quinta-feira, 14 de abril de 2011

OLHAR DE FURACÃO



















Revi seu olhar

No olho do furacão


Mas resisti


Seus lábios Calados

Fadados a me levar


Como um desatino


Seu corpo queimava

No sopro a me entreter


Mas me contive


Seus lábios falantes

Falavam palavras pelo ar


Me resguardei


Refiz meu altar

No centro do coração


E desisti


Calados meus lábios

Deixaram-se levar


Pelo desafio


Meu corpo teimava

Seu sopro entrever


Lhe contive


Meus lábios farsantes

Caçavam palavras no ar...


Me guardei


Remei no espaço


Mas era tão vago


O teu olhar


Que nada pude

fazer



Jair Fraga & Sonia (Anja). Ilustração: furacão Katrina.

sábado, 9 de abril de 2011

O ÚLTIMO ENREDO DE CHICO CHAPÉU






















...

>.


Cerrou

os olhos ontem depois de uma roda de samba , o poeta

chiquinho, conhecido pela alcunha de chico chapéu.

o bamba do samba da vela era cobra criada porreta,

jovem ainda vistoso, maciço de poesia, um bom menestrel.


Chico

tinha aquele andar de onça mansa suçuarana,

um gingado dançante de asas moles, mas um porte bacana.

ainda ontem o tinha visto num barzinho, na esquina do molejo

disse olá para ele e toma-mos uma branquinha com torresmo.


No

morro da malagueta, hoje a dor é mais ardida e veraz.

no meio da multidão, por entre acenos e lenços brancos,

escorregava o féretro do poeta Francisco da Silva Ferraz.


Foi-se

o Chico com seu chapéu e sua sombra incandescente,

iluminado. O nosso faquir africano sambou, brincou e foi brinquedo.

ao repique da bateria, o morro cantou seu último samba enredo



Calaça. Ilustração: Cartola.