quarta-feira, 31 de outubro de 2007

O SOL















Sol que ilumina meus dias,
clareia minhas idéias,
aquece meu coração
e transforma meu sofrimento passado
em nova forma poética,
nova emoção.

Faz meus versos
raios condutores
do calor do amor.

Faz da minha poesia
remédio puro
para minha vida (minha dor...).


Beto Reis

DOIS PENSAMENTOS PARA O DIA (31 de outubro, Halloween)




















1. A cerveja e a cachaça são os piores inimigos do homem. Mas o homem que foge dos seus inimigos é um covarde.

2. Você sabe que está ficando velho quando o trabalho começa a dar prazer e o prazer começa a dar trabalho.


Beto Reis

SUPER-REAL






















"Cruzando o céu num uniforme azul, com capa vermelha..." Foi assim que eu sempre me imaginei! Muito pouco me faltava, vivia enfrentando os "Luthors" da vida e correndo atrás de "Lanes" piquetenses. Sempre que passava pelas pessoas, ouviam-se murmúrios admirados: "É um louco?...", "É um doido varrido?..." Mas, sempre havia alguma pessoa bondosa que dizia: "_Não, é Super-Beto!..."
Minha cruzada de defensor dos frascos e comprimidos ia muito bem. Até que um dia, numa euforia desmedida, alcei vôo do telhado da casa de minha avó. Foi neste momento que enfrentei a mais cruel das minhas inimigas: A Realidade!
Eu tinha tudo para vencê-la, porém, ela tinha uma aliada, a famigerada Gravidade. a batalha foi homérica. Até tive a impressão de estar ganhando. Foi quando o solo tocou o meu corpo, que descobri que não se pode viver só de sonhos.
A "Realidade" é boa, basta que se saiba como domá-la e tirar o que, de melhor, 'Ela' pode nos oferecer.



Beto Reis

NAU FRÁGIL























E lá...
Em meio à chuva,
em meio ao vento,
fazendo água,
soltando tudo!
Fazendo nosso
o seu tormento.
Esperando e querendo
o apocalíptico cavaleiro
que, de posse da foice,
ceifaria do pranto
a planta que forma
o seu cativeiro.

Só queria que o vento,
esse voraz elemento,
tornasse sua vida,
seu pranto...
e a ferida...
não mais que lembrança
da bruta vingança
da Mãe Natureza.
Queria que o fogo,
emissário vilão,
levasse seu corpo
pro fundo das águas,
na vil solidão.


Beto Reis. Ilustração: A Caravela - Salvador Dali.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

JORGE TEIXEIRA, JOÃO PAULO, VAI?!...














Somos feitos de solidão e porra!
Ele só tinha grana pra uma cerveja equeria foder uma boceta também. Quebrou ali a Frei José dos Inocentes e descendo devagar a velha Mauá. Entrou no primeiro inferninho que viu e foi sentar-se na mesa dos fundos, no escurinho. Pediu a cerveja. Haviam duas tvs, uma de putaria e outra só de porrada e ele se ligou na de putaria, bem na cena em que um negão enterrava fundo o seu pau enorme no cu tesudo da putona branca. Se tivesse grana agora pagaria uma puta igualzinha aquela. Abriu a braguilha e puxou o pau pra fora, dando início à masturbação. Há anos que não tem uma foda decente. O mesmo buraco escroto da mulher. Depois dos quarenta parece que tudo seca. Qualquer dia desses, a enteada ia levar a dela. Ia pensando em coisas estranhas enquanto punhetava-se. A puta branca do filme agora chupava loucamente o pau imenso do negão e ele se admirava com a cena, de como ela engolia tudo aquilo e ainda conseguia sorrir. Ah, hoje mesmo daria cabo da mulher e descabaçaria a enteada de oito. Amasturbando o pau com mais rapidez, parecendo querer arrancá-lo de seu corpo. Não chegou a gozar não. Um infeliz qualquer vendo aquilo soprou pro Cabeça de Bigorna, que foi até ele tomar providências:
_Não pode isso aqui, não! Paga a cerveja e cai fora!
Guardou o pau melado de volta, pagou a cerveja e deixou o bar. Na porta ainda parou e pensou: "Tudo pela metade, cerveja, punheta, a vida..." Olhou a rua. "Aonde ir agora?" Pensou no Paulista, que sempre lhe fiava uma dose. No caminho, uma puta velha e gorda lhe chamou para o banho.
_Só se for de graça _respondeu _Tô duro! Amanhã te pago!
_Vai te foder, seu fudido! Quero que teu pau caia, seu fudido de merda! _rebateu a puta.
"Porra! Fudido de merda! Enfiasse logo um espetinho de gato no peito!" Entrou irado no bar do Paulista e suplicou uma dose.:
_Porra, Paulista, só uma dose, velho!
_Tu nunca tem grana, porra! Assim tu me quebra, caralho! _retrucou o paulista.
Papai Noel sorriu do seu canto. Foi quem pagou a dose e disse:
_Volta lá e resolve a parada.
Tomou a maldita de uma golada só e seu rosto todo tremeu. deixou o bar e fez o caminho de volta. Apanhou um espeto sujo do chão e se aproximou da puta velha, que distraída pintava os lábios com batom. deu duas estocadas consideradas em seu rabo gordo e flácido e ela soltou um urro de bicho e começou a gritar, mas ninguém veio em seu socorro. Ele então subiu, na boa, para descansar na Praça do Pau Mole e por um instante olhou um céu vomitado e pensou: "Fudido é a mãe!" Quando chegasse em casa ferraria mesmo de vez com a patroa e arrancaria o cabacinho da enteada de oito, que graças a Deus, nunca o chamou de pai. Perto dali, o boca de ferro passava gritando:
_Jorge Teixeira, João Paulo, vai?!



Márcio Santana - Crimidéia.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

SOBRE OS DESTROÇOS DA LITERATURA



















Muitos tentam definir e escrever sobre a literatura de hoje, mas poucos realmente a entendem. Para se entender a literatura atual, temos de compreender o que aconteceu com a literatura nos últimos 50 anos. Em primeiro lugar, todos os grandes movimentos estético/literários recentes remontam a um período em que não havia televisão. O cinema era a única mídia visual. Revistas e jornais exigiam leitura e mesmo o rádio tinha de apelar para o preciosismo no texto, que tinha de ser bonito e soar bem aos ouvindos dos rádio-espectadores. Era um tempo ainda, por definição, literário.
Com a televisão tudo mudou. A imagem entrava em contato direto com o espectador, não dando a ele maiores oportunidades de interpretação. A literariedade sofreu um duro golpe. Ninguém estava mais interessado em textos longos, com estéticas sofisticadas. A mente das pessoas se acostumou à informação direta. A preguiça de ler proliferou-se.
A literatura teve de dar seu jeito para continuar existindo neste mundo audio-visual. No que tange à prosa, ela simplesmente adaptou-se ao cinema. Contos e romances passaram a ser escritos, invariavelmente, como se fossem roteiros de filme.
A poesia, por seu lado, simplesmente foi engolida pela música. Os novos poetas eram todos músicos: Beatles, Bob Dylan, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil... E até mesmo Vinícius de Morais, que escreveu vários livros de poesia, antes de tornar-se um dos fundadores da Bossa Nova, acabou por encontrar um novo lugar para si na música.
Sendo assim, tudo o que se escreve hoje nasce de uma imensa lixeira onde foram jogadas as tendências passadas. Os escritores com mais de 40 anos ainda cultivam o neo-parnasianismo da geração de 45. Para falar a verdade, a maioria esconde a própria incompetência por trás de uma poesia calculada. O haikai se tornou um hábito entre eles, uma espécie de máscara perfeita para a preguiça de escrever. Além de uma possibilidade de posar de erudito.
Os que estão na faixa dos 20 e 30 se inspiram, nas gerações de 22 e 30, nas tendências do século XIX (romantismo, simbolismo e naturalismo) e naquilo que se convencionou chamar de "literatura marginal", que tem raízes nos anos 30 e foi moda nos anos 60 e 70. A qualidade do que a maioria das pessoas desta faixa etária escreve é realmente questionável, mas há exemplos de extraordinário talento. Reúno neste blog alguns destes talentos. Na verdade, a tendência é surgirem mais talentos, até porque a Internet se tornou uma nova mídia literária, pois une imagem... a texto!!! Sendo uma mídia interativa, que permite uma participação autônoma e direta do indivíduo, como nenhuma outra forma de mídia jamais permitiu, a Internet hoje é um espaço para pessoas que gostam de pensar, discutir, refletir e, acima de tudo... LER E ESCREVER!!! E este espaço está criando uma nova geração de escritores.
O trabalho destes novos escritores, sem que eles mesmo percebam é de reerguimento da literatura. Exatemente por isso, não devemos esperar algo totalmente novo, antes sim, a atualização das antigas estéticas e tendências. De qualquer forma, está vindo ai um novo apogeu literário.




Marcelo Farias. Ilustração: A Grécia Expira Nas Ruínas De Missolonghi - Eugène Delacroix.

domingo, 28 de outubro de 2007

CRIMIDEIA



















No aparente vazio ocular da noite _um pouco mais de duas, creio eu _Vinha ele com sua armadura arranhada. Seu corpo transbordava cervejas e desgostos. Reclamou ao vento: "_Noite gélida, mugido de brisa, estrelas mudas, um céu de luto. Tudo tão deserto e compacto". Uma última golada e gritou: _Voa! _E o copo vazio voou na liberdade do ar e ele achou tão bonito o rodopiar daquele corpo que, se ele fosse um xamã, congelaria o tempo daquele salto. Mas o objeto se rebelara se espatifando no chão de pedras, espalhando infinitos cacos bem em frente ao famigerado Teatro Amazonas. Feito isso, seguiu torto o seu caminho com a fogueria de Dante crepitando dentro dele. O que ele não contava é que naquela noite estava sendo vigiado pelos micro-olhos da cidade, tal e qual um romance de Orwell, de modo que seu comportamento vandalesco-irreversível era sem dúvida intolerável aos olhos da lei. Já ia bem distante do crime, quando eles frearam o carro e de dentro saíram furiosos e armados.
_Encosta ali! _Eram homens grandes e maus.
_Quê que eu fiz?
_Depredação de patrimônio!
_Não depredei nada!
_E o copo infeliz?!
Sim, a merda do copo. A alma encolheu-se de medo dentro da armadura arranhada. Vestiram-lhe as luvas, deram-lhe um sermão e passearam com ele pelo quarteirão até a cena do crime. Chegando lá, fizeram ele juntar os cacos um a um. Eles eram enormes e maus. Não havia outro jeito. Ele juntou os cacos. Feriu os dedos. Eles riram. As estrelas também. Depois o liberaram e só então ele pode descer a avenida, sossegado, rumo ao puteiro. Lembrou que restavam alguns trocados para o conhaque sujo. Entrou. Horas depois, abraçado a uma puta linda, de menor, abafou o choro e fez promessas de casamento.



Márcio Santana - Crimideia. Ilustração: Abssinto - Edgar Degas.

INCONGRUÊNCIA











_Absurdo!

Os retângulos deixam um espaço para tudo.
Tudo que se encaixa nos retângulos vive bem.

Os retângulos mais modernos são muito bem elaborados:
ar condicionado, inúmeras suítes, sala para visitas,
piscinas aquecidas e banheiras espumantes.

Nos retângulos maiores ficam os que são jurídicos,
o engraçado mesmo é que eles não são físicos.

Muitos físicos ficam ao redor do retângulo vendo se há vazamento,
ou se há alguém que não paga tentando entrar, no retângulo.
Há também os físicos que entram sem pagar.

Cada retângulo tem dentro um bar, esqueci de citar,
Ballantine's; walking; luz de neon.

Quanta mordomia, essa da vida retangular!
Até os feixes de luz são inéditos.

Ousadia seria querer viver num quadrado,
credo, o quadrado tem os quatro lados iguais.


Gabriela Nieri - Fragmentada http://www.periperciasdegabi.blogspot.com

sábado, 27 de outubro de 2007

Como um Vulto Perdido























Sou como um vulto perdido que espreita a luxúria
Em cada esquina imunda da cidade amarga e obscura.
Pernoito com o gosto do álcool e do beijo perdido
E mergulho em camas sujas com o corpo ferido.

A angústia enamora-me em crasso coito
Em gestos apáticos de um perdedor afoito.
Sou um poeta caótico, desiludido por este mundo-cão,
Buscando na carne a minha vã reflexão.

Gozo com o sangue sacrílego de meus desejos
Na língua profana de minha poesia maldita
Que vomita em meus versos um anjo caído.

Penetro embriagado na insatisfação eterna
Na busca por cousas que já não mais existem
Dentro de meu frio, turvo e herege coração.



Do livro Orações Licenciosas de Romulo Narducci.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

RESSURREIÇÃO DE BACO






















Entrego minha alma aos deuses...
para me livrar de um abismo
dentro de mim.
Não consigo preencher o infinito.
Fragmentos de sonho e do meu ser
flutuam no espaço da minha memória,
como peixinhos do aquário em lençóis d'água.
A minha existência como água,
minha consciência alga e peixe
num oceano de fatos.
Busco a terra.
Sou um peixe fora do aquário.
Quero desvendar as nunvens que
Sobrevoam aquela montanha!
Quero o silêncio! Quero o escuro!
Quero me desintegrar!
Quero o caos! Quero a "morte"!
Quero renascer.
Quero a luz que perdi
em caminho ou encruzilhada.
A terra é a vida. A terra é absurda.
Não há caminhos sem volta.
A única porta que se fecha para
sempre é a da vida (morte).
Ninguém vai saber,
ninguém quer saber,
porque as linhas da mão são tortas
e as marcas da testa profundas.
Em que ângulo queres enxergar?
"Agora a poesia é coisa de certos?!..."
Corretas são as pregas do cu,
que quase nunca são vistas.
Não digo não! Eu digo sim.
E quem sabe eu jamais torne a repetir
que eu preciso da tua luz
do teu abrigo fraternal,
da tua essência.
Ar de folhas de fatos da floresta incendiada
pelo fogo que surge da fatal inocência...
E me cobre com teu cobertor de estrumes,
sufoca-me com teu esplendor fatal,
mas não me mace com seu beijo de ternura...
que quanto mais eu te espero terminar o banho,
mais eu sinto vontade de tomar suco de uva podre
e te encontrar na noite de roupa branca...
para fazermos um bacanal dos diabos
e alucinar a mente dos espectadores.


Pollyanna Furtado - À Margem da Luz. Ilustração: antiga máscara usada para a comédia no teatro grego.

INTOXICAÇÃO


















Intoxico-me com teu suor...
Prazerosamente me pousa apto o ópio...
Arruína-ma, colméia dignitária...
Absoluto ou obsoleto... advinha o advogado...
Frustrado em cólera, rouba o óbulo do mendigo...
Em fleuma e sem superstição, almeja o óbolo do apropriado...
Ambos sucumbidos e desajustados, se distinguem os apropriados...
O bilíngüe de voz rouca e o caramanchão.


Pollyanna Furtado - Fractais

DOIS CORPOS























Eu tenho dois corpos:
um de carne,
um de mente.
Um se alimenta de ilusão,
outro se alimenta de desejos.
Um é da terra e da água,
outro do ar e do fogo.
Um foge,
outro procura
a existência in aeternum.
Um aspira,
outro inspira
o ar e a criação,
o cálice e o veneno,
o vinho tinto derramado.
Uma gota de lágrima,
uma gota de acth.
Um gosto de audácia,
um gosto de ausência.


Pollyanna Furtado - Fractais

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

BACANTE


















As uvas encerram o segredo da noite.
O sengue da noite circula em sua carne.
Colhi minhas uvas no antro da noite
E vi minhas mãos tremerem de febre...
Febre!

(Um látego frio lambeu-me na espinha!)

Em verdade, em verdade vos digo,
Bebei deste sangue e não morrerás!
Bebei deste vinho e não passarás!
Ainda que o tempo e a vida se escoem,
Bebei deste sangue e não passarás!

_Toma, Pedro! Pega e toma!
Este é o cálice do meu sangue,
O sangue da nova e eterna aliança,
O sangue da dança!
Que é dado por vós em memória de nós!

(Um copo de vinho se abre à minha frente...)

_Ah, arte da noite que vem e que chama,
que inflama na mente a luz de um flama!
_Ah, flama caliente que queima e profana
a alma da gente que louca se dana!...

_E nunca viste?!
E nunca viste o festim noturno?!
E nunca viste o sabbath da noite?!
_E nunca viste?!

A Lua convida no vinho do céu,
Estrelas derramam seu leite de luz,
As fadas cirandam envoltas no véu
de sombras da noite que enlçaça e seduz.

Um manto de sonhos bordado de imagens,
De vagas miragens que nascem do espectro.
_Ah, mágico espelho, te vejo nas márgens
Da taça em que bebo teu sangue abjeto!

_Um brinde!
_Um brinde a mim!
_Um brinde a vós!
_Um brinde a todos nós!
_Um brinde à louca demente!
_Um brinde à mora indecente!
_Um brinde a tudo que fui!
E ao que serei, bem mais que não fui!


Marcelo Farias - Para Entender a Mágica

AO LEITOR


















A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez
Habitam-nos o corpo e viciam-nos e spírito
E adoráveis remorsos sempre nos saciam,
Como o mendigo exibe sua sordidez.

Fiéis ao pecado, a correção nos amordaça;
Cobramos alto preço da infâmia declarada
E alegres reotornamos a estrada lodosa,
Na ilusão de que o pranto as nódoas todas desfaça.

Na almofada do mal, está Satã Trimegisto,
Quem docemente nossa alma consola
E o metal puro da vontade se evapora
Por obra deste sábio que age sem ser visto.

É o Diabo que nos move e manuseia!
Em tudo que é imundo, encontramos uma jóia,
Caminhamos dia após dia para o Inferno,
Sem medo algum da treva que nauseia.

Assim como o devasso beija e suga
O seio murcho da velha rameira,
Roubamos ao acaso uma carícia alheia.
Para espremê-la como a laranja que se enruga.

Espesso, fervilhando um milhão de vermes,
Em nosso crânio um povo de demônios cresce
E, ao respirarmos, aos pulmões a morte desce,
Rio invisível de lamentos leves.

Se o veneno, a paixão, o estupro, a facada
Ainda não brodaram com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arricou pouco ou quase nada.

Em meio a hienas, serpentes e chacais,
A símios, escorpiões, abutres e panteras,
A monstros sibilantes e viscosas feras,
No lodaçal de nossos vícios ancestrais,

Há um mais horrendo, mais iniquo, mais imundo!
Que sem grandes gestos ou sequer um gemido,
Da Terra, com prazer, faria um só detrito
E num bocejo engoliria o mundo;

É o tédio! _Com olhar esquivo à mínima emoção,
Que fuma cachimbo e sonha cadafalsos.
Tu conheces, leitor, este monstro delicado
Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão.


Baudelaire - As Flores do Mal. Ilustração: Charles Baudelaire, em foto de Neyt.

PECAR























Pecca fortite - Martinho Lutero


Qual a idade do pecado?
Não sei!...
Talvez quinze, dezesseis,
Talvez...
Talvez treze, talvez doze...
Talvez...
Talvez trinta, trinta e seis,
Talvez trinta vezes seis!...
Talvez!...
Vou pecar!
Pois pecar é humano.
É insano!
É legal!
É ilegal...
Pecar é o verbo conduz minha existência.
Quintessência
Do viver e do amar:
Errar!
Pecarei mais de cem vezes,
Pra depois de tantas vezes
Ir pecar mais uma vez...
Outra vez...
E depois me condenar!
O rosto de frente ao espelho,
Uma culpa no olhar...
Como é doce e bom pecar!...


Marcelo Farias - Ilustração: Jody Foster.

domingo, 7 de outubro de 2007

PROSTITUIÇÃO - POR QUE UM PROBLEMA SOCIAL?














No Brasil, prostituição é um problema social. Problema discutido por políticos e acadêmicos, que buscam para ele uma "solução". Para muitos, educação seria esta "solução". Poucos brasileiros sabem, no entanto, que na Holanda e no Japão a prostituição é um serviço reconhecido e protegido por lei. Já nos Estados Unidos, ela tida como crime. O Brasil adota, portanto, uma postura diferente da americana, mas não menos preconceituosa. Apesar do preconceito, a "profissão mais antiga do mundo" existe em todas as sociedades civilizadas sem que as pessoas saibam sequer sua origem. Para início de conversa, ela não é a profissão mais antiga do mundo, antes dela veio outra: a de sacerdote e sacerdotisa. As sacerdotisas foram as primeiras prostitutas, pois transavam com os fiéis para realizar uma cerimônia específica que representava a união sexual entre duas deidades que encarnavam o princípio masculino e feminino. Tais rituais aconteciam na Índia, no Egito, na Mesopotâmia e, é claro, na Grécia e em Roma. Esta prostituição ritual era parte do culto de Vênus (Afrodite na Grécia), cujas sacerdotisas eram todas prostitutas. Fora isso, em várias sociedades, como na Índia e na Síria, as mulheres saíam à noite para se prostituírem como forma de arrecadar dinheiro para pagar uma promessa à uma deidade, ou para comprar o próprio enxoval de casamento.
As sacerdotisas dos templos eram escolhidas entre as famílias aristocráticas. As mulheres pobres, que quisessem posar de sacerdotisas e realizar o culto da união espiritual, poderiam fazê-lo... do lado de fora do templo! Tal fato criou a famosa "zona do baixo meretrício", que mesmo no Ocidente cristão é, tradicionalmente, sempre próxima à igreja (os templos atuais). As sacerdotisas pobres eram chamadas de hierodulas (serva, ou amante sagrada, em grego) e junto com elas também circulavam travestis, prestando o mesmo serviço. O que demonstra que a prostituição homossexual é igualmente antiga.
Mas não eram apenas as sacerdotisas que transavam em troca de dinheiro, a condição feminina era, por definição, de prostituta. Devo lembrar que o verbo prostituir, em latim, significa "mostrar", "pôr na vitrine". Sendo assim, uma prostituta era uma mulher posta à venda. Nas sociedades antigas as mulheres possuíam um valor em dinheiro e bens. As filhas da aristocracia valiam muito: terras, ouro, palácios... As mulheres pobres valiam menos que uma vaca, tanto que seus pais literalmente às vendiam como mercadoria a seus futuros maridos. É desnecessário lembrar que uma mulher virgem valia bem mais que uma "já usada". Nas famílias ricas, realizava-se uma festa assim que a menina tinha a primeira menstruação, para que seus pretendentes barganhassem sua "mão" (sua posse) com o pai. Esta é a origem da festa de debutantes, que convencionou-se festejar aos 15 anos.
As mulheres não tinham direito sobre si, porém, se por algum motivo, perdiam a família e o marido (caso comum nas guerras), estavam livres para pôr o seu próprio preço. Essa era a origem das hetairas, "prostitutas de luxo" da Grécia, que viviam em pequenas repúblicas de mulheres, palacetes mantidos por elas mesmas. As mulheres pobres, no entanto, iam dar seu preço no porto, para os marinheiros, ou nos mercados. Como vagavam pelas ruas, "sem dono", eram chamadas de vagabundas. É preciso lembrar também que muitas mulheres (e mesmo rapazes) eram escravas destinadas ao prazer sexual. Na Grécia essas mulheres eram conhecidas como pornai, donde surge o termo pornô, pornográfico, pornografia. As pornai podiam mesmo ser algudas pelos cliêntes. Em Roma, tais mulheres eram conhecidas como lupas (lobas, possível origem do termo moderno "cachorra") e seu lugar de moradia era o lupanar.
Foi com a ascenção do cristianismo que a prostituição se tornou um estigma no Ocidente. Devido a seu problema com o eros, o cristianismo invariavelmente condenou a prostituição. Muito embora os cristãos costumem buscar na bíblia o argumento contra a prostituição é necessário lembrar que para os judeus esta não era um problema, desde que a mulher não fosse goi (estrangeira, não judia), uma vez que as goi prestavam culto à deidades que não eram o Deus dos patriarcas. Mas para os cristãos, uma vida paltada pelo erótico era, por si só, pecaminosa e errada. É assim que tem origem o "problema" da prostituição.
Tida durante séculos como condição vil, a prostituição chegou a ser classificada como uma "doença mental" no século XIX. Foi só no século XX que ela passou a ser vista como uma função fruto da vontade da própria pessoa. Mesmo assim, poucas são as sociedades modernas que a aceitam. No Brasil, a grande líder do movimento das prostitutas é Gabriela Silva Leite, que criou a griff Daspu. Se você deseja saber mais sobre Gabriela e sobre o movimento das prostitutas brasileiras, entre no site http://www.beijodarua.com.br/.
Minha opinião sobre a prostituição é de que é muito preconceito chamá-la de "problema social", porém desejo saber a sua. Mande sua resposta, vamos debater este assunto.



Marcelo Farias