quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

DO CONHECER CONCRETO























Conheço os pedaços da casa,
que gemem ao peso do corpo

e o estalar uniforme
e rouco
dos móveis de junco.

Conheço o rubicundo silêncio,
que adorna as paredes contíguas
e o ranger
das portas novas
de madeira antiga.

O choro grave das janelas
e a ação constante do vento
já são das vis aquarelas
um vil elemento.

A gravidade
que vai sobre os pregos,
que dormem na sala da frente,
já são tão ou mais importantes
que os próprios batentes.

Conheço a telha que vê,
mas cala, por caridade,
ante o pio indolente
do afeto e da realidade.

Conheço a ferida aberta
no teto e na minha mala
e a vala
que abriga os sonhos
no nosso quintal.

Mas a ti, meu amor,
a ti, que moras comigo, conheço,

mas conheço muito mal!



Anderson H. Ilustração: Casal - instalação de Magritte.

2 comentários:

MARCELO FARIAS disse...

Você é um surrealista.

ivone fs disse...

Apreciado como arte escrita, que fica na mente gravada...