quinta-feira, 15 de novembro de 2007

MARQUESA DE SANGUE


















Menina chechena coberta de sangue e poeira - Heuters


À Monteiro Lobato


Não foi tu quem de pirraça
fez bigodes de grafite
nas damas de Dom Quixote.

E não foi Tia Nastácia
quem pintou teu rosto triste...
com esta expressão de choque...

Teus olhos esbugalhados,
por teu sangue maquiados,
nunca viram a magia,
só a trágica alquimia
dos rojões da aviação.

Em teu sítio sitiado,
por cem mil canhões cercado,
não existe a fantasia,
mas a dor e a agonia
de quem geme sobre o chão.

_Ó, meu Deus, se tu pudesses
escapar ao cerco, enfim,
proferindo em tons alegres,
um simples pirlimpimpim!...

_Por Alá, por que não foges,
sobre a cauda de um cometa,
pra bem longe dos algozes,
pros sonhos de outro planeta?!

_Será pouco a violência?
_Será muita a covardia?
_Será tola a minha ira?
_Será pura?...

_Ah, mas basta!... Que tolice!...
E qual louco que me disse
que tu podes me escutar?
E qual louco que me disse,
que tu podes feito Alice,
da loucura despertar?

Não, não, não! Nem poderia...
Pois nem és aquela Emília,
Marquesa de Rabicó.
És antes lembrança breve
de um frio boneco de neve,
marquesa de sangue e pó...




Marcelo Farias - Para Entender a Mágica

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