. Ilustração: Maçã Borboleta - Vladimir Kush.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
PRÁTICAS ANTIGAS
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
SEM TÍTULO
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
DOIS LADOS
domingo, 15 de fevereiro de 2009
ENCRUZILHADA
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
O AVESSO DAS COISAS
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
PARADOXO
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
PSICOLOGIA DAS CORES
Meus olhos - pintados de branco.
Branco meus olhos negros
nessa rua de branco.
Todo branco, vermelho,
mais que negro, duplicado
dois aziagos negros:
um vermelho e um manchado.
Fossem seus cabelos negros
brancos, como ainda são;
num futuro hei de vê-los
brancos de um negro vão.
Todo azul, se vermelho,
é um azul mais maduro.
Como o céu que é vermelho,
já sem futuro algum.
Todo espelho é mais velho
que seu dono - absurdo
é não ver que o espelho´
é duplo em tudo.
Já meu peito é mais velho
que sua jaula no mundo
o tempo de pensamento
é claro-escuro.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
A maresia da lama.
Tão salgada quanto a embolia sentimental;
Convicção submersa no mar - doce e vermelho dos teus pés;
Descritiva, a lama pede: "Aos ventos em revoada entrego as almas!
Ao mar entrego em revoltas aladas,
O maior e o menor preço do universo!"
Tenho meu orgulho submerso;
Num mar revolto de saudade;
Mar que se assemelha à igualdade da lama,
E da terra que pisas.
Tu sorri. Tu sente a maresia?
Os favores frios que concedestes;
Renegam o calor do que eu sinto.
Afunda - areia movediça;
Afunda em mim - humana;
Rejeita a si - esnoba teu verdadeiro amor.
Deixe-o ir embora.
EXPRESSO DOS ANJOS
Andar ruas, esconder-se multidão. Pessoas escondem-se em mim. Sou minhas doenças. Fumaça. O mundo é este nevoeiro de carbono lançado no cosmo por máquinas velhas. Placas, cartazes, sapatos, passadas, passados. Pele descartável. Hoje as flores de plástico tem pétalas de carne. Misturo-me com a pele dos outros. Mal me quer, bem me quer. Despetálo-me neste ônibus ao meio dia. Essa carcaça de ferro e vidro exibe o rosto dos esquecidos na janela. Os postes me acompanham.
A máquina leva seus passageiros nas costas. Pingos de chuva vêm do céu da boca das nuvens. Mexo o braço mexendo os corpos dos estranhos. Como poderei amá-los? Esqueço seus rostos num olhar desinteressado. Esqueço. Não me vejo. Meus pés confundem-se com os passos falsos, sem graça e inúteis dos outros. O ônibus, essa nave sem vôo, é a verdade de seus passageiros. Minto sem saber. Sei que eles mentem em busca de uma verdade imaginada nos botões caídos sobre o metal da nave. O chão não é visto, nem sentido. É preciso chegar no ponto. Chego na estação. O mundo é cheio de paradas. Saberemos sempre onde descer. Aonde chegar? Em casa? Na fábrica? No bar? Na praça? Na morte?
As lâmpadas piscam para se apagarem. Cortes. Portas. Janelas. O ônibus segue lotado. Estou lotado dos outros com meus ombros enrijecidos. A cigarra canta pra morrer. Quando precisarei descer? A cigarra canta pra morrer. Medos de sinetas imperativas. Estou de pé nos pés dos outros. Me conforto vendo sete passageiros sentados. Das costas de suas costas surgem pontas de ossos em vão brotando em forma de galhos venosos. Asas vão cada vez mais crescendo. A penumbra. Pares de asas. Enormes asas. o ônibus não poderá suportá-los, nem comportá-los, muito menos me assombrar. Vejo mães parirem seus filhos para comê-los. s passageiros se incomodam com a penugem dos alados. Apesar das longas asas, eles não conseguem se mexer. O homem de asas levanta-se. Outros ocupam seu lugar. Alívio para os pés cansados. O expresso tem janelas grandes, de vidro. Todas fechadas. As portas automáticas não abrem fora do ponto. Eles precisam sair do veículo e voarem. Pra quê ter asas se não podem voar? Apesar de imensas janelas cristalizadas de plástico preto, a ventania não circula. O dia inteiro será sempre noite de dentro dessas máquinas. Eu quero que este monstro de aço esmaltado se choque no primeiro muro da moral. Que se espedaçe no último desastre. Que se espalhem seus vitrais pelo mundo.
Um menino arranca da sacola um martelo. Quebra as janelas e solta as aves. Os alados escapam damáquina. Voam libertos sobre a cidade suja.
Marcus Ney. Ilustração: Lagarde Perpignan - Salvador Dali.
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Um ensaio.
E tu estás aqui de novo – destino insólito!
Trouxe até mim essas belas imagens – já anteriormente esquecidas, e corroídas pelo tempo.
Eu a coloquei como foco;
Eu a entorpeci com os efeitos sonoros dessa vida amarga!
Ela assim me arrastou e me dissecou internamente.
Estou agora pela metade; Tu levaste minha mente!
Sou – o que já não era.
Maldito seja o som das trevas!
Ecoam-se em meus ouvidos o teu bater nos ares envoltos em mentiras;
Consigo sentir teu cheiro em óleo das outras filhas;
Dessas ruas e desertos, nas quais tu dizes possuir.
E tudo não passa de um mártir!
Já pensei ser dona de minhas próprias falas – mentira! Carrego comigo uma leva de pombas giras; Que renascem a qualquer sintoma de amor a ti.
Religião sem fé – seca!
Pequena e imensa solidão – se embaraça e espaça-me aos dedos, tamanho torpor que tu me deixaste.
Alfaiates? Reerguem-se!
Deixam-se os velhos trapos de sonolência que vestimos – abandono!
Relevam-se os sonhos puros que cumprimos – assombros!
Fantasmas e deuses que tornamos a ver – Delírios!
Sinos e sinos!
Talvez não! Estejamos loucos, então!
Em teus olhos de tamanhas cores – desenho cores novas!
Semi-novas planícies de montanhas novas – mais novas do que os sentidos!
Qualquer fossem os dizeres agora...
Não seriam dignos de lágrimas vossas.
Senhorinha de tamanho imaculado – anjinho malvado.
Envolta entre mantos de mentira;
Tu és tua própria cria;
Teu princípio e teu prazer;
Sente-se feliz ao comover qualquer um de seus amantes;
Rodando sua saia afora;
Tua indecência – mente interna -, doçura infame;
Delícia entrando-me aos poros – sempre!
E fazendo-me lembrar de ti.
Só, eu não sou.
Não. Não és.
Somos. Podemos.
Morreremos sabendo.
Escrevemos e encenamos;
Deveras fossem nós dentre tantos;
Capazes de sermos – não fomos!
Nem seríamos - talvez!
Tamanho fosse o sofrimento de prazer,
Que teríamos ao nos encontrar.
Não hesitei em lutar por ti.
A categoria de minha falácia decai sempre – ruína!
Minha única menina – em um mundo com almas a me comprar.
Os instantes desgastam.
Recebo os passos de pessoas que não me vêem – risos!
Amigos, e familiares!
Palmas lineares!
Tudo muito ensaiado – peça e teatro!
Ruído calado de algo que eu disse.
Reino sozinha! Queimo-me!
Fogueira inquisidora;
Fácil conter-me em seus braços!
Restos. Apenas.
Inteiras são as pernas;
Que ousam trilhar o mesmo caminho.
Sozinha! Sempre!
Contigo em mente – contente!
Mentindo através do soluço e ardor;
Fingindo sentir amor por esse humano – sou!
Me envergonho...
Me calo...
Abandono o papel...
Deixo o corcel correr sozinho;
E me abençôo com o vinho.
Odisséia
Tinha lá seus pés pregados nas nuvens,
Com a cabeça em meio ao mar,
Navegando com seus olhos no destino,
Em meio aos seus sentidos, sua nau,
Errava em busca do poente ao fim do mundo.
Rilhando em seus punhos o caminho,
Numa pena que instaurasse sua estrada.
Vagando aos sete mares do deserto,
Vagando pela sombra em sua voz,
Fazendo de seus sonhos meias léguas
Que o levassem sob o centro da memória.
Um viajante que trilhava as desventuras.
Velha criança que se perdeu no horizonte,
Lá nas cores, sobre o logro de seus dias,
Lá no ventre do oceano, um coração.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
CRIADORA DE SÍMBOLOS
nem consigo segurar o que sinto
Expressão de forma cabalística
Mil formas de pensamentos "sem sentidos".
É porque é bom.
Adoro brincar de Deus!
Mas crio coisas "inúteis"
sufocando os meus instintos.
Indefinindo, confundindo os olhares.
De vulgo luxurioso
vocabulário reprimido.
Comunicação bloqueada,
numa tênue reflexão,
de tanto buscar o clímax...
Afasta-se,
nefasta
e nada.
Pois se contenta com burburinhos;
de honrarias fáceis.
Destruindo o verdadeiro
templo da salvação
de uma criadora de símbolos.