domingo, 30 de maio de 2010

MEZEREI, ou misere nobis

















Pai celeste que sois Deus,
tende peiedade de nós.
Filho Redentor do mundo que sois Deus,
tende piedade de nós.
Espírito Santo que sois Deus,
Santíssima Trindade que sois um só Deus,
tende piedade de nós.


Ladainha de Nossa Senhora


Sinto-me corrompido pelo tempo, engraçado dizer isso, tem chovido, e mesmo com tanta chuva (lama, barraco e casa caindo), não tenho sentido outra coisa que não desmotivação existencial. Acho que perdi o quê e os porquês da poesia, se os tive um dia, Jorge Lasar que o diga. Tanto faz, pra mim tanto faz. Acabei de ver Laranja Mecânica, na tevê a cabo, como Beethoven soa bem diante ao sangue e estupro, Stanley Kubrick foi um gênio. Deus me perdoe pelo que direi, mas sempre preferi, dentre suas películas, 2001: Uma Odisseia no Espaço, de 1968, mas gosto é gosto (ah, os dois pontos só estão ai por que fazem parte do nome do filme, e não vou modificar por estética).
Eu adoraria, juro caro amigo, ter a melancolia na alma que vem da voz de Ibrahim Ferrer aos meus ouvidos, mas os fracos que se contentem com suas fraquezas, mazelas e procelas, é o que nos restam, pelo menos a mim. Mas no meu mar de sargaços pouco sobrou do céu azul, e o que vejo é uma enorme poça de sopa fria.
Um garoto acaba de me dizer adeus pela tela do computador, sou dado a amizades pela internet, muitos estudantes de letras, colegiais e afins me procuram, sei lá, devem pensar que sou um guro, um Paulo Coelho moderninho metido a escritor, ser Paulo Coelho deve ser foda, mas pior é te acharem um Paulo Coelho, isso não quer dizer nada, nunca imaginei que um dia citaria o autor de O Alquimista em um texto meu, mas o mundo é dado a surpresas, surpresa maior é o meu nem ai a comparações, desejos e perceguições de pessoas, que se quer vi o rosto, pelo tal MSN da vida. Gosto deles, isso me basta (pensei muito em deletar esse parágrafo), grifo meu.
Voltando ao mar... dele sinto a lágrima, a espuma e a tristeza de um navegar solitário por mundos inabitados dentro de mim.
Tudo que me cerca desperta em mim um desejo incontrolável de busca, um sentimento, o que seria mesmo, não sei como explicá-lo, mas vendo o filme de Kubrick algo afastou o sono e as dores abdominais que ando sentindo, talvez tais dores tenham sido despertadas, como pequenas enguias, do mesmo mar, pela saudade de esposa e filha. Que seja tudo isso, que não me seja nada, que se dane a profecia, ah... que cabeça a minha, tal profecia foi proferida por uma namoradinha, aos 14 anos, no pátio do colégio, Você vai pagar por isso, seu magrelo, estava irritada, vai pagar caro por não me namorar. Que culpa tenho eu se ela era feia, não que eu seja o padrão Madonna de beleza, mas era feia, que culpe seus pais, nem sei como está hoje, nem quero saber, imagine só se estiver linda. O fato é que a vida todo me senti só. Pela profecia, quem sabe, dizem que toda bruxa é feia.
Não sei por que insisto em ouvir fados. Me sinto uma obra de Marcel Duchamp. Me vejo como um cego cantador. Me sinto como um santo sem manto. Me sinto como um coxo sem apoio. Me sinto um hinário na mão de um mudo. Me sinto vazio de tudo.
Eita busca infinita de se terminar um texto de forma bonita. Hoje não bebi, mais um cigarro e cama.



Flávio Mello. Ilustração: cena de Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, 1971.

Um comentário:

MARCELO FARIAS disse...

Prolixo, errático e filosófico: Flávio Mello.