
Não levamos,
não trazemos:
_Tragamos!
pela fumaça da memória:
vai o filho
que parou
de pular na cama
porque cresceu
sem avisar,
o cão amigo,
que de tão velho,
já nem se lembra
de abanar o rabo
magrelo e doente
e o canário
que não mais visita
a janela da sala...
ele não canta,
minha avó
não fala
meu assobio
de forma remota.
Para os afastamentos reais
praticamente tudo importa,
desde o refrigedor
que pararam de fabricar
nos anos cinquenta,
até a última porta
ultrapassada
por Adous Huxley
de forma
monótona,
lenta,
na festança
do terceiro colegial.
Qual era mesmo o gosto da virgindade
e a cor da banalização do querer bem
A vida é um imenso trem cargueiro que se afasta continuamente das estações
principais
e segue para além das pestanas do criador...
Anderson H. Ilustração: iluminura medieval mostrando São Jorge matando o dragão.
Um comentário:
"e a cor da banalização do querer bem"
Isso é uma heresia em forma de verso! Iconoclastia amarga! Você é como uma bebida destilada, ainda não envelhecida, que pode ser adocicada, licorosa, mas que também pode travar na garganta, queimando!
PS: postei com a imagem que você mesmo escolheu, ela realmente capta a alma do poema.
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