quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

PACTOS E CLEMÊNCIAS























Auxilei na construção de uma usina, hoje
fiz um presépio de demônios
e menti beijos para cascatas
Não fui decente, como devia
nem maculei órbitas

minha felicidade perdeu-se em quilômetros de soda
O cão rejeitou meu osso
e fui ficando inquieta, como não devia
a casa pegou fogo e continuei no solo, vadiando sombras
eram futilidades que me possuíam nos sedativos
O cão roeu toda minha praça e comeu as pombas
escrevi uma estória que, certamente
não devia.

Fui declarada inimiga particular das portas
Não compareci em nenhuma aula dos necrotérios de ninfas
nem vendi jóias para os camaleões
a inutilidade sangra como meu único prazer.

Exerci a crueldade, como me foi prometido na última lua
O dia foi belo como um hímen fatigado
Matei bailarinas com dados e teorias psicanalíticas
O funeral acontecerá no meu pulmão e não engolirei flores.


Rita Medusa. Ilustração: René Magritte - La Memoire.

Um comentário:

MARCELO FARIAS disse...

Rita... rasgando como sempre!...