sábado, 15 de março de 2008

das sortes do mundo


queria ter um filho
um filho é a máxima expressão do que se foi
do que se gostaria de ser sempre
um filho resolve a si e a mim

queria ter um filho
metonímia de mim mesmo, sorriso aberto
que se pusesse a rir para me fazer esquecer
que as minhas escolhas foram péssimas
menos ele

queria ter um filho que me enxergasse
não como o homem que lhe guia
guiar não é trabalho que o valha
dava-lo ao cão pastor e feito estava o trabalho
me visse como o herói que não sou
para o mundo que não carece de tê-los
mas o filho vê o que não vê profeta

queria ter um filho
e acreditar que se é feliz quando alguém te diz que é
pois felicidade rareia por essas bandas
queria ter um filho
para me por de novo na vida que é só vida
mas que às vezes esqueço
que é preciso estar de pé
pra balançá-lo no que ele chama "balango"

queria ter um filho pra me ensinar que
a vida não é só trabalhar
mesmo que seja para pô-lo em dia com o bem estar
ele sabe que é assim
"mas pra que tanto?" diria
e eu, cansado, esgotado,
teria energia para correr atrás dele pela casa

queria ter um filho
porque o que se quer
é ser para alguém a sorte que o mundo não te foi
não me deixou ser
queria ter um filho...

3 comentários:

MARCELO FARIAS disse...

Você se apressou, heim, Zé! Este é o poema que deveria abrir o Bacanal no Dia dos Pais. Mas como a beleza exigiu para aparecer agora...

Lucas disse...

Forte, impactante, excelente...

Ana Kaya disse...

Meu Deus que coisa linda, chorei.
Eu tb me sinto assim.
Foi como se fosse feita pra mim.

Meus mais veneráveis parabéns.

Este texto está maravilhosooooooooo