quarta-feira, 24 de outubro de 2007

RESSURREIÇÃO DE BACO






















Entrego minha alma aos deuses...
para me livrar de um abismo
dentro de mim.
Não consigo preencher o infinito.
Fragmentos de sonho e do meu ser
flutuam no espaço da minha memória,
como peixinhos do aquário em lençóis d'água.
A minha existência como água,
minha consciência alga e peixe
num oceano de fatos.
Busco a terra.
Sou um peixe fora do aquário.
Quero desvendar as nunvens que
Sobrevoam aquela montanha!
Quero o silêncio! Quero o escuro!
Quero me desintegrar!
Quero o caos! Quero a "morte"!
Quero renascer.
Quero a luz que perdi
em caminho ou encruzilhada.
A terra é a vida. A terra é absurda.
Não há caminhos sem volta.
A única porta que se fecha para
sempre é a da vida (morte).
Ninguém vai saber,
ninguém quer saber,
porque as linhas da mão são tortas
e as marcas da testa profundas.
Em que ângulo queres enxergar?
"Agora a poesia é coisa de certos?!..."
Corretas são as pregas do cu,
que quase nunca são vistas.
Não digo não! Eu digo sim.
E quem sabe eu jamais torne a repetir
que eu preciso da tua luz
do teu abrigo fraternal,
da tua essência.
Ar de folhas de fatos da floresta incendiada
pelo fogo que surge da fatal inocência...
E me cobre com teu cobertor de estrumes,
sufoca-me com teu esplendor fatal,
mas não me mace com seu beijo de ternura...
que quanto mais eu te espero terminar o banho,
mais eu sinto vontade de tomar suco de uva podre
e te encontrar na noite de roupa branca...
para fazermos um bacanal dos diabos
e alucinar a mente dos espectadores.


Pollyanna Furtado - À Margem da Luz. Ilustração: antiga máscara usada para a comédia no teatro grego.

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