sábado, 19 de janeiro de 2008

UM POMBO MORTO


















Percebe-se que caiu muito mais que pingos gordos e pesados de chuva, ou tempestade, o que se tem é muito mais que vento frio e humidade escorrendo junto ao embaçado dos vidros dos cafés pode-se ver, sentir, até quem sabe apalpar um tempo escuro e virulento, como momentos antes de uma tragédia iminente.
As pessoas passam esgotadas em tempo, não param, não olham, muitas quase que atroplenado gritam, ofendem os condutores, outras tantas se desligam de tudo e se adentram emaranhados de sofreguidão, não reparam na obras de arte espelhadas pelos cantos da cidade, os prédios, monumentos, propagandas, não reparam nos pingos que caem como resquícios de orbes infinos.
Mas o que vem do céu, não são somente grandes pingos, grandes esferas líquidas de cristal, percebe-se após um estouro, um só surdo, grave, um som de disparo,arma de fogo, o que caiu junto a esses pingos são penas, dezenas de penas acizentadas.
As pessoas passam, não reparam, as pessoas se vão, não notam, mas no chão jaz um pombo morto, um pombo morto que o medingo afoito destrincha imaginando ser seu almoço.



Flávio Mello - Seleção Natural.