terça-feira, 5 de maio de 2009

CHUVA QUE ME BANHA SECA















A cova que me viu passar cantando
Foi cúmplice do mal que me assolava
Na porta que chorava quando entrava
Soluços de degredo quando em quando.

A pá que me enterrou foi posta em riste
Cansada de beber da mesma terra
Da morte que comigo - só - se enterra
Num solo sem amor na face triste,

A chuva que me banha sangra seca
E escorre pelo ralo da indolência
Partida de uma face pobre e seca
Que ri em pleno acesso de demência.

Parti do próprio parto agora pobre
Pra um mundo sem louvor que desconheço
Prefiro estar na peste onde amanheço
A ver o ser hipócrita ser nobre.



dos Anjos. Ilustração: múmia egípicia do período pré-dinástico.

Um comentário:

MARCELO FARIAS disse...

Como sempre, um banho de poesia!