sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O RIO QUE PASSA ATRÁS DA MINHA CASA

















À Carlos Drummond de Andrade


Há um rio que passa atrás da minha casa.
Um rio afluente do rio que é subafluente do maior rio.
Um rio sujo, poluído...
Vindo não sei d'onde, que corre pra sei lá,
só sei que o rio se esconde
sob a lama que nele há.
Em dias de temporal ele transborda.
Sobe muito além da margem, como antes não subia,
pois só ia até a borda, nos tempos de antigamente.
_Ah, os tempos de antigamente!...
O rio que passa atrás de minha casa era um grande balneário.
Nele vinha muita gente tomar banho nos domingos,
dias santos e feriados.
É, mas passa o tempo...
E com o tempo enche o rio,
que encheu-se da cidade que passou por sobre o rio!...
Por isso, ele invadiu o terreno atrás da minha casa.
Depois, vazou pro meu quintal, pelas frestas do muro.
Num dia, bateu no batente da minha porta!...
No outro... entrou pela porta sem bater...
Eu tenho que cuidar do rio que passa atrás da minha casa,
senão, o rio que passa at´rás da minha casa...
vai cuidar de mim.




Marcelo Farias - Para Entender a Mágica