os cães ladram nos portões da frente.
seus indomáveis olhos acesos
citam
Ginsberg e Dylan Thomas.
uivam os próprios nomes
e ganem sobre os nervos.
agarrado aos segredos amáveis,
aos senhores admiráveis do tempo,
os observo pela janela;
a caneta febril
querendo histórias,
roupas de couro,
danças dionisíacas
e abraços...
o lápis egoísta
segurando a vida,
a canção,
o contra-urro,
impedindo o xamã
de bailar
ao redor da mesa.
vomito poesia,
imagens contorcidas,
sangue,
demência:
- qual destas sou eu?
o amor
em verso e prosa
vocifera
e fere ouvidos
e narinas:
- doce fera acústica!
nas frestas a carne crua,
esconderijo de demônios,
reza rijos sonhos empedrados
(remédios e calafrios)
os cães ladram nos portões da frente;
unhas de ferro
no quadro negro
riscam e arriscam
um arisco adeus.
acidentes coletivos
matam formigas,
humanos e peixes,
feixes atômicos,
quedas sinfônicas,
parlendas:
a morte não mora
no cercado da fazenda,
não vive de renda,
não emenda uma vida em outra,
{não corre no hipódromo
[espezinha delirantes veias abertas
(não desfila no sambódromo}
os mortos só cabem no fundo da vala])
o céu é dos vivos e atrevidos,
dos jogadores,
das putas bêbadas,
dos sifilíticos em transe,
dos leves e loucos.
os cães ladram nos portões da frente;
arreganham seus dentes brancos,
mordem as grades do pensamento
e informam que as saídas foram devoradas.
Anderson H. Ilustração: cena do filme Sonhos (sequência initulada O Tunel), coordenado por Akira Kurosawa.
2 comentários:
Expressivo demais. Gostei.
Sempre foda, Anderson...
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