segunda-feira, 29 de outubro de 2007

SOBRE OS DESTROÇOS DA LITERATURA



















Muitos tentam definir e escrever sobre a literatura de hoje, mas poucos realmente a entendem. Para se entender a literatura atual, temos de compreender o que aconteceu com a literatura nos últimos 50 anos. Em primeiro lugar, todos os grandes movimentos estético/literários recentes remontam a um período em que não havia televisão. O cinema era a única mídia visual. Revistas e jornais exigiam leitura e mesmo o rádio tinha de apelar para o preciosismo no texto, que tinha de ser bonito e soar bem aos ouvindos dos rádio-espectadores. Era um tempo ainda, por definição, literário.
Com a televisão tudo mudou. A imagem entrava em contato direto com o espectador, não dando a ele maiores oportunidades de interpretação. A literariedade sofreu um duro golpe. Ninguém estava mais interessado em textos longos, com estéticas sofisticadas. A mente das pessoas se acostumou à informação direta. A preguiça de ler proliferou-se.
A literatura teve de dar seu jeito para continuar existindo neste mundo audio-visual. No que tange à prosa, ela simplesmente adaptou-se ao cinema. Contos e romances passaram a ser escritos, invariavelmente, como se fossem roteiros de filme.
A poesia, por seu lado, simplesmente foi engolida pela música. Os novos poetas eram todos músicos: Beatles, Bob Dylan, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil... E até mesmo Vinícius de Morais, que escreveu vários livros de poesia, antes de tornar-se um dos fundadores da Bossa Nova, acabou por encontrar um novo lugar para si na música.
Sendo assim, tudo o que se escreve hoje nasce de uma imensa lixeira onde foram jogadas as tendências passadas. Os escritores com mais de 40 anos ainda cultivam o neo-parnasianismo da geração de 45. Para falar a verdade, a maioria esconde a própria incompetência por trás de uma poesia calculada. O haikai se tornou um hábito entre eles, uma espécie de máscara perfeita para a preguiça de escrever. Além de uma possibilidade de posar de erudito.
Os que estão na faixa dos 20 e 30 se inspiram, nas gerações de 22 e 30, nas tendências do século XIX (romantismo, simbolismo e naturalismo) e naquilo que se convencionou chamar de "literatura marginal", que tem raízes nos anos 30 e foi moda nos anos 60 e 70. A qualidade do que a maioria das pessoas desta faixa etária escreve é realmente questionável, mas há exemplos de extraordinário talento. Reúno neste blog alguns destes talentos. Na verdade, a tendência é surgirem mais talentos, até porque a Internet se tornou uma nova mídia literária, pois une imagem... a texto!!! Sendo uma mídia interativa, que permite uma participação autônoma e direta do indivíduo, como nenhuma outra forma de mídia jamais permitiu, a Internet hoje é um espaço para pessoas que gostam de pensar, discutir, refletir e, acima de tudo... LER E ESCREVER!!! E este espaço está criando uma nova geração de escritores.
O trabalho destes novos escritores, sem que eles mesmo percebam é de reerguimento da literatura. Exatemente por isso, não devemos esperar algo totalmente novo, antes sim, a atualização das antigas estéticas e tendências. De qualquer forma, está vindo ai um novo apogeu literário.




Marcelo Farias. Ilustração: A Grécia Expira Nas Ruínas De Missolonghi - Eugène Delacroix.

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