sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

SAÍDAS DEVORADAS
















os cães ladram nos portões da frente.

seus indomáveis olhos acesos
citam

Ginsberg e Dylan Thomas.
uivam os próprios nomes

e ganem sobre os nervos.
agarrado aos segredos amáveis,

aos senhores admiráveis do tempo,
os observo pela janela;

a caneta febril
querendo histórias,
roupas de couro,
danças dionisíacas
e abraços...

o lápis egoísta
segurando a vida,
a canção,
o contra-urro,

impedindo o xamã
de bailar
ao redor da mesa.

vomito poesia,
imagens contorcidas,
sangue,
demência:

- qual destas sou eu?

o amor
em verso e prosa
vocifera

e fere ouvidos
e narinas:

- doce fera acústica!

nas frestas a carne crua,
esconderijo de demônios,
reza rijos sonhos empedrados

(remédios e calafrios)

os cães ladram nos portões da frente;

unhas de ferro
no quadro negro
riscam e arriscam
um arisco adeus.

acidentes coletivos
matam formigas,
humanos e peixes,

feixes atômicos,
quedas sinfônicas,
parlendas:

a morte não mora
no cercado da fazenda,

não vive de renda,

não emenda uma vida em outra,
{não corre no hipódromo
[espezinha delirantes veias abertas
(não desfila no sambódromo}
os mortos só cabem no fundo da vala])

o céu é dos vivos e atrevidos,
dos jogadores,
das putas bêbadas,
dos sifilíticos em transe,
dos leves e loucos.

os cães ladram nos portões da frente;

arreganham seus dentes brancos,
mordem as grades do pensamento
e informam que as saídas foram devoradas.



Anderson H. Ilustração: cena do filme Sonhos (sequência initulada O Tunel), coordenado por Akira Kurosawa.

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