segunda-feira, 10 de março de 2008

A ANCIÃ






















Detrás desta pele ressequida,
Ainda bate um coração, ainda pulsa a vida.
Ela insiste e persiste, mesmo quase morta.
Não, por favor, não, não feches a porta.

Sei que minha aparência sofrida,
Meu corpo deformado pelo tempo e coberto de chagas,
Afasta-te, enoja-te, enche-te de asco.
Sei que quando me vês, te causo repulsa.

E meus olhos te seguem enquanto caminhas,
Espreitam-te na escuridão, enquanto te banhas.
Desejam-te, imploram-te um pouco de carinho.
Mas tu te negas e foges de meu caminho.

Olhas apenas a casca envelhecida,
Mas não conheces a alma, que te ama embevecida.
Quem dera pudesses entender, quem dera.
Não viveria sozinha, envolta em quimera.

Um dia, também tu sentirás na própria pele,
O peso dos anos, do tempo infinito.
A avassaladora dor da solidão, que queima e fere.
Não mais a beleza nem juventude, também tu serás um maldito.


By Ana Kaya Cristina

3 comentários:

MARCELO FARIAS disse...

Me lembrou a velha que amaldiçoou Elizabeth Bactory! Muito bom!

Barbara Leite disse...

Nossa, eu arrepiei do início ao fim do texto!
A começar pela foto, que me trouxe lembranças vivas de D. Ana, uma senhora que era vizinha da minha avó, que morreu sozinha e só foi encontrada depois de 3 dias...
A solidão da velhie.
A solidão de D. Ana.
A foto de D. Ana...
LINDO!
PArabéns!

Ana Kaya disse...

E que coincidência, eu tb me chamo Ana e este será nosso futuro, sem tirar nem por.
Eu temo este momento, acho que quero morrer antes de ficar assim encarquilhada e horrorosa e sozinha.
Aqui também Ana sozinha, Ana só na velhice, só não é a minha foto, ainda.......
Obrigada gente, valeu.
bjs

Em tempo, Marcelo tu és um piadista.