domingo, 17 de agosto de 2008

Mascarar

optei pelo disfarce
em minhas contas não conto a verdade
consta que procedo correto

decido a ludibriar o que sinto e penso
(e só de pensar me vem a máscara)
finjo que tudo é etéreo
e que a vida é bonita

de nada vale a carícia
quando precedida pela, e precedendo a explicação
vale o gosto que não se prova
vale a dúvida que não esmorece

o disfarce é a maneira covarde de anunciar tristeza
a que não se anuncia ao primeiro olhar
e tudo passa por belo
por proveitoso
e aceitável

quando me vires novamente
não me digas a verdade
essa serve ao que não anseia e não vive
digas o que faz bem
e assim talvez o disfarce desfaleça

sabes bem que em meu peito bate disfarçado um luto
a luta perdida no afastar-se
na diferença

se eu me chamasse cômodo
e o mundo fosse em camadas
esperaria
esperaria
esperaria

e fico aqui
um eterno dissimular das sensações que não raciocino
elas são meu ser e minha ausência
de pecado e de vivacidade
e que só me serviram para não viver
viver