Duda de Oliveira é uma pintora de cenas cotidianas. Pintadas à pena e não a pincel. O dia mais cinza, mais tedioso, ganha vida, cor e profundidade em suas crônicas. Como numa pintura impressionista _qualquer coisa entre Van Gogh e Renoir _ou como a pintura flamenga do século XVII. É incrível como a menina de uma minúscula e tediosa cidade do interior de Santa Catarina (Xaxim), pode se transformar em qualquer menina, de qualquer cidade, de qualquer lugar.
Duda encarna a "crônica diária" da vida feminina (ou da vida em geral) como se o momento mais insignificante fosse uma passagem poética. A vida conta histórias, Duda as reconta para nós. Seu tom vai da suavidade, passando pelo humor levemente sarcástico, até a apereza. Porém, sem nunca ferir o leitor, ao contrário, o encanta!... Soa como uma nota suave, mas precisa. Sua narrativa tem o sabor de um vinho branco seco... porém tão suave que chega a ser doce no fundo...
NOVEMBRO
Foi numa tarde em que Maria foi encontrá-lo na rodoviária. O dia estava lindo e não teria como não estar. Eles eram diferentes e todo mundo dizia que um completava o outro. Todo mundo não, porque quase ninguém sabia. Maria era quase mais alta que ele e, ainda assim, ele era quase intocável. Ele nunca ligava e, quando o fazia, ainda assim, não ligava. Maria o amava, ele se deixava amar. E eles eram felizes assim. Ela tinha bom gosto pra música, livros e cinema. Era orgulhosa, cheia de si. E precisava dele pra se sentir viva. Mas naquela tarde de novembro, Maria ficou imaginando como seria se não fosse daquele jeito. Enquanto segurava a mão dele, pensou em outras mãos e outros corpos e outras salivas e outras ruas e outra história. Enquanto ele quase a amava, ela descobriu que tinha um mundo pra entender e, pra saber das coisas, não mais podia ficar parada esperando ele ligar. O garoto parou de olhar pra rua e olhou pra ela, mas ela não estava mais lá. Maria pensou que morreria, mas não morreu. Aconteceu. Acontece sempre, com todo mundo, o tempo todo. Foi triste como tinha que ser e depois passou, como tudo passa. Maria lembrou disso dez anos depois, numa rodoviária, indo embora. Sempre com essa mania de ir e não guardar as coisas refletidas. Ela lembrou porque, se tivesse sido diferente, doeria igual. Ele ficou lá no interior, criando raízes. Maria saiu voando. E essa história não tem moral.
Foi numa tarde em que Maria foi encontrá-lo na rodoviária. O dia estava lindo e não teria como não estar. Eles eram diferentes e todo mundo dizia que um completava o outro. Todo mundo não, porque quase ninguém sabia. Maria era quase mais alta que ele e, ainda assim, ele era quase intocável. Ele nunca ligava e, quando o fazia, ainda assim, não ligava. Maria o amava, ele se deixava amar. E eles eram felizes assim. Ela tinha bom gosto pra música, livros e cinema. Era orgulhosa, cheia de si. E precisava dele pra se sentir viva. Mas naquela tarde de novembro, Maria ficou imaginando como seria se não fosse daquele jeito. Enquanto segurava a mão dele, pensou em outras mãos e outros corpos e outras salivas e outras ruas e outra história. Enquanto ele quase a amava, ela descobriu que tinha um mundo pra entender e, pra saber das coisas, não mais podia ficar parada esperando ele ligar. O garoto parou de olhar pra rua e olhou pra ela, mas ela não estava mais lá. Maria pensou que morreria, mas não morreu. Aconteceu. Acontece sempre, com todo mundo, o tempo todo. Foi triste como tinha que ser e depois passou, como tudo passa. Maria lembrou disso dez anos depois, numa rodoviária, indo embora. Sempre com essa mania de ir e não guardar as coisas refletidas. Ela lembrou porque, se tivesse sido diferente, doeria igual. Ele ficou lá no interior, criando raízes. Maria saiu voando. E essa história não tem moral.
- Duda de Oliveira.
Marcelo Farias
5 comentários:
Pena que é apenas um pouquinho de você...
Que delicadeza, Marcelo, que coisa linda...
Muito, muito obrigada!
que história triste e bacana
Esse texto é de uma beleza irritante...
Já li coisas dessa garota, e olha, fiquei de queixo caído. Tem uma delicadeza com o trato das palavras que vou te contar...
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