quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

SATÃ EM MERCÚRIO É SAL EM ATACAMA



















- Satã em Mercúrio é sal em Atacama. – pensa alto.
- O que?
- Nada.
- Satã o que?
- Satã em Mercúrio é sal em Atacama.
- Que quer dizer isso?
- Não sei. Essa porra de frase anda ecoando no meu cérebro faz uns dias.
- Cada um com suas loucuras... Hei garçom! Traz mais uma aqui!
- È verdade.
- Uma vez – é interrompido pelo garçom que serve a cerveja – Obrigado. Então, uma vez eu tomei um Chá de Lírio e uma frase doida como essa ficou se repetindo na minha cabeça a noite inteira.
- E qual era?
- Não me lembro bem. Estava muito chapado. Era algo assim...- “This is the end gentifull friend” – cantava interrompendo.
- Cale a boca! Era assim...
- “I say hey honey, let’s take a walk on the wild side” – cantava de novo.
- Que se foda! Não vou falar mais nada.
- Que isso, só estava te zoando meu.
- Só.

(Houve um breve silêncio. Os dois secaram seus copos).

- Mas, e aí? Como está se sentindo sendo governo agora?
- Estranho.
- Imaginei.
- Ainda não me acostumei a deixar a oposição.
- Garçom! Mais uma!
- A gente tem uma concepção por toda a vida, de repente BUM! Muda-se tudo.
- Ué? E o Trotsky, revolução bolchevista, Weber, Marx, caminhada dos 100 dias? – gargalhadas.
- Vai se fuder! Não fui eu que li Thoreau e saí dizendo: Hei de tornar-me um misantropo! A Desobediência Civil pra mim não é mais uma doutrina e sim um preceito de vida... Você ao menos deixou de pagar seus impostos? – gargalhadas.
- Não.
- Isso é o que podemos chamar de Anarquista. – mais gargalhadas.
- Vai pra casa do CARALHO! Agora eu tô em outra.
- Que outra?
- Sei lá. Eu li em algum lugar o seguinte: “Quando os Homens controlarem os governos os Homens não terão mais a necessidade de governar”. È uma coisa mais ou menos assim.
- Até lá estamos fodidos.
- Concordo.- Acho que vou virar Tucano.
- O quê? Você? O esquerda da esquerda da esquerda?
- É, acho que a oposição é mais confortável.
- Garçom! Mais uma! Ah, e uma pinga também!



João Augusto. Ilustração: Os Jogadores de Cartas - Paul Cézanne.