terça-feira, 18 de dezembro de 2007

VULTO























Ainda não é noite, mas a luz do Sol já não se faz notar. O caminho está deserto. Eu estou sozinho.
Sombras de um tempo passado e penúmbras de um suposto futuro, encobrem a visão do caminho a seguir. Por sorte, ainda há uma trilha de rimas que, em outros tempos, inadivertidamente, deixei para me guiar. Afinal, este é um caminho que conheço muito bem. Por este caminho, já emocionei muita gente, aborreci outros muitos, alegrei alguns amigos, homenageei entes queridos e amigos partidos, busquei respostas e criei algumas, declarei amores e eternizei paixões, voei, cai, rolei, parei e pensei, ou simplesmente, passei.
Mas hoje um vulto me segue por este caminho. Um vulto amórfico formado por ódios, frustrações, medos e uma crescente ignorância tardia. Este vulto parece querer me atrair para seu lado. Ele tenta me inspirar, mas de um modo inverso à tudo que já fiz. É como se uma barreira, invisível, rebatesse meus versos e pensamentos mais puros. Nada sai de mim, ou consegue seguir pelo caminho. Me desespero ao ver minhas crias agonizando à beira da estrada. No último mês, nenhuma delas chegou muito longe. São versos capengas, rimas manetas e textos afônicos. Uma verdadeira UTI literária. Espero e peço que esta fase de bloqueio literário venha a ser breve...


Beto Reis. Ilustração: Sem chapéu - Magritte

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