domingo, 2 de dezembro de 2007

DANIEL



À Luiz Ruas


Meu repouso encontrei em mim,
ou em Ti, quem sabe?...
Minha sina era o calmo andor
de um rebanho manso, pensei
e nem sequer divisei a tormenta,
quando as nuvens se fizeram cinzas
sobre a minha cabeça oca...
Sim, aprendi...
Nem só de jejuns, nem só de orações,
nem só de quaresmas, nem só de festas,
nem só de vitrais, mas de cruz!
De sangue escorrendo na testa,
de trave pesando nos ombros
e gostas descendo suaves
(_Ah, vinho com gosto de ferro!...).
E nem pude dizer: _Afasta de mim!
O cálice é minha missão!
E como anjo caído vi,
na arena, entrarem os leões.
E gritei: _Daniel! Daniel!
Fecha-lhes as bocas!




Marcelo Farias - Ultramodernidade. Ilustração: A Tentação de Santo Antônio - Salvador Dali.

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