domingo, 21 de dezembro de 2008

DEZEMBRINO


















Dezembrino, faz tempo, vinha rolando aquela idéia feito porronca. Desempregado que era, tinha tempo de andar por aí. Em casa, Saturnia espera puta da vida. Puta mesmo, sugestão do Dezembrino: “como conseguir uns trocos?” na vida, ora porra! No começo não, mas agora, Saturnia até sentia um certo prazer. O que obrigava o marido a sair de casa. Não dava para ficar atrás da cortina e fingir que não ouvia. Era o primeiro chegar e ele abria de casa. E Saturnia, no dia-a-dia, no vamo que vamo, começou a sugerir, exigir, impor coisas que mulher certa não faz. Era um negócio de beijar, pedir mais e até ficar por cima.
Hoje é o dia do Rogério da Balsa. O cliente mais abonado e, coincidentemente o ultimo patrão de Dezembrino. O da Balsa vinha toda quinta as cinco da manhã, e antes de começar o vai-e-vem do Rio Negro, fazia um vai-e-vem na mulher do Dezembrino. Hoje é o dia do Rogério da Balsa.
Dezembrino não podia mais enrolar aquela idéia. Hoje tira o pé da merda ou se lasca de vez. Era só abordar o macho na hora e pegar a grana. Escondeu-se debaixo do barraco e esperou. O da Balsa chegou batendo os pés para limpar as botas. O barro caindo na cabeça do Dezembrino.
Entre Rogério e Saturnia, nem bom dia. Direto pra cama coisas e fazer barulho. O homem debaixo da casa esperando. “Vixe, que é agora!” Sorrateiramente, pega a peixeira e vai pro quarto. O lençol sobe e desce no compasso do coração ferido do Dezembrino. Mira na nuca e enterra firme: “Uh!!” levanta o lençol e o Rogério o encara. Saturnia se debate aperriada e o sangue esguicha.
– Porra, mulher!! Não falei que esse negócio de mulher por cima é coisa de vagabunda, porra!!”


Artur Farrapo