A cova que me viu passar cantando
Foi cúmplice do mal que me assolava
Na porta que chorava quando entrava
Soluços de degredo quando em quando.
A pá que me enterrou foi posta em riste
Cansada de beber da mesma terra
Da morte que comigo - só - se enterra
Num solo sem amor na face triste,
A chuva que me banha sangra seca
E escorre pelo ralo da indolência
Partida de uma face pobre e seca
Que ri em pleno acesso de demência.
Parti do próprio parto agora pobre
Pra um mundo sem louvor que desconheço
Prefiro estar na peste onde amanheço
A ver o ser hipócrita ser nobre.
dos Anjos. Ilustração: múmia egípicia do período pré-dinástico.
Um comentário:
Como sempre, um banho de poesia!
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