sábado, 17 de novembro de 2007

BALADA DO CARAPANÃ















À Elson Farias

De violino afinado
e negro fraque de orquestra,
voava o carapanã
pr'uma noite de seresta.
Deixando, todo elegante,
sua boêmia morada:
Pensão de Sapos e Incetos
- Laguinho D'água Parada,
pra tocar suas trovinhas
bem debaixo das sacadas
dos ouvidos da cunhãs,
que docemente embaladas,
dormiam langues, entregues
aos desejos do hematófago,
que as sugava qual vampiro
mal saído do sarcófago.
_Ó galante Conde Culex,
que reinaste nesta noite,
não percebeste que a Morte
já te traspassava a foice.
_É que o puto, embriagado,
resolveu a certa altura,
ler uma teia de aranha
pensando ser partitura.
Foi, ébrio, chegando perto,
para melhor constatar,
se aquelas notas brilhantes
eram de Mozart ou Bach.
Num tropeço, de repente,
enroscou-se na cilada,
que a engenhosa Papa-Mosca
mantivera bem armada.
C'um zunido de agonia,
despediu-se desta vida,
servindo para a aracnídea
de saborosa comida.
Foi somente de manhã,
que seus fraternos amigos,
encontraram seus despojos,
ressecados e roídos.
Fez-se cantoria fúnebre
no restante deste dia,
comovovendo à toda gente
que ao triste réquiem ouvia.
_Ó pequeno seresteiro,
tu não foste Paganini,
mas tua melodia fina
'Inda em meu ouvido zine!



Marcelo Farias - Para Entender a Mágica