sexta-feira, 27 de março de 2009

AO MACHADO























Como quem toma vinho
pra ficar embriagada
certa que é passageiro
e o dia seguinte quase nada

Era assim que te gostava!

Feito língua no sorvete
eu te gostava. Falo!
Feito moça indecente
eu te falava. Calo!

Eu te gostava perto do normal
dentro de mim apenas,
como se fosse carnaval

Mas o sol se antecipou ao dia

Feito o êxtase de uma balada
na noite de uma segunda-feira
na alegria da madrugada
e já sofrendo pela terça-feira

Era assim que te precisava

Feito quem chora saudade
eu te precisava. Fato!
Feito fosse realidade
eu flutuava. Ato!

Eu te precisava e não era banal
tão imprescindível
feito rabanada no natal

O dia não lembrou da noite

Como quem encontra realejo
e vendedor de abacaxi
como se todo o antigo peso
fosse perfume de alecrim

Feito sabor de cicatrização
dos dias de espera e ansiedade
Feito calcinha de algodão
eu te gostava isenta de sanidade

Mas a noite lembrou de amanhecer

Eu já te gostava com escândalo

Hoje tudo que posso
É te gostar, sendo eu o sândalo



Barbara Leite

quinta-feira, 26 de março de 2009

O SOL EXPLODIDO


















Belo. Tão lindo que a cidade dá passagem, estende calçadas, exala cheiro, cobre de folhas de suas árvores a sua cabeça boa, pensante, charmosamente babélica, de uma inteligência estarrecedora.

Cosmopolita. Do tipo que não pede passagem, chuta a porta, expulsa invasor. Ri ácido do que é comédia, malicioso, delicioso.

Em Minas encontrei meu ouro, horizonte de resplandecente sol que explodiu na minha face sempre vermelha quando em frente ao sorriso dele. Nunca tive dúvida e sei que sou mineira. Com o brilho dele, agora está claro, sou uma brasiliense falsificada, meu negócio é profundeza, minério, Minas. Atrativa Minas em mim.

Eu não exibo da vovó só os olhos, extraí dela a vontade. Meu uai tem cabimento!
E me deixei ser presa de um fera que pega e faz, assim , sem explicação. Pega e enlaça, abrange, envolve, não tem escapatória. - (Denise Machado)

segunda-feira, 16 de março de 2009

Ruínas.



Quando já não está escuro - o céu.
Esqueces de abrir os olhos;
Finja-se de morta - então -, e mais nada.

Estás esquecida, e isolada - não morta -, tal qual uma infeliz.

Ele - aquele -, mesmo doente;
Derrubou nos mares os sete véus de sua desgraça- bem merecida, eu diria;

Opiniões e decisões - ventanias tão calmas quando tu estás dormindo;
E a exceção à minha regra, não se habilita para o combate.

A Idade, não é mais Média - tua velhice engana os tempos;
Ventos - ainda -, que tu chama de furacões em desova.

Essa cria que nunca nasce - empate. Pra tu e pra ele.
Ambos doentes...
Ambos sãos de si mesmos...

Todos somos enganados.
Todos.

domingo, 15 de março de 2009

BLÁ, BLÁ, BLÁ


















E falo do gás
como quem trás

seus uis e ais
alargando umbrais

de estreitura voraz
- capricho mordaz -

das musas más
que vivem no cais

atracadas no loquaz


Lanoia.

sábado, 7 de março de 2009

ASTRID





















Ensaio fotográfico de Astrid Kirchherr, primeira fotógrafa dos Beatles.


O muro apresenta mil mãos
pintadas, pregadas
paredes em multi-cores:
amarelo, branco e azul.

Zeppelin
voa em céu cinza
e só pensas
que a arte em metal é bela:
fumaça, argamassa e chuva.

Na praça, mãos dadas,
com teu avô
que lembra poesia e bordéis
de amor supremo
em prêmio
que não paga o dote.

A aspereza, o rigor, a sorte
desprezas em passos largos
demais para tuas pernas,
que esperas
não esperem mais.

A revolução fez-se em ti
numa noite de verão.

A escuridão é azul!
O vermelho é paixão
Numa cartilha de esperança,
um poema de Drummond.

Quando o dia de amanhã te veio,
colheste flores de murilo
para enfeitar teus cabelos azúis.

sexta-feira, 6 de março de 2009

PAULISTÂNIAS


















(I)
**************
meu Despertador
é um pássaro
que bota sons
e choca ouvidos.
**************

(II)
*****************
todo edifício
é um inseto:

com casco de pedra,
asas de vidro
e antenas metálicas.
******************

(III)
******************
celular é um retrovírus
que viaja no ar
mensagens mutantes.
******************

Anderson H. Ilustração: cena de Metropolis (1927), de Fritz Lang.

quarta-feira, 4 de março de 2009

AMOR

















Aos pouco você se mostra
feito o outono
que chega manso
pra levar o sol
para passear
enquanto
as folhas caem
para o inverno
entrar.


Sirlei L. Passolongo

CAMELOS VOADORES


















.

camelos voadores riem da minha cara
olhando ao espelho quebrado vejo vozes amareladas
outra manhã nesse recinto pouco arejado
sabor e cheiro suave de pão de queijo com mousse de maracujá

bate-se a porta ao lado
é outro ser que desperta enquanto o sol ainda não brilha
diálogo é o último desejo de quem deseja dormir
mas acordado louvamos a aurora borrada de branco

luzes cintilantes internas me ofuscam
daquilo que pretendia colorir
mas agradeço o ar poluído que exalo
deito e repouso nesse travesseiro de pedra.

Éffe

terça-feira, 3 de março de 2009

BLUE TUESTDAY























As velhas cores que cercam
admitem agora outra forma.
E a luz que meus olhos fitam
metamorfozeia-se em natureza morta.

Vistas extraordinárias!
Panoramas mentais
em árvores bicentenárias
e seus caules de idéias más.

As novas cores cores diferem
da básica justificativa existencial.
A razão de as interferirem
metamorfozeia-se na busca original.

Amores um tanto difuzos e fáceis
bebem-se entre o suor anestesiado.
Odores surpreendentemente táteis
copulam alucinações em raro estágio.

Em êxtases de ansiedade contínua.
Querer sentir-se: será essa a única razão?
O pós-orgasmo da resposta anfetamínica
metamorfozeia-se na crença que não.



Suzy Freitas. Ilustração: capa do disco More - Pink Floyd (1969). Trilha sonora do filme de mesmo nome (More - 1969), de Barbet Schroeder.

segunda-feira, 2 de março de 2009

BORBOLETA E MARIPOSAS























...a mãe uma borboleta
nem flor nem pássaro
uma borboleta

...o pai era um sorriso
embriagado dos perfumes
das mariposas

...as mariposas uma nuvem de putas
que se equilibrava sobre a aura de nossa casa

...a casa ora a oração da mãe
ora os perfumes das putas do pai

...eu era invisível
como o ódio da mãe
e o sorriso perfumado do pai

...um dia a casa caiu
sobre um forte temporal
vi minha mãe partir em silêncio



Calaça