Meu corpo,
esta imunda porção
de células natimortas
se autodecompõe ao pesar
dos anos insanos que passam
regados desregradamente
entre mesas, álcool, copos
e putas que flagelam
minha alma errante de ser.
Meus tecidos epiteliais
desfibrilam-se em soturnos bacanais.
Meu hipotálamo mudou-se há tempos
para o lado mais obscuro da vida.
Meus olhos macambúzios
debaixo dessas pálpebras ébrias
teimam em desvirtuar o horizonte.
Minhas pernas me levam sempre
ao bar mais próximo da morte.
Meus sonhos são recheados
de covas de terra fria
procurando aplacar
a embriaguez em que me encontro.
As vozes que ouço são murmúrios
e lamentos satânicos dos que
diuturnamente me acompanham
nessa empreitada sem volta
que a cada amanhecer se renova.
Amarildo Maciel. Ilustração: Boris Karloff como o monstro de Frankenstein.
Um comentário:
Amarildo Maciel: os brutos também fazem poesia!
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