sexta-feira, 30 de março de 2012

BLANCA














Hoje me reservo calar diante destes versos
Ir e sem olhar para trás partir em busca de uma musa qualquer
Me ensopar nas línguas molhadas das ruas
... Num ritual de iniciação para a noite
Voz, cheiro e tempestade temperando a boca da rua que me engole sedenta

Não tenho versos hoje para te oferecer poesia!
Não tenho minha voz alterada
Só este corpo baixa cambaleante mirando
As casinhas enfileiradas que se confundem
Enquanto o que me sobrou do dia ainda me consome...

Um brilho breve e bravo incalculados nos teus olhos
Embriagues desatinada no riso
Entrando em convulsão depois do tédio...
Ver mais


Rojefferson Moraes.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Um Breve Monólogo de Um Bêbado Saudosista

Batem os sinos da nostalgia. Abrem-se os portões lúgubres da saudade. Morrer, viver, seguir a torpes e tortuosos passos num rumo desesperado e inquieto. Caminham com o peso dos corpos ressequidos, ouço os passos no corredor. Vendendo almas vazias a preço barato? O silêncio já não é a paga que busco para a exasperação do infinito que vejo cair como vidraça estilhaçada diante dos meus olhos cansados e arenosos de uma noite mal dormida de bebidas, sexo, risos e lágrimas, onde já não há espaço para poemas e canções antigas. Promessas são esperadas - ofereço o meu corpo -, desmonto todo o ciclo de orações. Sangro. Busco o equilíbrio químico do meu estômago. Veneno na taça? Vinho na veia se dilui com o cansaço do dia. Batidas cansadas do coração. Tão novo ainda... Tão velho amigo do sofrimento. Exílio é resposta? Putaria é solução... Religião, talvez, não! Quantos amigos se voltam contra a pátria? E os sinos insistem na saliência híbrida com as ensurdecedoras buzinas e caos que massacram da poesia a um cálculo matemático. Ah, a nostalgia... Uma bela mulher mostra rugas ao sorrir e continua ainda mais bela. O vinho está acabando. Mas no supermercado vende-se mais sonhos e desilusões engarrafados de todos os sabores, marcas e tamanhos. Respirar é preciso, navegar é perigoso quando se aproxima a tempestade. Sangro. Busco o equilíbrio do corpo. Venta. Os sinos se calam quando me calo embriagado no meu quarto escuro e vazio. A noite se cala. E os portões da saudade se fecham para sonhos indecifráveis.  

Os bêbados ou Festejando o S. Martinho Quadro de José Malhoa
Museu José Malhoa - Caldas da Rainha
http://www.romulonarducci.blogspot.com/