terça-feira, 14 de julho de 2009

O decorrer dos dias.


I

Quando a noite acorda, já é dia;
A estrela é o próprio céu trincado
E os olhares permanecem à deriva;
Das desovas, ou amores desolados.

No escuro nasceram os meus corvos;
Famintos, eles flutuam sobre os ares.
E se, porém, as tais estrelas caíssem,
Um "céu de penas" derreteria sobre os mares.

Quando as ondas lá nos rios conseguem ser
Tão mais mares do que pode se conter
Eis que o sal se acidula com a chuva
E a voz do continente se acentua:
"Do seu contrário e do desejo conseguistes
Faces lentas e quedas d'agua tristes!
Tornar a vir em sua meia volta;
Não é amor que lá na fonte se encontra!"


II

Quando o dia dorme, a noite sente.
O rastro vago e moribundo cala os ares;
E no cair da deslumbrante tarde quente,
As sombras gélidas ainda vagam pelos vales.

Águia - tuas belas asas!
Ao revoar de suas penas - saudosa voz!
Perdeste o ar - onde se escuta!
Em minha taça, tua inocência
A ser brindada com cicuta! - ou resistência!

E lá no mar - nosso calvário;
No aspirar das coisas mortas - o sal;
A onda brilha - o sepulcro!
A serrania despenca aos estilhaços
E os abraços na modéstia da insônia,
Afogam pedras nas velhas preces destes lagos:
"E cá, onde o mármore é líquido;
No brilho lúcido de nossa pureza,
O aroma pútrido de sua alma
Retornará sobre sua cabeça!"


III

No desejar flácido,
Dos bons tempos únicos...!

Por natureza - noite e dia!
Por necessidade - quente ou fria;
Mantive almas - especiarias;
Demasiado sangue a ser jorrado,
Ao puro amargor das vinhas!

Óh, adormecer traidor!
Na hora de se expor - por si basta;
Levas o delírio!
Ou a embriaguez da morte sangrenta,
Que no esfriar dos dedos flutua,
Carregará a sombra nua - sobre meus ombros.


Escrito em 22/06/2009.

Um comentário:

Marcelo Farias disse...

De volta, toda neo-simbolista! =) Estava com saudade, Trish...