segunda-feira, 23 de novembro de 2015

BÁRBARAS

Poetisa Bárbara Leite sendo ela mesma.


Poetisas são meninas
mulheres
velhas
árvores que escrevem
nas rugas do próprio tronco.
Pitonisas ciganas
do amanhã
que o ontem conhecem
como um antigo amor.
Poetisas são
a Rosa do Pequeno Príncipe,
Pandora
Cora
Cecília
Bárbaras!
Que manam leite e mel.


quinta-feira, 19 de novembro de 2015

CANDELÁRIO

Candelário sempre fora um tanto tímido e recluso. Desde cedo seus melhores amigos foram os livros. Na Universidade (formou-se em Letras) conseguiu criar o círculo de amigos que nunca tivera na infância e adolescência. Os amigos o admiravam muito e o tinham quase como um guru. 
Não fosse o hábito de ir à biblioteca pública todos os dias ao fim da tarde, não teria conhecido Eliodora, sua esposa. Ela começou lhe oferecendo um café, depois uns biscoitos, um bolinho feito pela mãe, comentou autores e livros de sua preferência, até o assunto chegar na poesia e ele a lhe recitar os poemas que em horas vagas escrevia.
Do primeiro café, até  os primeiros poemas foram seis meses. Os outros quatro meses foram de amizade. Os seis  meses seguintes, de namoro consentido. O noivado durou pouco mais de um mês, porque a noiva não quis esperar mais.
Casaram-se e tiveram seis filhos. Que até a altura em que estou narrando, lhes deram dezesseis netos. Destes, quatro atrapalham sua leitura na biblioteca, após o jantar em família, para celebrar o recém noivado da filha mais nova.
Feliz e avô, Candelário conversa com seus netos:
_Vovô, quando vai ser o fim do mundo? _pergunta Eliandra, de 12 anos.
_Não se sabe o dia nem a hora, minha andorinha. Isso só Deus sabe. Não se aflija com essas coisas. Viva bem sua vida e seja feliz. Pessoas felizes são boas e pessoas boas vão pro Céu.
_Vovô, é verdade que a Alemanha e a Inglaterra vão entrar em guerra? _indaga Zé Roberto, de 11 anos.
_Ninguém sabe direito, meu filho. Guerras não começam da noite pro dia. Penso que ainda está longe disso. Mas não se aflija, isso acontece na Europa muito longe de nós. Aproveite a vida e realize seus sonhos, pois vivemos em paz e há tempo para você fazer isso.
_Vovô, como é o Céu? Pra onde a gente vai quando morrer? _investiga Pedrinho, de sete anos.
_O Céu e um lugar muito bonito, mas só contempla sua beleza quem hoje vive lá, ao lado de Deus. Não se preocupe com isso, meu menino. Você ainda é muito criança. Obedeça sua mãe, coma bem e cresça forte e com saúde. E quando crescer, seja justo e honesto, pois quem não deve não teme.
Por fim, Benito, de apenas 03 anos, vem lhe trazendo um livro aberto, curioso com um mapa.
_Ah, aqui é a Itália, meu pequenino. E esta aqui é a África... _explica Candelário com satisfação.
Nesta noite feliz de 1901, vimos Candelário aos sessenta e sete anos. O tempo passou, os netos cresceram e, mesmo sem saber, fizeram tudo exatamente como Candelário dissera para fazer. 
Assim, quando a Primeira Guerra veio, não tiveram medo, pois sabiam estar no Brasil, longe daquele conflito. O fim do mundo não lhes parecia próximo e a busca de uma vida correta os fazia tranquilos, sem medo do Inferno após a morte. 
Candelário morreu aos 91 anos, três dias após o Natal. Seus netos já tinha maturidade para lidar com a perda e para reconhecer como é importante saber aproveitar e valorizar a paz.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

ANTÔNIO



O nome do primeiro eu não sei pronunciar. Apenas digo que vivia numa caverna, na França, por volta de 30.000 a.C. Gostaria de dizer que foi exímio caçador e que sua múmia foi encontrada em excelente estado de conservação. Mas não, morreu tão anônimo quanto a maioria dos seus pares, mas deixou uma marca de mão na parede de uma caverna. Já na época possuía pendores artisticos e literários.
Após várias encarnações como obscuras mulheres artesãs e cheias de filhos, ele aparece como hebreu que deixa o Egito e chega à Terra Prometida, liderado por Moisés. Sua vida foi então de oleiro. Mas em todas as posteriores foi prostituta, até surgir como pedagogo, na Grécia, ao tempo de Sócrates.
Escravo foi durante várias vidas, até ser o marceneiro que parou para ouvir os estranhos e profundos discursos de um companheiro de ofício, Jesus. Agora finalmente temos um nome, Ezequiel. Que poderia ter morrido martirizado e se tornado santo, mas morreu bestamente, quando um camelo tropeçou em um cachorro novo, que latia o tempo todo, e então desabou sobre ele. Morreu na hora!...
Talvez por isso tenha encarnado tantas vezes no Cáucaso, bem longe dos camelos. Só como armênio, encarnou dez vezes. Depois parece ter-se encantado com o Oriente e foi rendeiro hindú e monge budista do templo Shaolin.
O veremos novamente como o capitão Franz, que morreu aos 36 anos, na primeira Cruzada. Talvez cansado do claustro e das armas,  viveu como trovador por três longas vidas seguidas.
Chegou então a fase cigana. De 1355 a 1498, comeu porco, bebeu vinho, cantou, dançou e andou a Europa toda de carroção. Nasceu três vezes na Romênia e uma na Espanha.
A batina e o além mar porém lhe convocaram a ser Pedro, Miguel e Alonso, nascidos na Espanha e missionários jesuítas em São  Paulo, Minas Gerais e Bahia, respectivamente.
Foi Quintino, vendedor de quitutes feitos por sua mãe, quando fez amizade com Tiradentes. Morreu porém jovem, de malária, antes dos vinte. O que talvez o tenha inspirado a ser Leopoldo, amigo de Álvares de Azevedo, que morreu de tuberculose antes que seus poemas pudessem ser publicados. 
É neste momento que se torna o libertário tipógrafo Antônio, assassinado aos 31 anos, por jagunços liderados pelo filho de um fazendeiro, que odiava os abolicionistas.
Como o professor e poeta Deodato também viveu pouco, mas teve a honra de um singelo livro publicado: Poemas D'Orvalho, onde oscila entre o Simbolismo e o Parnasianismo. Os amigos o definiam como romântico.
Já como o inquieto Alceu, foi boêmio, amante do samba e das letras, no Rio dos anos 30. Professor de língua portuguesa e literatura brasileira e jornalista, preferiu morrer servindo nos campos da Itália, do que nos porões do Estado Novo.
Os porões da Ditatura Militar, porém, não o pouparam como Felipe. O incendiário produtor de fanzines subversivos, morto sob tortura no DOI-CODI, em 1971.
A mistura da fé cristã com o nomadismo cigano e jesuíta, as vidas como trovador e poeta do "Mal do Século" e o dinamismo combativo como jornalista engajado, geraram o meu grande amigo Flávio Mello. Ex-gótico, que hoje milita apenas na educação e nas letras, devoto que é em cultivar sua linda família.

domingo, 10 de novembro de 2013


  A Persistência da Memória - 1931, Salvador Dali.




Eu
gostaria que estes anos
fossem poesia
dos anos 80,
escrita por um quarentão
de 30,
que lembra dos 60.

Um pedaço de queijo 
me faria feliz,
Mr. Stevenson.

A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

ANJO




Os demônios são anjos caídos
e te chamo de anjo.
Não estaria em perigo?
Não estaria contigo no fogo do inferno,
achando que é o Céu o calor que me abrasa?
Qual a distância entre o Céu e o chão?
O céu toca o chão,
o chão toca o céu
quando em montanhas se ergue
a paixão que em mim
te faz anjo...
Anjo caído.
Anjo bom.
Anjo mau.
Anjo qual
uma estátua que venero.
Pagão...

sábado, 23 de março de 2013

A FADA QUE FUGIU PARA ROMA





À Giuliana Caliri

Da praia nublada de inverno
saiste de pés descalços
e puzeste os tênis para Londres.

Tu vens de Amsterdam
e lá só foi tua estadia.

Sorrias no café de Paris
e agora estás tão arredia,
tão contrariada.

Tristeza
é não ver-te em Portugal,
em Roma,
tirando fotos
enquanto os deuses te contemplam.


Marcelo Farias


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

TRIP



Vermelho entre o azul e o rosa.
Luzes vão do Paraíso.
Só o mistério persiste,
escondido que está
em minha nova cena.

Não entendo nada 
neste momento.
Do Letes bebi 
e tudo me vem 
em sonhos.
Anotações não serão anotadas.

Você pode explicar um carinho de mãe?
A terra me convida a esquecer
e dormir até um novo dia.

Amanhã será bem melhor.


Marcelo Farias.