segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

O GRANDE POEMA






















Marcelo Farias - Para Entender a Mágica.

POEMA ÁGUIA


















Não procure rima.
Não busque métrica,
nem prosódia exata,
nem um quê de nexo
nestas linhas trêmulas
que se transfiguram
como réquiens incólumes
de uma estação da alma.

Pois aqui temos
um poema embriagado,
hipnotizado, em versos,
por uma sensibilidade
sem sombra e sui generis,
indelevelmente imersa
na intrepidez das letras.

Trata-se portanto,
de um poema-águia,
cujas asas trôpegas
são apenas sonhos
sobrevoando, pasmos,
a imensidão do céu
em perspetivas cósmicas
e sem estrelas guias.

Ou talvez, um poema-peixe
nadando nas profundezas
de um oceano emocional,
no qual o tempo, em si,
seja tão somente onda
eletromagnética de sentimento.

Por tudo isso,
não procure lógica
neste poema insone,
neste poema-águia,
que se esvaiu
e naufragou, assim,
sem temer o tempo,
sem correr o vento,
sem olhar pra mim.




Marcinha.

PÉTALAS


















Me desfaço em versos
como se fossem pétalas...
Sentindo o cheiro das palavras
a embriagar o papel em branco
e com a cor dos sonhos
pincelam o vazio, gravam no tempo
rosas e espinhos...
Depois as pétalas voam
como se fossem pássaros
em busca do ninho.



Sirlei Passolongo.

domingo, 30 de dezembro de 2007

NESCAU














Não vivo um discurso,
eu vivo o que vivo!
Sou mal estudante
e me orgulho disso.
Não falo do calvário,
pois sou romano.
Não falo dos sertões,
mas de filme americano.
Cresci tomando Nescau
e não leite de cabra
e minha cabeça europeia
se recusa a ir pra África!
Moderno, vou pro oriente
e quem no ocidente me quer
prender por condição,
não é ocidental,
pois não tem paixão!
Marcelo Farias - Ultramodernidade.

VAMPIRO






















A alma,
outrora ressequida,
vertia lágrimas.
Sua imagem
refletida
as escondia.



Muryel. Ilustração: Max Schreck em cena de Nosferatu, de F. W. Murnau, 1921.

sábado, 29 de dezembro de 2007

VIA CRUCIS














Seguro com as mãos, paredes invertidas,
pervertidas pelo mofo gerado entre os tijolos
da minha própria vida.

Ah! Tijolos de tal olaria!
Dela veio o barro ordinário, em mim posto.
Imposto com larvas, mescladas com a lama.
Que não me queria...

Fui assim feita em patamares grudados com lodo.
Sumariamente cerzidos tortos.
Construídos como se constroem as lápides profundas.
Cuja a forma não importa,
pois o suposto é que nada vêem,
insetos, vermes, mortos...



Heloisa Galvez. Ilustração: trecho da crucificação de A Paixão de Cristo, de Mel Gibson.

FALAVRA






















De Guimarães
tatuei Rosa,
mas não me entenderam
o traço.

Não importa.

Nos espinhos
descobri que sangro
em latim.


Muryel. Ilustração: As Damas D' Avigon - Pablo Picasso.

LUA VERMELHA


















A Lua se vestiu de prata,
tingiu o céu de estrelas
e se escondeu de repente,
para que ninguém
pudesse vê-la...
Depois do beijo do Sol,
a Lua ficou vermelha.


Sirlei Passolongo.

CRIANDO























São estouros
por toda parte:
restos de sonhos,
rastros, atrasados,
de pássaros mentais,
asas de pensamentos.
Bombas de puro devaneio.

E os sons,
de luzes e sombras,
naufragados
em lembranças
e gestos,
traz à tona
borbulhas psíquicas
do que posso ser...
do que sou...

Que sou?
Quem sou?
Por que sou?


Beto Reis.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

VISÃO JUVENIL



















Sentado, ali, na pedra,
imóvel, insensível
às variações do tempo,
ele observa o astro
que, dia após dia,
vê ser depositado
ao longe,
nas montanhas.

Sentado, ali, na pedra,
vê as tonalidades avermelhadas,
no céu pintadas,
e acredita ser mensagem
daquele que não tem imagem.
Ele admira a paisagem,
mas sabe que um dia
tudo pode acabar.

Sentado, ali, na pedra,
parado,
se sente frustrado
por só ver o Sol se pôr.
E sem fazer idéia
que só basta o corpo girar
e o "nascer do Sol"... contemplar!



Beto Reis.

ELEGIA JUVENIL



















I remember when rock was young,
me and Suzie had so much fun...
Elton John - Crocodile Rock


Eu era feliz à tarde,
quando você sorria para mim,
cabelos voando ao vento,
dourados ao pôr do Sol.
Seu vestido estampado de flores
esbanjava cores e dizia sim!
E um céu estrelado de anjos
ninava astronautas na Lua.



Marcelo Farias - Ultramodernidade.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

ENTRE DEUSES E HOMENS

















Se eu fosse acreditar
em tudo o que dissesse a tarde triste,
na certa, estaria morto.
Nada pior do que o cinza
do céu em dia de chuva.
Porém, não mais que uma briga
de Zeus com Hera no Olimpo
(decerto, não nos diz respeito).
Os deuses brigam lá em cima
e nós, inquilinos de baixo,
mal podemos reclamar.
Vou fazer uma petição!
Uma queixa!
Um abaixo assinado!
_Não perturbem por favor!
Não temos culpa de nada!
Já pagamos o condomínio
da Terra, do Céu e do Inferno!
Querem nos deixar sonhar?!...



Marcelo Farias - Para Entender a Mágica.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

BARCO DE VELA (canção)























À Elon Veleiro


Olho a Vila Santa
do barco de vela,
com ruas de pedra,
com gente sincera,
espero amanhã
poder chegar nela.

É uma viala antiga
de velhos sobrados,
de doces amores
de tempos passados,
por mil trovadores
em versos cantados.

Sua gente humilde
tem vida pesqueira,
faz lindas fazendas
que vende à beira
da praia da vila
em dias de feira.

Queira Deus que o vento
me sopre na vela,
me leve nas ondas
pra vila tão bela
que há tempos se esconde,
que tempos me espera.


(refrão)

Manobra barquinho
em direção da vila,
a vila do Senhor.
Manobra barquinho,
chega bem a tempo
onde está meu amor.

Deixo a Vila Santa
no barco de vela,
com muitas saudades
de tão boa terra,
espero algum dia
poder voltar nela.



Marcelo Farias - Para Entender a Mágica.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

2008 te espera...respire!



Um pedaço de carne
Crua, em brasa, em cruz
Tomado de assalto
Por um tempo ruim...
Um pedaço de sonho
Banhado em sangue
E sonho medonho...
Em vão.
No ano bom preciso
Fechar as feridas
Que a vida criou...
Achar tempo bom,
Um amor...que não arda.
Um pedaço de brinde
E um copo, um tim tim...
Vem ser feliz,
Apodreça teus medos
Em mim...


Feliz Natal e um bom 2008.
Que vcs sejam muito felizes!

O OURO DE NICOLAU


















Quando tu deres esmola,
não saiba a tua mão esquerda
o que fez a direita.
MATEUS 6, 3;

São Nicolau, jogou suas moedas de ouro,
adentro de três janelas.
A primeira janela era de um banqueiro
e ele aprisionou as moedas em um cofre.
A segunda janela era de um político
e ele as usou para suborno.
A terceira janela era de um marceneiro.
Como ele só sabia modelar a madeira,
derreteu o ouro e modelou jóias,
as vendeu, sustentou sua família
e acabou por virar joalheiro,
tornando-se muito rico.
Como nunca soube quem jogou as moedas de ouro,
ele passou a dar presentes às crianças pobres no Natal,
mas sem que elas percebessem.
Assim, elas aprenderíam a modelar o ouro da esperança
que só se encontra dentro do coração.



Marcelo Farias

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

URUBU























No alto ele voa
negro,
nobre.
Sereno de ter comido
morte,
vivo.


Marcelo Farias - Para Entender a Mágica.

domingo, 23 de dezembro de 2007

ALQUIMISTA





















Ar,
fogo,
céu
e Terra.
Água turva de meu vaso
de orquídeas venenosas.
Em meu quarto vão e escuro,
transo minhas bruxarias,
minhas iras,
meu intento cobiçoso
de sorver a mão de Midas
e viver eternamente.


Marcelo Farias - Para Entender a Mágica. Ilustração: o bode de Mendel, símbolo da alquimia.

sábado, 22 de dezembro de 2007

TEMPO



















Talvez eu seja, simplesmente, como um sapato velho...
SAPATO VELHO - Roupa Nova.


Graça e vigorosidade,
beleza e jovialidade,
foi durante a mocidade
e eu não tinha mais idade.

Muito jovem se mostrou.
Vida dura transformou...
Sei que nunca tencionou
mas meu mundo remodelou.

Adeus, linda menina!
Que o tempo transformou.
Não és mais a pequenina
que ao meu ego torturou.


(poema escrito em 1991, quando era seminarista e vivia minha primeira crise vocacional).


Beto Reis.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Desamor














Good bye to you, Charlotte Kringles too,
I've had enough for one day...
Summer 68 - Pink Floyd, Athom Heart Mother, 1970 (composição, Rick Wright).


A musica já não se escuta. O papel queimou, a caneta falhou. E o amor?
Suco de morango e leite condensado, dois pastéis, risos, o canudo balançando no copo, olhares. Olhares tímidos, apaixonados, límpidos, transparentes. Quatro mãos que matavam a saudade.
– Cuida de mim pra sempre?
Um beijo. Um ano.
Em um ano pode caber uma vida. Ou duas. Ou meia vida. Talvez meia história. Meio romance, quem sabe? E a outra metade, onde fica? Deixou-se levar por essa onda forte, deixou-se dominar por essa esperança intensa, por essa vontade mútua de ficar e não pensar em nada. Perdeu o mistério, a sagacidade, o ar de superioridade, o orgulho. Esqueceu as chatices, as paranóias, as inconstâncias. Transformou-se. Virou-se do avesso. Qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora, qualquer coisa que sente saudade. Só mulher. Afim de amar e ser só mulher.
Mas agora o remédio universal fazia efeito. O tempo passou, rasgou o combinado, cancelou as juras, instalou a dúvida.
Levantou-se da cama, foi até a porta e sentou-se na grama. Papel, caneta e lembranças. Algumas estrelas e o absoluto silêncio da noite. Uma grande lua tímida tentando mergulhar no magnetismo da terra. Ela tentou mergulhar, tentou ficar não só nas superfícies das relações, dos amores, das crenças. Afogou-se. Fundiu o que a vida tem de poético e de fugaz. Quis não estar em seu lugar, quis não estar em lugar nenhum. Doara-se por inteiro, entregara-se. E agora chorava. Só chorava. E agora, só, ela chorava.



- Duda de Oliveira.

DEVOÇÃO























Tenho devoção a ti,
santo milagreiro...
anjo sem asas...
Possua-me com seu olhar!...
Que me faço tua fada!



Sérgio Santal. Ilustração: Escravo Morrendo - Michelangelo

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

HELENA























Minha geração se acostumou a escrever em diversos estilos,
só para provar que sabia escrever em linhas diversas.
Vou escrever como meu coração manda.
Dentro de um estilo errático, diferente de tudo.
Não vestirei a camisa de ninguém além da minha mesma.
Há muito tempo que briguei com meus professores.
Brigarei com meus amigos também,
pois querem ser bons estudantes.
Escreverei blá, blá, blá e mais alguma coisa.
Alguma coisa além das coisas além que foram escritas
até agora!
Algo modernista ainda reside em mim.
Ultramodernista, se é que existe isso
e se não existe passa a existir agora.
Ultramodernista, supramodernista serei agora.
Algo surrealista além de Dali.
Em cubos pinto janelas fotografadas
em diversas dimensões.
A musa olha para o além
porque está apaixonada por si mesma,
narcisista, hedonista, edenista, pornô!
Seu espelho é o maior amor
de que possa compartilhar.
No imenso salão do céu e vastidão desértica,
amada por todo horizonte ela pula,
dança, se desloca, rebola, toma
o mundo inteiro de assalto!
_Ó, musa louca do além!
Quem foi que te impediu o costume
de desnortear toda a escrita?
Só Eliot te amou plenamente e, ainda assim,
só Dali te transfigurou.
Teus seios se insinuam
querendo lábios ardentes,
querendo bocas e dentes
em tua bunda, teus quadris,
em tuas ancas e carnes,
tua barriga, teu umbigo,
tua pele branca, leite manchado
pelo triângulo invertido castanho
entre tuas coxas helênicas. Helena!
És Helena de Tróia nua!
Enlouquecida, sem Paris,
sem guerra, sem Menelau.
Que coisa louca existires.
Puta! Plena! Divina!
Senhora de todo o amanhã!




Marcelo Farias - Ultramodernidade. Ilustração: Jovem Virgem Auto Sodomizada Pelos Cornos de Sua Própria Castidade - Salvador Dali.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

NÁUFRAGO



















Tudo o que escrevo é tão pequeno,
insignificante, fugaz...
O grande poema é indeclamável,
a grande poesia não cabe em nós.
Ela é tão imensa quanto o oceano,
tão distante como o albatroz,
voando sobre a tormenta,
enquanto a nau se desfaz.
E eu não sou que voa,
sou o que se afoga,
sou o que morre,
que jaz em paz.



Marcelo Farias - Ultramodernidade.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

VULTO























Ainda não é noite, mas a luz do Sol já não se faz notar. O caminho está deserto. Eu estou sozinho.
Sombras de um tempo passado e penúmbras de um suposto futuro, encobrem a visão do caminho a seguir. Por sorte, ainda há uma trilha de rimas que, em outros tempos, inadivertidamente, deixei para me guiar. Afinal, este é um caminho que conheço muito bem. Por este caminho, já emocionei muita gente, aborreci outros muitos, alegrei alguns amigos, homenageei entes queridos e amigos partidos, busquei respostas e criei algumas, declarei amores e eternizei paixões, voei, cai, rolei, parei e pensei, ou simplesmente, passei.
Mas hoje um vulto me segue por este caminho. Um vulto amórfico formado por ódios, frustrações, medos e uma crescente ignorância tardia. Este vulto parece querer me atrair para seu lado. Ele tenta me inspirar, mas de um modo inverso à tudo que já fiz. É como se uma barreira, invisível, rebatesse meus versos e pensamentos mais puros. Nada sai de mim, ou consegue seguir pelo caminho. Me desespero ao ver minhas crias agonizando à beira da estrada. No último mês, nenhuma delas chegou muito longe. São versos capengas, rimas manetas e textos afônicos. Uma verdadeira UTI literária. Espero e peço que esta fase de bloqueio literário venha a ser breve...


Beto Reis. Ilustração: Sem chapéu - Magritte

FUGA


















Ando pelo mundo, cansado.
Quanto mais ando, mais cresce o fardo!

Qual será o remédio?

A insanidade não é fácil
e, mudo, deve ser o prudente.

E por mais que conheçamos os danos,
não podemos fugir do engano.

Não fujamos de nós mesmos.




Fernanda Reis.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

PHILADELPHIA











O que acontece nada tem a ver comigo,
é só um ritmo e tudo volta a ser a mesma coisa.
De repente eu apareço com as mãos abertas em fatias,
e cheia de alegria,
dou sinal aos indecisos com o maior apetite no sorriso.
De repente tudo isso se debate, voa, e vai embora
e eu acordo inundada pelo quarto.



Gabriela Nieri - Fragmentada

sábado, 15 de dezembro de 2007

PINGA














Goteja a sobriedade,
Pinga insana:
Embriguez.

Sorvendo o nectar
da ilusão infinita
insensatez.

Sonho de Baco,
realidade temida...
Invalidez.

Pinga!...
Bebida desejada por muitos.
Realidade que se fez!!!


Beto Reis.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

MANHATTAN


















As luzes se acendem.
Um instante mágico no Rio Leste.
E de repente, tudo deixa de ser cinza, tudo deixa de ser breu
E só ao negro da noite é permitido brilhar no céu.
Uma baía de sonhos se abre a quem quer mergulhar
e se afogar com algas,
entradas secretas de rios,
negros cursos concretos,
em riste ao horizonte belo, espero
um dia radiante de Sol, sunday.
Com cem dólares por cabeça
e mil de expectativa,
um milhão de mentes crentes
apostam ganhar o dia.
E quem sou pra desdizê-los?
Pra descrê-los?
Pra negá-los?
Calo!...
O Rio Leste não sonha, ganha!
O dia inteiro e o amanhã.
Meio dia eu tomo um lunch:
Big Mac e Coca-Cola.
Óleo e gasolina preta para o motor não parar.
E sobre um belo horizonte,
ante meus olhos azuis,
um céu de estrelas cadentes
dá-me de brinde um pedido.
And I think to myself,
what a wonderful world...



Marcelo Farias - Ultramodernidade.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007


























À Luiz Bacellar

É melhor falar aos ventos,
ou as paredes de meu quarto,
que falar à gente mouca
que me cerca todo dia
com seu muro de palavras.

PROTESTO MUDO
Marcelo Farias - Para Entender a Mágica. Ilustração: Magritte.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

BANDOLEIRO (Baseado na melodia de Knights In The White Satin)




À Beto Reis, poeta de Piquete.


Vago distante,
vejo pela luz do Sol.
Vago este instante,
pleno pelo azul do céu.
Sigo adiante
sem um rumo a tomar.
Só ao poente...
Mas eu amo!...
Eu amo!
Ah, eu amo!
Eu amo!...
Vou pela estarada
que caminha para o além.
Solto no nada,
minha vida corre ao léu.
Nesta savana
meu destino vai tomar
a caravana...
Mas eu amo!
Eu amo!
Ah, eu amo!
Eu amo!
Sou uma lembrança
que um dia já se foi.
Sou uma esperança
que não sabe se virá.
Sou uma criança
que um dia já brincou,
mas hoje cansa...
Mas eu amo!....
Eu amo!
Ah, eu amo!
Eu amo!...
Sou bandoleiro,
homem sem justiça ou lei.
Sou um sombreiro,
ou talvez a sombra ao chão.
Sou forasteiro
feito de silêncio e pó.
Sou cavaleiro...
Pois eu amo!...
Eu amo!
Ah, eu amo!
Eu amo!
Eu amo!...




Marcelo Farias - Ultramodernidade. Knights In The White Satin - Moody Blues, 1967.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

DESEQUILÍBRIO


Equilibra-se o desequilíbrio.
Perfeita imperfeição.
Desordem mais que ordenada
à qual a própria ordem sucumbe,
fragmentada:
desordenação.




Marcelo Farias - Para Entender a Mágica. Ilustração: Galatea das Esferas - Salvador Dali.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Inevitável


Não quero ir...
Não quero...
Não...
O cortejo,
O choro,
As velas,
A cova,
A reza,
A rosa
E eu...
Pó.

Me

ESTRANHO ENCONTRO COMIGO MESMA



Uma noite sonhei que me penteava em frente a um espelho oval. Eu estava em um quarto grande e antigo. Olhava-me no espelho e penteava os cabelos devagar, com um jeito sofrido. Estava com uma camisola branca, bonita, imaculada dentro daquele quarto sombrio, que me prometia o estupro.
Mirei o espelho e contemplei minha própria imagem. Dando a mim mesma algum tempo, aguardando o inevitável. A porta então se abriu, suavemente, sem nenhum baraulho. Era antiga e pesada, mas não rangeu. Ela então apareceu. Branca, linda e selvagem, imagem e semelhança de mim. Vestia seu vestido vermelho antigo, com arabescos pretos. Parecia um hobby.
Seus olhos vermelhos olharam para mim, como o lobo para o cordeiro. Seu sorriso se abriu e suas presas apareceram. Ela se aproximou lentamente, os olhos vermelhos de fome, me hipnotizando. Eu sabia o que ela queria e sabia o que iria fazer. Ela havia prometido e eu havia calado, consentido...
Ela encostou o corpo em mim e passou a mãos em meus ombros, acalmando sua presa, anestesiando-a. Eu sentia seu calor em minhas costas, através do vestido, da camisola... Ela se abaixou, afastou cuidadosamente meus cabelos, como se fosse dar um beijo em meu rosto, um beijo de irmã... Mas a mordida foi ágil e certeira. Penetrou-me no fundo da alma... e eu senti o sangue escorrer...
Hoje eu penteio os cabelos e olho de frente para mim. Não existem vampiros. Vampiros não são quentes. Não vemos sua imagem no espelho. Mas meus olhos estão sempre vermelhos, sempre! E não sinto culpa, ou peidade... e uma estranha liberdade...




Marcelo Farias

O LOUCO


Sem limites para meus sonhos,
nem barreira para meu desejo,
olho as nuvens em meu ego
e vago pelas trilhas de minha loucura.




Beto Reis. Ilustração: Salvador Dali.

domingo, 9 de dezembro de 2007

O BAÚ


Aprisinado sob o tampo de minha consciência,
guardo, do mundo, tudo aquilo que não gostaria de ver exposto.
Trancado com cadeados e correntes seculares,
empenho-me em me manter assim.
Com sídrome de caixa, fujo das pandoras do mundo.
Sinto-me culpado por meu cárcere.
Sei que minha prisão é um reflexo de meus atos.
Se busco ser bom, acabo fazendo o mal.
Se quero ser honesto, acabo sendo o ladrão que me rouba a paz.




Beto Reis

sábado, 8 de dezembro de 2007

BOTÃO EM FLOR


Tua beleza vem de dentro pra fora,
é uma beleza que aflora
como botão em flor,
que nasce para a vida,
que nasce para o amor.



Marcelo Farias - Para Entender a Mágica.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

SUPER HERÓI




(...) Someone still love you!...
QUEEN - Radio Ga-Ga.


Vítima da vida industrial
do século XX (e um!),
ele sublima sua dor,
salvanado a vida em perigo:
Homem de aço!
Homem sem medo!
Homem mutante!
Homem voador!
Homem de ferro!
Homem morcego!
Homem Aranha!
Super herói!!!
Cidadão oculto e notório,
cuja vida está além do óbvio!
Marcelo Farias - Ultramodernidade.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007


Entre dois mil anos e agora,
Sodoma é qualquer cidade,
Jezebel é qualquer mulher,
o deserto de asfalto é largo
e o mundo jaz no maligno.



EVANGÉLICO




Marcelo Farias - Ultramodernidade. Ilustração: A Torre de Babel - Pieter Bruegel.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

POR DEBAIXO DAS PALAVRAS (A polifonia da mulher)


Toda mulher alimenta sempre um certo desprezo pela... mulher!
Friedrich Nietzsche - Além do bem e do mal.


Mulheres são vulgares quando falam de sexo,
por isso preferem ser pseudo-românticas.
A "entrega" é menos culposa que a sinceridade
(Ser vítima é uma arte feminina).
A mulher teme abrir a boca,
para que não digam que abriu as pernas.
As que abrem, não raro, o fazem
muito mais tarde,
lambuzando o rosto de incesto
para não virarem mortas vivas.




Marcelo Farias - Ultramodernidade.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

POESIA MATINAL


As roupas estendidas no varal.
A velha casa de madeira.
O sabor do vento matinal.
Uma bola, um novelo, uma meia...
e o cachorrinho malhado!
Que não teria significado
se a mocinha semi-nua
não deitasse sobre o chão,
as costas, brancas, ao Sol,
a ler receitas de amar.




Marcelo Farias - Para Entender a Mágica. Ilustração: Jody Foster.

O QUARTO BRANCO


É domingo. Dia chuvoso, dia choroso... Estou sozinho. Tenho às mãos os fragmentos do que um dia será meu livro. O rádio toca soul. Tenho um copo de vodka com limão. À minha frente, o tabuleiro de xadrez, numa partida inacabada.
Entre um movimento no tabuleiro e um gole de vodka, escrevo uma ou duas linhas. Tenho dormido mal e lembranças do que não aconteceu me incomodam. Apenas algo é constante há dias: a imagem de um quarto branco, sem janelas, apenas com uma porta em uma das paredes e um quadro pendurado, na parede oposta à porta.
No quadro, num vasto campo verde, um menino chora, de braços abertos, por algo que perdeu. Seu olhar fixo, fita um horizonte imaginário, infinitamente distante. seus lábios parecem chamar por algo que não virá. Seu grito inaudível, parece ser abafado pelo gesto de saudade, que mostra seu corpo.
O álcool começa a se fixar em meu organismo e o jogo de xadrez começa a ficar simples demais. De repente, me volta a visão do quadro: o menino do quadro se parece muito comigo (só que mais jovem) e o quarto se preenche com uma suave fragância de almíscar. Almíscar?!!... Uma fragrância animal retirada de um veado! (É melhor cortar o álcool).
O vasto campo verde parece ter ficado azul. Mudou de cor como se tivesse mudado de humor. Típico de pessoas de caráter, mas inconstantes e imprevisíveis. Mudo o gênero musical, Raul Seixas parece mais apropriado para meu atual estado psico-físico. O que terá perdido o menino em sua aparente tenra idade? Nesta idade, de valioso, só se perde o tempo. Terminei a partida de xadrez e ganhei de mim mesmo. Mas, afinal, qual a vantagem de ganhar de mim mesmo?.
Sem eu menos esperar, o vasto campo azul fica castanho esverdeado. Me distanciei e percebi que o menino está em pé sobre... não um campo, mas um globo ocular!... De quem será este constante olhar sob "mim"? E se só vejo o olhar, como vou poder identificar o detentor deste inquisitor visto?
Meu braço esquerdo dói intensamente. É o típico sinal de stress emocional (nada que um bom vinho não resolva...). Cheio de dúvidas, olho o quarto mais uma vez. Saio do quarto e tranco a porta. Tranco a porta, mas espero poder voltar aqui, literalmente, e desvendar os mistérios do quarto branco.




Beto Reis. Ilustração de Magritte.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Culpa


Cheguei cansada.
Colhi as flores
Murchas, coitadas,
Descoloridas, empoeiradas,
Pareciam mortas...
Reguei as flores,
Como sangue em carne viva,
Dilaceradas, de pétalas escorridas
No ralo da pia.
Não ressucitaram.
Agora vão me culpar por todas as queimadas da vida.

Me Morte
(foto de Miriam)

NOTURNA


Linda e austera.
O semblante.
Do meu coração
o açoite!
Moça que vejo adiante.
Azul!
Vestida de noite.



Marcelo Farias - Para Entender a Mágica. Ilustração: Nastassja Kinski.

domingo, 2 de dezembro de 2007

DANIEL



À Luiz Ruas


Meu repouso encontrei em mim,
ou em Ti, quem sabe?...
Minha sina era o calmo andor
de um rebanho manso, pensei
e nem sequer divisei a tormenta,
quando as nuvens se fizeram cinzas
sobre a minha cabeça oca...
Sim, aprendi...
Nem só de jejuns, nem só de orações,
nem só de quaresmas, nem só de festas,
nem só de vitrais, mas de cruz!
De sangue escorrendo na testa,
de trave pesando nos ombros
e gostas descendo suaves
(_Ah, vinho com gosto de ferro!...).
E nem pude dizer: _Afasta de mim!
O cálice é minha missão!
E como anjo caído vi,
na arena, entrarem os leões.
E gritei: _Daniel! Daniel!
Fecha-lhes as bocas!




Marcelo Farias - Ultramodernidade. Ilustração: A Tentação de Santo Antônio - Salvador Dali.

sábado, 1 de dezembro de 2007

DESEJO DIVINO


No braços de Érebo
cultivei meus anseios.
Busquei Urano,
esposo de Gaia,
para tentar vencer seu filho,
Cronos.

Sei que seu filho,
arguto dominante do tempo,
usa seu poder,
hoje,
para tornar-me...
Velho!

Peço a Homero,
pai de todos nós (poetas),
a redação de uma carta,
uma ode ao Olimpo,
que me desse
o direito a um pedido:

Ser HEFESTOS por uma noite!!!



Beto Reis

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

1970



Bye, bye, miss american pie...
American Pie - Don McKlin, 1972.


A equipe técnica é moderna demais
olhando o mundo detrás
dos óculos de aros grossos
de cientista no senso.
A Lua é a nova morada
do homem,
da NASA,
do casal de namorados,
ou, mais acertado,
dos lunáticos de plantão,
já que o mundo virou delírio
e tudo é muito impreciso,
como a moda que virou do avesso
e ninguém sabe pra onde vai.
Sim, tudo é futuro!
Tão futuro como num sonho.
O futuro chegou e abriu a porta,
entrou sem bater e sentou-se à mesa,
ultramoderna, com cadeiras de plástico.
A ceia é o passado e o presente,
servidos à moda da casa,
que já não tinha endereço,
"Não tinha teto, não tinha nada!",
como Vinícius cantava, na sua Arca...
E o que será o amanhã?
Incógnita indisponível!
Indiscutível, imponderável.
Improvável como um sorriso
do século XVI.
O mundo se dissolveu...
_E se dissolverá mais?
_E se transformará mais?
E mudará mais e mais
até acabar explodindo?
Até acabar se fundindo
numa chuva de napalm,
num grande Vietnã,
numa guerra nuclear?
Destruindo tudo e todos,
destruindo o tempo,
o futuro,
o agora,
o pra sempre?!
Para sempre!...
...........................

1970 é passado!
Acabado!
Mudado!
Passado...
"O sonho acabou!"
O mundo mudou!
Com o "futuro"... mudou!...



Marcelo Farias - Ultramodernidade. Ilustração - capa de Abbey Road, The Beatles, 1969.

FANTASMAS




À Cecília Meireles


Se fores de madrugada,
poderás vê-los bailar.
Fantasmas! Ao vão luar!
É só íres ao sótão,
ao quarto das coisas velhas
e olhares pela janela
seu vibrante celebrar
da vida que já se foi
e que nunca mais será!...




Marcelo Farias - Para Entender a Mágica. Ilustração: Ensaio - Edgar Degas.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

MY SCARFACE


Baixei umas músicas novas,
comprei uns cds e uns discos,
conheci umas pessoas,
nem dei alarme,
nem dei sorriso:
girei o mundo do meu globo,
sem sair do quarto.
(mas agora eu já aprendi a pular a janela).


I'm tourist, meet me in outer space.



Gabriela Nieri - Fragmentada

A LATA


A minha lata é redonda.
Tudo começa onde termina
e tudo termina onde começa.
O meio pode estar no fim.
O fim, por sua vez, no começo
e o começo em lugar algum.
Seu conteúdo é sólido e líquido.
Seu conteúdo é nada e tudo.
É feita de alumíno e papel.
Sua boca aponta para o céu.



Beto Reis

ISA "BELA"



Fadadas linhas,
que me rolam lágrimas.

Lágrimas de amor.
lágrimas.

Amor a uma pequena
vida... Isa...
Isa... Belle.

Anos de amor e carinho,
alegrias, sofrimentos e cuidados.

Hoje... distante.
Dói... saudades.
Constante...



Fernanda Reis

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Tempestade



Apesar do azul do céu,
Você a vê chegando.
Sabe que vai acontecer.
Sente na pele.

É previsível.

Mesmo que o dia pareça ensolarado.
Mesmo que os pássaros cantem.
A tempestade se anuncia.
O vento corre nas árvores.
Você finge que não vê.
Pois não quer.
Quer aproveitar as suas ilusões
Que o dia ainda está bonito.
Que vai ver um belo pôr-do-sol.

Ignora o vento, os trovões...
Até que o nascimento da tempestade lhe surpreende.
E enquanto o céu desaba,
A água escorre pelo seu rosto.

Você...
Estática.
Parada.
Surpresa.
Muda.


Como se não tivesse visto os sinais...
No seu rosto...
Chuva ou lágrimas?