deliro na paz dos sorrisos alheios,
pelo que sou poeta
e pastor de sonhos.
ando nu na parte do céu que a todos pertence.
ordenho versos selvagens. dou de beber ao amor.
recebo nuvens cansadas no alpendre dos olhos
e estico redes umbilicais para sonos confortáveis.
Jesus passou por aqui.
deixou-me um beijo de espinhos.
agradeço esperando que volte.
é carnaval!
um rojão de véspera assustou o rebanho!
corri atrás da primeira linha. ela desceu a rua principal e
tomou a ladeira da escola de samba em que morreu meu tio.
aboiei sinfônico. a linha não respondeu e a multidão
cambaleou sorriu e babou em minha cara. linhas outras
fugiram do céu e as nuvens se acordaram. uma tempestade
se formou e delirei trovões metálicos. versos em ajuntamento
anunciaram um poema imenso, de fronte negra, passadas largas,
com ameaça de morte. foram três dias da mesma hora de todo ano...
deliro na paz dos sorrisos alheios,
pelo que sou pastor
e apascento versos.
ando nu na parte do céu que a todos pertence.
Anderson H. Ilustração: Hieronymus Bosch - Jardim do Eden.
Um comentário:
Em verdade, em verdade te digo... és muito FODA! Anderson...
(Dionísio te sauda!)
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