sábado, 31 de janeiro de 2009

OS REVOLUCIONÁRIOS DA CONSCIÊNCIA















Andreas Baader e Gudrun Ensslin (Exército Vermelho) aguardam sentença por terrorismo, em 1968.


Mantém o povo sempre isento do conhecimento e livre do desejo,
para que o inteligente nunca ouse agir...

(Lao Tzé – Tao Te King)

Durante décadas, o caso Doutor Silvana foi um mito para a impressa e para gerações de jovens. Desde que foi noticiado pela primeira vez, em fevereiro de 1971, até o início dos anos 90, ele tomou proporções imaginárias que beiram os filmes da série Arquivo X. Verdadeira lenda urbana, no entanto, ele era absolutamente desconhecido para a atual geração de jovens. Porém, esta situação mudará, pois Adalberto Furtado Torres, um dos pivôs do caso, hoje com 58 anos, resolveu finalmente falar à imprensa. Segundo ele próprio, para enterrar o mito. Sentado tranquilamente em sua sala de estar, ele começa em tom natural:

_Eu conheci o Daniel em 1960, ele era meu vizinho. Foi em 64 que a gente começou a pensar toda aquela loucura: a Revolução da Consciência. Na época, ele tinha 17 e eu 15.
_Quem de vocês teve a idéia?
_Foi o Dani.
_O senhor concordou de cara?
_Sim, até porque no início era pura viagem de adolescente, nada mais. Ele começou a falar da evolução humana, da evolução da mente, do iluminismo, de Auguste Comte, de Nietzsche e eu fui no embalo. Sou de Peixes, sempre fui sonhador, imaginativo.
_O senhor poderia explicar, em linhas gerais, o que era a revolução consciência?
_Era o seguinte: entendíamos que a história da humanidade era uma história da evolução da consciência, da mente _que é uma idéia que o Dani desenvolveu lendo Hegel. _Entendíamos, porém, que havia indivíduos mais desenvolvidos, que eram os agentes principais, conscientes, da evolução... (pausa para respirar) _que já é outra idéia que o Dani pegou emprestada do Comte e do Nietzsche.
_O Deus de Comte e o Super Homem de Nietzsche...
_Exatamente! Nós fundimos estas duas idéias.
_E como seria, efetivamente, a revolução?
_Pensávamos em reunir um grupo de “evoluídos”, pessoas que, como nós, sabiam do sentido da história e da humanidade. Esse grupo se desenvolveria em silêncio, estudando, lendo, trocando idéias e, posteriormente, daria seu primeiro passo, entrando nas instituições para saber como conduzi-las em direção à “evolução”.
_Isso me lembra, guardadas as devidas diferenças, é claro, os anarquistas e a Escola de Frankfurt.
_De fato, há uma re-elaboração das idéias deles sim. Nós lemos um pouco sobre eles também. Não muito profundamente, mas lemos. Porém, não concordávamos com a idéia de que a humanidade evoluía a partir do desenvolvimento dos meios de produção. Acreditávamos que ela era conduzida por mentes mais evoluídas.
_Pelo visto, vocês liam muito?
_Mais ele. Eu lia mais ficção científica, lia muito Morris West e Arthur Clarck. Ele lia também, por isso a gente fez amizade.
_Quando conseguiram formar, efetivamente, um grupo de “evoluídos”?
_Em 66.
_Vocês tiveram a idéia em 64, por que o grupo de “evoluídos” só surgiu em 66?
_ Pelo simples fato de que foi neste ano que o Daniel entrou na faculdade de Filosofia, onde conheceu a Valéria. No colegial não tínhamos com quem trocar este tipo de idéia.
_Valéria teria sido a primeira “evoluída” que vocês encontraram...
_Sim. Ela foi a primeira pessoa com quem o Dani fez amizade na universidade. Eles sentiram uma sintonia mútua desde o início. Não demorou para começarem a namorar. Foi ela quem realmente deu impulso para tudo começar.
_Por quê?
_Ela nos apresentou conceitos novos, importantíssimos para consolidar nossa utopia: a expansão da consciência pelo LSD e o auto-conhecimento pela prática do yoga. A idéia de homens superiores e inferiores do I Ching, enfim (gesticula com os braços como quem quer abarcar muitas coisas em volta). Valéria estava experimentando coisas concretas. Tão logo o Dani a conheceu na cantina da faculdade e começou a falar da “Revolução da Consciência”, ela já foi falando de ácido lisérgico, Timothy Leary, pensamento védico e tudo o mais.
_Humm... ela era uma hippie...
_Podia-se dizer que sim, mas eu a definia como beatnik, na época. Os amigos que ela trouxe para compor com a gente, mais tarde, como o Anderson, o Walmir, o Schubert, a Leni, seguiam mais o feitio hippie, de cabelos compridos e calças boca-de-sino. É claro que eles contrastavam muito comigo e com o Dani, que éramos dois garotos bem comportados, dois nerds, que usavam óculos, cabelo bem penteado e roupas formais. Eu então, que sempre fui gordinho, nem se fala... (rindo).
_Pelo que vejo, Valéria mudou o jeito de ser de vocês...
_Não o de vestir (riso)!... O de pensar certamente. Começamos a ler Adous Huxley, Herman Hesse, Jung, o Bhagavad Guita... Nosso gosto musical também mudou. Começamos a ouvir Beatles, mais especificamente o Revolver (1966). A partir de 67, viramos fãs do Pink Floyd, que era uma banda que só maluco ouvia naquela época.
_O que vocês costumavam ouvir antes?
_Música erudita, jazz... Eu, particularmente, gostava de Bossa Nova. O Dani adorava Beethoven. Tentei fazê-lo gostar de Bossa, mas ele malmente gostou de algumas composições do Vinícius.
_Depois de Valéria compor com vocês, como os outros foram entrando no grupo?
_Depois dela entrou a Lili, que estava começando a namorar comigo. A Lili não era uma intelectual, o Dani relutou em aceitá-la.
_O que fez ele aceitá-la?
_Foi a Valéria. Ela o convenceu a conversar com a Lili antes de tomar sua decisão. Ele só a aceitou quando ela disse que adorava A Revolução dos Bichos, de Orwell. O mais engraçado é que ela entendia o livro como se fosse uma fábula (rindo).
_E os outros?...
_Quando Valéria trouxe LSD pela primeira vez, ela já veio com o Anderson e o Schubert a tira-colo. Até porque eram eles que conseguiam drogas.
_Vocês então se reuniam para usar drogas...
_(Me interrompendo) Não apenas! Nós realizávamos leituras de textos filosóficos e sessões de meditação. Fora as discussões sobre política. Em um determinado momento chegamos a treinar a telepatia. Usávamos LSD apenas nos fins de semana.
_Qual era a visão política de vocês?
_Concordávamos com Platão, no que tange a achar que o mundo deveria ser governado pelas mentes mais evoluídas, pelos filósofos. Para nós, a democracia só deveria existir entre os “evoluídos”, que eram quem realmente entendiam seu significado. Não concordávamos, de forma alguma, com a ditadura do proletariado de Marx. Como poderia os peões, os homens inferiores, promoverem qualquer progresso? A divisão da riqueza também deveria ser desigual. Os homens superiores sabem usar a riqueza para promover o progresso, os inferiores gastam a riqueza apenas consumindo, pois não possuem o impulso para a utopia, mas apenas para a auto-satisfação, como os animais.
_Mudando de assunto... A família Daniel Benezar, sobretudo sua mãe, dona Glória, culpa Valéria por tudo o que aconteceu. Ela afirma que foi Valéria quem o fez usar drogas e perder o juízo. O que você diz disso.
_Usar drogas pode ser, mas como eu lhe disse, a idéia da revolução já existia e estava muito madura na cabeça dele. Eu diria que Valéria foi só a pessoa que deu um chão para nós andarmos, antes vivíamos nas nuvens.
_Foi dito que sua mãe proibiu as reuniões, quando soube que estavam usando drogas.
_Sim. Foi na segunda vez que usamos. A partir daí, nos encontrávamos no apartamento em que Valéria morava com a mãe, dona Isadora.
_Valéria não era muito bem vista pelas pessoas, não é?
_Não mesmo. Dona Isadora, era mãe solteira, o que pra época era um escândalo. Além disso, todos sabiam que Valéria não era mais virgem e que até tivera casos com homens mais velhos. Quando ela começou a namorar o Dani, a tia dele, mais uma vizinha dela, o chamaram para uma conversa, para lhe “abrir os olhos”.
_Isso, pelo visto, não adiantou.
_Não, o Dani tinha uma cabeça muito diferente. Antes de Valéria, seus namoros acabavam muito rápido, porque as garotas achavam que ele era louco, que tinha problemas mentais.
_Quem delatou vocês?
_Até hoje acho que foi o Bruno. Mas isso não importa agora. Hoje sei que tudo degringolou quando entraram os amigos dos amigos de Valéria, a partir do final 67. Esse foi o problema, gente que não tava realmente antenada com a proposta.
_Por que o senhor acusa Bruno Marques?
_Porque ele brigou feio com o Dani. Na verdade ele era afim da Valéria e só queria um motivo para ferrar o Dani.
_Quando tramaram a fuga?
_Tão logo a polícia apareceu na casa do Dani, em 69. Ele não tava lá, na hora. Aliás, nenhum de nós estava em casa. Estávamos todos na faculdade. Nossa sorte foi que o Rubens, um visinho nosso, viu a polícia chegando e correu pra nos avisar quando já estávamos a meio caminho do conjunto. Sabíamos que a polícia devia estar nos procurando em nossas casas, por isso, fomos para um prédio abandonado que conhecíamos. Onde antigamente era a fábrica da Coca-Cola.
_A polícia coagiu os pais de vocês?
_O que você acha?... Eles pegaram leve com os pais do Dani, não os torturaram, nem levaram para a delegacia. Só intimaram e fizeram aquela pressão básica. Com meus pais e os da Lili também foi a mesma coisa, graças a Deus. Na verdade, no início os policiais visavam a Valéria, ela quem tava posando de subversiva. Dona Isadora, mãe dela, foi presa e torturada. Não morreu porque deu os nomes dos amigos da filha. E eles abriram o bico quando foram apresentados à máquina de choque.
_Como conseguiram passar dois anos fugindo?
_Nem eu sei. Passamos fome, privações. Conhecíamos muitos lugares abandonados, foi o que nos salvou. Vivíamos basicamente de roubo. Naquela época era muito fácil roubar um supermercado. Valéria era expert em esconder coisas no vestido e na bolsa. Ensinou a arte para a Lili também. Roubávamos coisas que passassem despercebidas. Mas um dia a fome apertou pra valer e a gente resolveu arriscar pegar mais, foi quando fomos presos.
_Isso já foi em janeiro de 71...
_Sim, veja como conseguimos ir longe demais.
_Vocês foram torturados?
_Sim.
_Até hoje o exército admite que somente Daniel foi torturado.
_Todos fomos (categórico). Mas o seu Alceu, pai da Lili, que era advogado, agiu rápido e por isso eu e ela fomos poupados de maiores maus tratos. Mas eles levaram o Dani pra geladeira. A Valéria chegou a ser estuprada na prisão.
_Durante as sessões de tortura, qual era a principal coisa que os policiais queriam saber?
_Ah, o de sempre: se a gente era ligado ao partido comunista, ao Lamarca, essas coisas. Queriam saber que revolução era aquela que a gente tava tramando. Não adiantava explicar muito, pois eles não entendiam nada e davam mais choque e porrada.
_Sofreram algum tipo de vigilância, ou coação após serem soltos?
_Fomos proibidos de falar do que nos aconteceu no DOI-CODI, sob ameaça de sermos novamente presos.
_Daniel Benezar foi morto, ou suicidou-se na cadeia?
_Ele se matou. Desde o início nos falou que se as fosse pego, se mataria. Costumava dizer que jamais daria aos homens inferiores o gosto de o matarem.
_Então o que a polícia disse é verdade?
_Sim, é bem provável que ele tenha bebido Detefon mesmo, como foi dito na época.
_O senhor chegou a falar com Valéria após ser solto?
_Não, minha família proibiu. Mas ela mandou uma carta para mim onde dizia que ia se juntar ao Dani. Isso foi em 72 e ela já tava no hospital psiquiátrico. Foi quando ela se enforcou com o lençol.
_A ligação entre eles era bastante obsessiva, pelo que vejo...
_Não vou dizer que eles eram o casal mais normal do mundo, mas acho que a decisão dela de se matar também foi muito motivada pelas torturas que ela sofreu no DOI-CODI e pelo eletro-choque que aplicavam nela no hospital.
_Liliane de Oliveira Martins também sofreu tratamento psiquiátrico...
_Sim, mas com ela foi diferente, ela não levou eletro-choque. Ela foi pra casa e entrou em parafuso, principalmente depois que soube que a Valéria tinha se matado. Eram muito amigas. Ela foi internada várias vezes entre 73 e 77. Depois disso, ela se enclausurou e evita falar comigo até hoje. Só sei que casou e hoje tem netos, nada mais.
_O senhor também foi internado...
_Sim. Também escapei do eletro-choque, mas desenvolvi transtorno obsessivo compulsivo. Eu não saia na rua com medo de ser preso. Às vezes fugia para casa, pensando estar sendo perseguido, ou vigiado.
_Quanto tempo durou seu tratamento?
_De 73 até 77 também, igual a Lili.
_Como sua família, sua esposa, seus filhos, vêem o caso hoje?
_Durante anos, a Tábata evitou comentar qualquer coisa com nossos filhos. Quando ela me conheceu, em 78, ela já sabia da história pela impressa. Na verdade, foi ela quem fez eu me abrir novamente, conviver com as pessoas, levar uma vida normal.
_Durante décadas vocês foram um mito. Ao longo dos anos, até início dos anos 90, as revistas e programas de TV, vira e mexe, reviviam o caso. Como você encarava isso?
_Mantive silêncio durante todo esse tempo por orientação de meu psicólogo, de minha família e meu advogado. Resolvi falar agora porque hoje tenho equilíbrio emocional para falar do assunto.
_Adalberto Furtado Torres hoje é simplesmente um odontólogo. Seus pacientes sabem do que se passou com o senhor?
_Hoje não mais. Talvez alguns se assustem quando lerem esta reportagem. Antigamente, meus pacientes mais velhos mantinham um respeitoso silêncio. Havia um tabu em comentarem o caso.
_Este tabu era só com os pacientes?
_Não, era um tabu familiar também.
_Quando ele foi quebrado?
_Eu mesmo o quebrei. Um dia fui conversar com meu genro, Paulo, que então era noivo de minha filha, Ângela. Ele comentou que tinha lido algo a respeito do caso e eu soltei o verbo. Aliás, já vinha tendo vontade de fazer isso desde 99.
_Por que só falou à imprensa agora, em 2007, senhor Adalberto?
_Porque minha família era contra que eu falasse. Sobretudo a Tábata. Eles dizem que o que aconteceu é uma página virada em minha vida, algo que me fez sofrer, que devo esquecer. Mas hoje quero deixar tudo em pratos limpos, enterrar o mito.
_Está sendo difícil fazer isso?
_Hoje não. Não sofro mais quando eu lembro. Exatamente por isso que estou enterrando esta história, não dói mais...

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

NEM TUDO É BELO CAMPO QUE FALTA VENTO ATENTO



















Eu senti falta de Fanta Uva.
Senti falta da risada concreta e certeira na hora exata da piada discreta.
Eu senti falta da direção demorada a se realizar autodidata na pista da vida.
Coloquei cor na foto, mesmo meu arco-íris estando lá. Me faltou a cor dos seus olhos, a luz exata do seu olhar a me fitar. Então usei PhotoFiltre pra disfarçar, mesmo conhecendo a inteligência de quem irá ver.
E meu arco-íris aumentava a íris do seu olhar em mim, sem entender: Se eu precisava tanto de cavalos-marinhos, porque pisar na terra verde e bela, escondendo meu desespero particular?
É que senti falta de Fanta Uva, mas não quero beber. Bebo qualquer coisa, até chá de meia pra esquecer. E brinco, guio outro, conto piadas mais simples pra enterter e me guardo em cofre para ninguém comover.
E meu arco-íris que entende tudo nas entrelinhas fica com raiva de mim quando isso lê. É que já não suportava me ver sofrer. Só que quando corro, brinco e conto piada, sofro dobrado no meu padecer. Deixo que me guiem porque já não sei o caminho de nada; a única direção que conheço é desenfreada, acidentada.
E meu sorriso instantâneo combina com coca-cola, soda cáustica, formicida, menos com a Fanta Uva que me dava sede, que matava a sede e que tinha sempre sede.
E minha vontade de dormir é grande, dura vinte e quatro horas, desidratada dela.
Então continuo brincando, contando piada e rezando o terço desse Deus sem graça.

Denise Machado. Ilustração: As Árvores de Oliveira - Vicent Van Gogh (1889).

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

SATÃ EM MERCÚRIO É SAL EM ATACAMA



















- Satã em Mercúrio é sal em Atacama. – pensa alto.
- O que?
- Nada.
- Satã o que?
- Satã em Mercúrio é sal em Atacama.
- Que quer dizer isso?
- Não sei. Essa porra de frase anda ecoando no meu cérebro faz uns dias.
- Cada um com suas loucuras... Hei garçom! Traz mais uma aqui!
- È verdade.
- Uma vez – é interrompido pelo garçom que serve a cerveja – Obrigado. Então, uma vez eu tomei um Chá de Lírio e uma frase doida como essa ficou se repetindo na minha cabeça a noite inteira.
- E qual era?
- Não me lembro bem. Estava muito chapado. Era algo assim...- “This is the end gentifull friend” – cantava interrompendo.
- Cale a boca! Era assim...
- “I say hey honey, let’s take a walk on the wild side” – cantava de novo.
- Que se foda! Não vou falar mais nada.
- Que isso, só estava te zoando meu.
- Só.

(Houve um breve silêncio. Os dois secaram seus copos).

- Mas, e aí? Como está se sentindo sendo governo agora?
- Estranho.
- Imaginei.
- Ainda não me acostumei a deixar a oposição.
- Garçom! Mais uma!
- A gente tem uma concepção por toda a vida, de repente BUM! Muda-se tudo.
- Ué? E o Trotsky, revolução bolchevista, Weber, Marx, caminhada dos 100 dias? – gargalhadas.
- Vai se fuder! Não fui eu que li Thoreau e saí dizendo: Hei de tornar-me um misantropo! A Desobediência Civil pra mim não é mais uma doutrina e sim um preceito de vida... Você ao menos deixou de pagar seus impostos? – gargalhadas.
- Não.
- Isso é o que podemos chamar de Anarquista. – mais gargalhadas.
- Vai pra casa do CARALHO! Agora eu tô em outra.
- Que outra?
- Sei lá. Eu li em algum lugar o seguinte: “Quando os Homens controlarem os governos os Homens não terão mais a necessidade de governar”. È uma coisa mais ou menos assim.
- Até lá estamos fodidos.
- Concordo.- Acho que vou virar Tucano.
- O quê? Você? O esquerda da esquerda da esquerda?
- É, acho que a oposição é mais confortável.
- Garçom! Mais uma! Ah, e uma pinga também!



João Augusto. Ilustração: Os Jogadores de Cartas - Paul Cézanne.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

SEM DENTES PARA AMANHÃ





















Formularei perguntas irremediáveis para bons cristãos.
Para que, em seu dever fervoroso, eles se traiam e sejam ainda melhores.
Pecadores sorteados, alguém veio lhes lamber os pés.
Cada chaga em iluminação.
Cada dorso seduzindo o chicote, que em seu estalo mora a ternura retalhada.

Algumas pacientes histéricas vieram uivar e me trazer doçuras nas emancipações de minha janela.
Mastigam cacos de minha frustração científica e sensorial.
Sou um pedaço de caco nervoso, sem efeito e elas me mastigam.
Esses dentes arquitetam minha realidade.

A paciente desdentada morde seus dedos, tentando arrancar alguma seiva.
Seu comportamento consiste em arrancar sua própria essência.
É conhecida como "Leoa". Ela distribui tarefas com os dentes para suas colegas e sentencia as fracas.
Paga-se com perpetuação do sintoma. Solidão.
Leoa rói cada ponta do sol das minhas manhãs e amarga meu café sem cura.
Nunca saberia o que era a felicidade, sem esta paciente me flertando, atracada ao meu corpo, babando no meu pescoço.
Jamais saberia o significado da redenção.
Apenas queixas, convulsões, o furacão nu do sofrimento boiando nas minhas pranchetas.
Meu avental branco como a armadura de uma guerra particular tão ou mais densa, das quais eu brincava de lutar.
Ninguém saberia dos meus tremores na sala de faxina.
Nem que eu roubava tranquilizantes no início da carreira.
Guerrilheiro do "CID-10", o livro pai dos diagnósticos das patologias mentais, tinha toda uma pátria a defender,
enquanto era consumido pela minha doença.
O pai não falava sobre ela. Era temerosa e desconhecida. Era sublime.
Eu driblara meus conhecimentos, para me enganar, o grande pai fora submetido à minha sabedoria doentia.
Lambia os beiços, sob o olhar de Leoa, ao sol do pátio sujo.
Um ensaio de sorriso, para minha rendenção.



Rita Medusa. Ilustração: Jack Nicholson em cena de O Iluminado.

















acordei e não levantei,
mas levantei e liguei a tv o som o mp3 o pc a torradeira.

era época de farra no meu lar,
só que a gente cresce e sair de la é desafio...
corre dentro os tombos do passado e eu não sei fazer apostas facilmente!

aliás, o tempo passa rápido enquanto o sono não vem...



Gabriela Nieri. Ilustração: Garbiela Nieri em recorte stile.

sábado, 24 de janeiro de 2009

O ANIVERSÁRIO


















Naquela noite, após o trabalho, fui abraçar uma velha amiga escritora que fazia aniversário. Cheguei numa hora meio imprópria, ela discutia com seu namorado: “Porra, Jairo! – Vamos chamá-lo assim – Quando andavas atrás de mim e eu te esnobava, ficávamos até tarde da noite bebendo, agora que te dou atenção e carinho, queres ir cedo pra casa. Hoje é o meu aniversário, porra!” O cara lá caladão, sem dizer nada. As “Folhas de Relva” do Whitman em seu colo. Um volumão. Outro dia andava as voltas com Pessoa. O cara até que lia. Pedi uma cerveja. Brindamos. Ela pareceu contente em me ver, mas seus olhos estavam tristes. Era seu aniversário e alguém queria apagar sua vela. Quando ele foi ao banheiro, ela virou seu copo e me disse: “É justo, Mário? No dia do meu aniversário cismou em ir cedo pra casa.” “Deixa ele ir, você fica. Vamos beber até os nossos fígados gritarem.” Ela fez um esforcinho e sorriu. Na outra mesa, uns aprendizes de junkies bebiam e discutiam alto. Havia uma aureola pesada demais em volta do bar, naquele dia. Senti isso. Bom, ele voltou do banheiro decidido mesmo em ir embora. Comecei a folhear as relvas do Whitman pra disfarçar enquanto eles discutiam. Ele queria mesmo estragar tudo. Aí chegou um outro amigo meu, muito popular por ali e que também escrevia uns troços interessantes. Não lembro como chegamos até Bucowsky, só sei que ele insistia em nos dizer que o alterego do escritor era mais canalha que o seu criador. Literatura americana demais na mesa. Mas os olhinhos dela se acenderam. É que ela havia se tornado recentemente uma leitora voraz de Bucowsky. “Me explica isso!” Perguntou a este amigo. O cara dela levantou-se imperativo. Ela escureceu como uma folha. “70% dos leitores de Bucowsky são mulheres, sabiam?” Disse eu. “Sério?” Espantou-se. “Sério”. Sério nada. Inventei aquilo que era pra chamar sua atenção e vê-la sorrir em seu aniversário. Os aniversários são geralmente deprimentes, acho que é por isso que Deus não faz aniversário. Pensei este absurdo. Aquilo ali tava ficando azedo demais. Foi então que os aprendizes de junkies da mesa vizinha resolveram se engalfinhar e o bar veio abaixo. O troço foi feio porque vi um deles sangrando pelo nariz e gritando: “Porra! Ele torceu o meu nariz com o meu alicate! Ele torceu o meu nariz com o meu alicate!
Mudamos para um outro bar. Neste outro bar tocava Caetano e ela ainda insistia pra ele ficar. Em vão. Ele entregou as chaves da casa e deixou o lugar. Ficamos ali olhando ele se afastar e sumir. Ela foi escurecendo devagar. Então me veio esta frase: “Quando os homens partem, suas mulheres ficam negras como as folhas.” “Que nada! “ Virou-se pra nós estalando os dedos: “Vamos beber até os nossos fígados gritarem!” E ficamos ali os três, bebendo e conversando. Ela nos disse que começaria um trabalho novo como garçonete num bar vip e que estava bastante animada. Falou de sua última crônica e de alguns poemas novos que havia escrito, e nos contou também, pela enésima vez o episodio engraçado com o francês voador, um gringo que ela havia conhecido e que despencara do terceiro andar da janela de um hotel. Rimos um bocado. “Por que não escreve sobre isso?” Sugeri. Ela então pediu um papel e uma caneta e rabiscou alguma coisa:

“O Francês Voador”

Certa noite, estava eu e o tal francês, no finado Macintosh. Bebidos e cheirados. Lá pelas tantas, secamos os nossos copos e subimos pro quarto onde o fedorento estava hospedado. Essa história de que francês não gosta de tomar banho não é mentira não, o cara era fedorento mesmo, mas estava bancando o rock. Me deitei na cama e me espreguicei bem gostoso como uma gata, a sua espera. Ele lá, sentado na janela do quarto, noiadão. Foi tudo muito rápido. Entre um fechar e abrir dos olhos. Não estava mais lá, o porra do francês. Havia despencado dali e eu não pude fazer nada. A não ser rir, cai na risada porque entre o riso e a tragédia eu prefiro ainda o riso, e portanto, eu apenas ri, ri, ri e ri, vendo ele lá estatalado, mas vivo. Foi um custo tira-lo de lá, o francês era gordo e fedia muito.
Na manhã seguinte, nos cobraram o prejuízo e alguma explicação. Não colou não a história de que uma toalha molhada havia despencado dali e feito um estrago daqueles. Saímos bem cedo, eu e o francês para comprar telhas novas. Nossas cabeças ainda giravam pesadas, e o sol espocava em nossas retinas.”


“Só um esboço.” Ela disse. “Gostei” Guardei com carinho o escrito no bolso. Voltamos a conversar sobre variadas coisas, mas depois, os assuntos se esvaziaram e ela ficou muito triste e pensativa. Apagou seu ultimo cigarro nas botas novas e pretas desse outro amigo e nos disse que já ia embora. “Tá cedo.” Não disse nada. Levantou-se e partiu, atravessando a rua com seus passos lânguidos de bêbada. Combativa. Esgueirando-se da morte e das armadilhas do amor.
“Sabe, acho que vou reescrever o primeiro capítulo do “À mesa com os Escarnecedores”. Não ficou legal. Sinto isso. Ando bebendo pouco, eu acho.“Falou esse meu amigo querendo animar a mesa e a noite, mas já não seria a mesma coisa. Vendo ela partir, foi a minha vez de escurecer. Sabe, certas amizades são mesmo pra valer. De repente, me dou conta dessa amizade que é verdadeira e paternal. Não sei bem explicar. Acho que não precisa não. Gosto dela e de quase tudo que escreve. Acho bem original. No fundo ela não quer provar nada a ninguém. O suficiente para eu admira-la ainda mais. Nunca soube disso. Talvez agora saiba.
Partiu num carro sem um aceno, deixando pra trás seu aroma de sonhos e a lembrança de mais um aniversário.

Para Jalna Gordiano
19.03.2007

Marcio Santana

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A FRESTA























lembro me de uma telha quebrada
que pelo meu quarto entrava o universo

nos dias de arco era uma festa
cores entravam até nas costas das moscas
e voavam no quarto pedaços de íris

por essa fresta entrava em outros mundos
porque o meu não me cabia
mergulhei profundo na criança assustada
cheia de ilhas solitárias que fui um dia

mudei de casa para um quarto sem fresta
quando podia fazer o que me desse na telha
não fiz...
Calaça.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

PÉTALAS ÁVIDAS
















Ganha minhas coxas,
quando em mim
teus olhos procurarem
o intento dos meus

Neles não há raso,
nem esse riso próximo
nasceu ao acaso:

Antes se fez
apaixonadamente,
em toda altura
que à vertigem lança:

A fome e a sede,
de bocas abertas
diante da mesa farta



Ivone fs.

EVIDÊNCIA EM CASULO























A terra onde cresci é um vinho aberto
Num entrechoque grão de paz pungente
Um sopro de evangelho inconsistente
Em Bíblia que sangrou um Deus coberto.

De crenças e um porvir de cão desfeito
São feitas as memórias de uma casa
Matriz de impigem vã, cruenta asa
Sintaxe de luxuria em parapeito.

São terras de temor no mais ninguém
Ou cálices de ódio sem bebida
Servidos pelos braços do infinito.
Mil vezes eu gritei como desdém
Pra uma pele pátria dividida
E ouvi apenas trevas como atrito.



dos Anjos.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

REMÉDIO QUE ESTÁ TOMANDO?






















Jurou para amiga ao MSN que não se lembrava o nome. Foi buscar a caixa. Era Vergonha na Cara, 36 mg, três vezes ao dia. A amiga, assim querendo receita, comentou que antes vergonha na cara que vergonha da cara. Aí, explicando para ela, disse que teve vergonha de tudo, do próprio corpo usado e abusado, das torturas emocionais sofridas, que precisava tomar na cara uma vergonhazinha. Quanto a cara, mudou. Tirou a feição de anjo e com a ajuda da tarja ilusória, mudou com gosto! Os efeitos colaterais foram muitos: Baton bem vermelho, unhas pintadas em vermelho, cabelos vermelhos e curtos, mais força, menos medo, pensamentos avermelhados. Corou. É incrível o que uma boa noite de respiração descontrolada em ritímo acelerado na calmaria de um quarto mal iluminado não possa fazer. Ainda acreditam em hospitais. Talvez, com camas redondas...
Denise Machado.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

RÉU CONFESSO


















Matei Mário de Andrade
para não salvar o mundo.
Que seria de mim sem dor?
Sem um pingo de rancor
pra destilar
_entre os dentes_
e morder a carne humana?!...



Marcelo Farias - Ultramodernidade.

domingo, 18 de janeiro de 2009

DESASSOSSEGO



















Se eu pusesse em uma única palavra
a dor que me devora
esta de imediato deixaria de ser
pois perderia o sentido na mesma hora

Palavras fogem à minha boca
escapam ao meu raciocínio
quando a dor se alastra
num furor assassino

E eu corro, quase louca, atrás delas
Felina faminta cercando a caça,
desfaleço de fome
sem saciar-me nela



Iriene Borges

sábado, 17 de janeiro de 2009

PRIMEIRO DIA NO PARAÍSO























Do céu,
Sob os auspícios de um Deus zangado,
Santos tristes houveram cavalgado
Tantas nebulosas em nossa direção...

No céu,
Dossel de algodão
Aguarda nossos corpos.

Anjos tortos nos serão pagens,
E, rodeando-nos as margens,
Assistirão com malícia,
Ante o langor de nossas carícias,
O rosa do teu mamilo intumescido
Verter-me o leite que manchou teu vestido
E minha memória.

Estribilha a história:

Iconoclastas que somos,
Nossa glória reside
Nos divinos pomos
De Adão,
Posto que nosso amor incide
Direto na costela que cedemos
À razão.

Ao que que nos achamos enfim
No que Eles chamam de perdição.

Jack Daniel's. Ilustração: Yukio Mishima (1925-1970) interpretando São Sebastião em sessão fotográfia pessoal.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

EU SOU?






















Eu sou,
às vezes
me esqueço de que sou,
me auto esquecendo
não sei nem quem posso ser amanhã.

Não sei como me esqueço, mas sei que me esqueço,
pois sei que quando me lembro (-me),
surge algo do esquecimento, e que ainda não lembro,
mas que sei que foi esquecido ( por mim)-
e vem de novo o começo...

Eu que nunca deveria me esquecer de nada,
me esqueço de mim',
e quando me lembro já não mais posso me ser
inteira, mas fragmentada,

Porque a memória é inacabada,
iludida, parafraseada, (mas de bom coração).

Minha liberdade posso perceber,
ver, tocar,
quando me sou longe de mim.

Sou vento sem fim,
fim sem argumento,
argumento sem sustento
sustento sem conteúdo,
conteúdo sem continente,
continente sem contingente,
contingente sem coração.

A cada estação à cada estação
em chamas de amor dos mais remotos tempos,
sou drama e comédia, pedra e porcelana,
relento e o mais forte sol.

Mas de tudo isso, disso tudo, eu sempre me esqueço.




Gabriela Nieri.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

NÃO FAÇO NADA



















Não me agradeças
Não faço nada
Nada que tenha valor

Só te mostro o que sempre esteve ali
Nenhuma novidade
Desperto em ti o nato
A poesia que já existia
A música, a leveza, a arte
Nada é meu
Nada fiz
Só te mostrei

O que sussurro em teu ouvido
É tua própria composição
E agora danças tua coreografia

Não faço arte
Não faço poesia
Só faço meu trabalho
Fazer-te feliz com tua alegria

Não me chames de poeta
Muito menos de artista
Prefiro operário
Quando muito, artífice
Que lapida a bruta pedra
E desnuda o brilho que sempre havia.



Alexandre Spinelli.

VASO DE DESONRA



















Não! Não foi de sonhos
Que antepus as vértebras
De um caco insípido de Paraíso.

Em tantas abstrações de um
Fragmento asmático de alma
As canções espremidas por uma
Esgrima de fibra fina, converteram-se
Em um mesmo oxímoro:
Filho bastardo e inacabado
Em apreensões onde me deixo
Ser a raiz de um pesadelo
Amarelo.

Em uma parada de intermitências
De escama funda, estão parados
Todos os jazigos do rude
Calor em subsolo.

A sombra sobra em sussurros!

Se amei um arbusto acabado
E ainda foi pouco é porque
As copas do meu infinito
Reclamaram os desvarios
Simplistas das cordas
Da minha cova.

Mas não odeio a existência
Passada de validades
De um caroço do tempo
Que é contado por ponteiros
De braços macios e sentados
Na beira de uma calamidade (no eu).

Modernismo virado do avesso
Numa amnésia conjunta
E antipática, anti-séptica
Cética da crença descarada
Que roeu todos os objetos

De indiferença que foram
Criados de alguma objeção.

O grito é um asilo pra uma voz!

E o dia imergiu afundado
Em si mesmo, como a pedir
Socorro ao meu braço
De sangue: “cão por baixo
Da terra”!

De dois remos foram feitos
As correntezas que esmagam
As carências de incerteza
E opiniões forjadas
Na urina de um crepúsculo
Abstêmio, de um mar
Subdividido em cima
De uma ponte-pronta
De desassossego.

Reneguei os apelos
Da carne má, num culto
Abrasado a imagens secas
De uma estiagem de solo
Petrificado de matiz incerta.

Reneguei meus ossos num
Abandono vil de mim, quebrado
Pelo eu em calmaria treva.

O tempo é o caixão do pensamento!

dos Anjos.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

POEMA PÓS-MODERNISTA























Eu contarei todos os dedos para não fazer
A mesma coisa sempre.
Eu não farei e me recuso a fazer
como antes.
É possível beber todos os versos
como quem bebe suco.
O verso bêbado é melhor que o verso
metrado.
Difícil é fazer versos que não são mais versos,
são inversos.
Quando a mente resolve ser atroz,
talvez seja mansa como um cordeiro.
A intenção destrói o poema
como o fonema dissolve o amor.
Melhor então ficar calado.



Marcelo Farias - Para Entender a Mágica. Ilustração: Woody Allen e Scarlett Johansson.

POEMA CONCRETO























A Alcides Werk

O corpo queimado
E as cabeças de fósforo
São fósforo mesmo
Nos passos da escada.

Em vigas de ferro
_Esqueleto de aço _
Se ergue o gigante,
Mirante do além.

_Ah, praça cinzenta!
_Ah, fungo projeto!
Te espalhas deserto
Ao vácuo horizonte.
(Planície sem sonhos).

Teu céu é de chumbo.
Teu Sol é mormaço.
Teu fel é o compasso
Com gosto de nada!
Nada!

Nem vale ou montanha,
Nem lago ou ribeira,
Nem árvore ou bicho,
Nem guincho ou esguicho,
Só siso concreto!

Reto!
Reto!
Reto!


Marcelo Farias - Para Entender a Mágica. Ilustração: Waste Man - Antony Gormley.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

CARNE, OSSOS E PEDRAS


















terra das mamas secas de orvalho
o rio que traz os mais velhos
são memórias dos antepassados
moldando em espinhos o orgulho

o vento aqui é invisível ou leve
sopro das narinas de um dragão
o caminho queima seco e duro
o sol urtiga que queima o chão

espantalhos do nada enraizamos
na terra a esperança em cactos
procissão fé novenas e pactos
seco corre o rio nas linhas das mãos

só a volta para farinha da rocha
é a única certeza real desse torrão

Calaça.

ANTI-TÉXTIL























susto súbito
espanto de veneta
e ai

ai de mim
que nasci de 7 meses
sem unhas nem dentes

e, ó, que mundo hostil!

tanta loucura de Deus
e os mal-vistos prazeres
vulgares

ai de mim, que nasci
sem manhas nem ardis
de organdi


Lanoia. Ilustração: Liaison Dangereuse - René Magritte.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009























-Deus existe?
-Eu acho.
-Então, tu acha que ela volta?
-Ela tá na Bahia, otário.
-Pois é... eu sou uma besta que sempre me iludo.
-E o que Deus tem haver com isso?
-É que o crente lá da igreja disse que pra Deus nada é impossível.
-E esse Deus tem dinheiro pra ti pegar um barco? Pra Bahia fica mais caro pra ir de mar!... Tá foda! Apaga a luz e dorme!
-Porra tu é insensí­vel pra caralho, né, viado!
-A mulher tá resolvida, pô! Tem o sustento dela. Tem o cacete que quiser chupar. Tu acha que ela vai se preocupar com um escritorzinho de merda? Vamos ter consciência não?
-Que negócio é esse de merda?
-Tá bom, tá bom! Tu és um clássico undergraund. Tá mais leve assim?
-Teu teatro qualquer um faz. Só faz papel de bebum e bicha.
-Pelo menos não sofro de frescura. Posso ser bicha mas não sofro por bofe.

A luz já acessa, a porrada canta. Os vizinhos acham que é briga de viados. Mas, são apenas dois artistas lisos e solitários.



Diego Morais - SALTOS ORNAMENTAIS NO ESCURO. Ilustração: cena do Inferno da Divina Comédia de Dante, por William-Adolphe Bouguereau.

ENTRE VIDRO


















Olhos transparentes
entre vidro
Leitura de um mundo,
pequeno vão,
entre os estilhaços de mim
e seus ásperos atalhos

Ausência de fragrância,
vozes quase sumidas,
esperança fugidia
do leve resvalar das bocas

Tênue divisão de espaço
que não aparta os desejos
comuns, obscenos

Só um movimento brusco
e, no chão, restariam pequenos
fragmentos de todas as fronteiras

Preferiu-se, ao sopro da porta,
trincar, aos poucos, o mundo mágico,
em que não havia vidros e bandeiras,
jatear interrogações inúteis,
descolorir, vaga e vagarosamente,
o reflexo da essência de nós mesmos



Ana Elisa.

domingo, 11 de janeiro de 2009





















Quero o amor que assassinei junto com meu cúmplice, o amado.
Mas esse amor está morto.
Então corro demais
buscando veias,
escapes,
para esquecer o crime.
Matamos juntos o nosso amor
e nos arrependemos,
ele lá,
eu cá,
mas o amor está morto...
assim...
uma cobra partida ao meio,
ficam duas metades loucas, em desespero,
mas são metades inertes,
em movimento,
não é?
É assim que somos,
metades separadas
e nós mesmos algozes.


AGONIZANTE E INTEIRAMENTE REAL
Denize Machado.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Novembro






















Foi numa tarde em que Maria foi encontrá-lo na rodoviária. O dia estava lindo e não teria como não estar. Eles eram diferentes e todo mundo dizia que um completava o outro. Todo mundo não, porque quase ninguém sabia. Maria era quase mais alta que ele e, ainda assim, ele era quase intocável. Ele nunca ligava e, quando o fazia, ainda assim, não ligava. Maria o amava, ele se deixava amar.
E eles eram felizes assim.
Ela tinha bom gosto pra música, livros e cinema. Era orgulhosa, cheia de si. E precisava dele pra se sentir viva.
Mas naquela tarde de novembro, Maria ficou imaginando como seria se não fosse daquele jeito. Enquanto segurava a mão dele, pensou em outras mãos e outros corpos e outras salivas e outras ruas e outra história. Enquanto ele quase a amava, ela descobriu que tinha um mundo pra entender e, pra saber das coisas, não mais podia ficar parada esperando ele ligar.
O garoto parou de olhar pra rua e olhou pra ela, mas ela não estava mais lá. Maria pensou que morreria, mas não morreu. Aconteceu. Acontece sempre, com todo mundo, o tempo todo. Foi triste como tinha que ser e depois passou, como tudo passa.
Maria lembrou disso dez anos depois, numa rodoviária, indo embora. Sempre com essa mania de ir e não guardar as coisas refletidas. Ela lembrou porque, se tivesse sido diferente, doeria igual.
Ele ficou lá no interior, criando raízes. Maria saiu voando.
E essa história não tem moral.



- Duda de Oliveira.

(pausa)























falaram-me sobre coisas que não posso esquecer,
coisas que se tatuaram em mim.
eu adquiri algumas dessas coisas, e não sei o que são.
Pretendo não pretender tanto, não saber, eu tenho medo:
sou assim, gente, deixa eu ser..


Gabriela Nieri. Ilustração: La Pausa - Sara Scaramelli.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

SOLIDOMÍNOMO & SOLIDOMÔNIMO























levei-me o sono antes que o sol quedasse à escuridão da lua edredom.
levei-me o pensamento antes do arquitetar cinemascópico da mente...

ora solidomínomo & solidomônimo,

eis que me jurei honesto por dentro das veias
e os botões da camisa fugiram-me às casas!

eis que me jurei santo ante o cheiro da carne
e os mortos dançaram madeira e terra!

eis que me jurei a verdade em alto brado
e pus fim aos sabiás que enfeitavam o vento do dia!


Anderson H. Ilustração: água forte de Hans Baldung Grien.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

SAUDADE


















Quem vela teu sono
enquanto velo as horas
em que não durmo?

Teus cabelos guardam segredos
só decifro com meus dedos...

anéis justos cobrindo minhas mãos

Teu rosto, moço,
é o guardador da luz
que vigia a minha noite

Por onde andará teu pensamento
enquanto caminhas por aí, nas ruas,

Dessa cidade que não conheço?



Ivone fs.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

JUST A DREAM
















Sempre fui apaixonado pela Beatriz, sempre. E era uma tortura para mim ajudá-la a vestir sua camisola de seda azul. Nossa, como o azul lhe caía bem. Por que era torturante para mim ajudar a mulher pela qual eu era apaixonado a vestir sua camisola de seda ás duas da manhã? Porque eu era apenas o melhor amigo dela, só o melhor amigo. E ela também estava bêbada, e eu não achava muito justo me aproveitar disso. Eu a ajudei a vestir, e a deitei na cama, vendo-a adormecer quase instantaneamente, e como eu queria estar ali deitado ao seu lado. Saí e fui para o meu quarto.
Dividíamos um apartamento de três quartos com mais uma amiga nossa, a Ana, que quase sempre dormia na casa do namorado, como naquela noite.
Me joguei na cama e fiquei olhando para o teto. A imagem da Bia só de calcinha e eu vestindo nela a camisola não saía da minha cabeça. Claro que a minha imaginação estava frenética, e não sei por quanto tempo fiquei olhando para o nada.
Até que a porta do quarto se abriu, e ali estava ela. Beatriz, parada na minha porta com aquela camisola azul.
_ Eh... Hãã... Bia, eh... Precisa de alguma coisa?
_ Não, eu estou bem. Só pensei se podíamos conversar um pouco.
_Uhum, claro. – sentei-me na beirada da cama e ela se sentou ao meu lado.
Ela me olhava, apenas me olhava com aqueles seus olhos cor de chocolate que me hipnotizavam rapidamente. Ela colocou uma mão sua sobre a minha e a outra sobre o meu peito nu. Petrifiquei com o seu olhar, com seu toque, mas me forcei a despertar.
_Bia, o que cê...
_Shhh! – ela tapou meus lábios com o indicador – Não fala nada, eu sei que você sente o mesmo que eu. Eu posso ver nos seus olhos, Edu. Apenas sinta.
Então eu senti. Primeiro eu senti a mão dela passar pelo meu pescoço e repousar na minha nuca. Depois senti seus lábios nos meus. Eram quentes, tinham gosto de cereja, e se moviam suavemente junto dos meus. Depois senti sua língua invadindo minha boca suavemente. Vez ou outra me mordia o lábio com fervor e depois voltava a me beijar com ternura enquanto acariciava minha nuca e bagunçava o meu cabelo.
Ela chegou mais perto, então repousei minha mão na sua cintura, acariciando-lhe o corpo quente. Beijei seu pescoço e pude sentir o cheiro floral que vinha dos seus cabelos. Beijei todo o seu pescoço, até começar a descer e chegar ao seu colo, bem perto dos seios.
Ficamos em pé e ela começou a beijar todo o meu peito nu, e foi descendo até a barriga. Acariciou meu membro já firme e pronto, e continuou subindo seus beijos até chegar à minha boca novamente. Continuei cariciando seu corpo passando minhas mãos pela sua bunda e pela suas partes íntimas também. Fui levantando lentamente sua camisola enquanto lhe beijava o ombro e o pescoço, até que tirei completamente a peça de seda azul.
Então pude sentir com minhas mãos a sua pele, macia e quente, iluminada apenas pela luz do abajur. Passei minha mão pelo seu corpo até finalmente tocar-lhe os seios firmes e macios como a própria seda. Nossas respirações eram completamente audíveis de tão ofegantes. Não resisti e abocanhei um de seus seios. Nesse instante, Bia gemeu alto e levou suas mãos até a minha cabeça, incitando-me a continuar. Seus seios eram firmes e lindos, e eu quase podia sentir o gosto de pitanga enquanto passava minha língua pelo mamilo.
Bia puxou-me pelos cabelos até encontrar minha boca novamente. Eu podia ouvir os seus gemidos enquanto me beijava. Dessa vez não tinha tanta suavidade, tinha desejo e a pura luxúria. Mordia meus lábios com mais força, arranhava a minha costa e apertava-me entre as pernas. Então ela me empurrou de volta para a cama, onde caí deitado vendo-a tirar sua calcinha para então arrancar o meu calção e minha cueca. Ajoelhou-se no chão, passou as mãos pelas minhas pernas até agarrar meu membro e enfiá-lo na boca. Essa foi a minha vez de gemer alto, e ver as coisas saírem de foco. Ela era incrível. Chupava o meu membro, acariciava com a mão e com a língua. Tive de me conter, ou então acabaria gozando em sua boca.
Ela se levantou, pousou seus lábios levemente nos meus e sussurrou: “Dentro de mim!”, antes de sentar no meu pênis ainda rijo e começar a cavalgar loucamente. Vê-la sobre mim era maravilhoso. Como seus seios balançavam, como jogava a cabeça para trás e como mordia o lábio.
Ainda com ela sobre mim, sentei-me para chupar seus seios novamente, enquanto ela arranhava minha costa e gemia alto.
Então Bia começou a investir em movimentos mais rápidos e em beijos mais ardentes gemendo cada vez mais alto, quase chegando a gritar.
Então chegamos ao clímax juntos e pude me esvaziar por completo dentro dela enquanto ela gemia e cravava seus dentes no meu ombro.
Ficamos abraçados por um tempo, apenas um ouvindo a respiração do outro. Então me deitei e Bia se aconchegou ano meu lado repousando uma mão no meu peito nu. Deu-me um último beijo, quente e suave como o primeiro para então fechar os olhos e adormecer com um meio sorriso nos lábios rosados.
_ Acorda! Acorda, Edu!
_ Hã? – sentei-me na cama meio zonzo, sonolento.
_ Não vai trabalhar hoje?Já são quase oito da manhã.
_ Bia? – reparei que ela estava vestida e eu também.
_Não, eu sou um duende! Claro que sou eu! Anda logo, ou vai se atrasar. – disse ela já saindo do quarto.
_ Espera. Dormiu bem? – era a minha última esperança para ela me dizer: “Sim, você foi incrível ontem!”.
_Ah, sim, a noite toda – e saiu fechando a porta.
_Merda de sonho!



Lary Baker.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

SEU MAIA























No mês em que completou oitenta anos de idade, seu Maia deu-se ao luxo de um presente todo especial: morrer como sempre sonhou, com o pau fincado dentro de uma vagina jovem e carnuda. Dessa vez não arregaria para nenhum de seus desejos mais obscenos; tampouco se deixaria vencer pela moral e bons costumes que sempre o acompanharam ao longo de toda sua vida. Para tanto, tomou uma dose cavalar de viagra, vestiu a melhor roupa, calçou o melhor sapato, deitou no corpo o melhor perfume, e antes mesmo de partir, cantarolou para sua própria alma – dançando frente ao espelho – a valsa imaginária dos anciões.
Atravessou a cidade rumo ao baixo meretrício, desembocando na Praça da Matriz. Era um sábado de aleluia e os puteiros em contrito acolhiam desde cedo os pecados humanos dos que buscavam o seu calor e a sua morte. Os sinos, em vão, badalavam com fome de reza. Ele subiu os degraus do lupanar e ajeitou-se por ali como uma coruja velha. Foi lhe servido sim, uma cerveja, enquanto seus olhos perscrutavam todo o ambiente. Não tardou e ele grudou o olhar numa pequena de cor morena, que amuadinha, esgueirava-se por ali. Jovem e bem apanhada, seu Maia logo se engraçou dela convidando-lhe à mesa:
“Sentas aqui, meu coração e pedes o que quiseres.” Não botou muita fé, não, caçoando dele. Mas com a insistência do velho e a solidão das primeiras horas, acabou arriscando, ademais, estava necessitada de grana, de modo que aceitara o convite na esperança que o ancião aliviasse o aperreio.
“Maia, seu criado. Vossa graça?”
“Etelvina.” Apresentaram-se. Mandou ver cervejas, cigarros, tira-gostos, e até uma rosa vermelha artificial que deu a ela arrancando de seu rosto a máscara emburrada que havia. Não obstante a idade, Seu Maia tinha a pressa dos jovens e o galanteio da velhice, pousando suas mãos grandes e rugosas sobre as mãozinhas pequenas e mornas de Etelvina, que não reagiu. “Ao menos na velhice tem-se o direito da escolha”, pensou esta frase quando mais tarde viu-se rodeado de outras putinhas, que atraídas pela festa o cercaram de paparicos parecendo besourinhos em volta da lâmpada. Elas também queriam sua atenção, mas seu coração já pertencia àquela pequena. Pouco antes das dez, Etelvina sugeriu o Millennium porque era barato e limpinho. Ele nem pestanejou. Havia chegado a sua hora. Pagou as despesas e desceram as escadas. Saiu radiante para a rua lá fora. Sentiu o frescor da noite e o perfume livre e barato das vielas prostitutas. Uma lua acabrunhada tombava por trás dos armazéns do velho cais. De algum boteco indigente, parecia ouvir um bolero malogrado rogando-lhe à alma, um último apelo. Apelo em vão, pois que seguiu decidido e a contar em silêncio os passos curtos e os minutos da noite que lhe restavam para a eternidade.




Márcio Santana - Crimidéia. Ilustração: Dançarina - Henri Toulouse Lautrec.

MERETRIZ EM NÚPCIAS





















Com postura nada tímida
ela insistia em olhares insinuantes,
que eu percebia
a cada alçar das pálpebras.
Era mais baixa que eu
que me equilibrava em salto.
Ensaiava um ar submisso
que chegou como emboscada.
E isto ao invés de me fazer Golias,
me tecia átomo.
Ínfima!
Miseravelmente ínfima!
Quando eu sem pedir licença invadia as luzes e seus lares,
os carros e seus sonhos,
os concretos e seus abstratos,
ela sedutora profissional me flertava,
me rondava,
me pedia.
Eu sabia de sua ausência de castidade
e de todos os seus amantes.
Meus pés fizeram-se nus
num ímpeto,
minhas pernas se distanciaram
para tal senhora deslumbrante.
E eu amei São Paulo
com toda intensidade.



Barbara Leite

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

SEXO E ETC...


















Quero borboletas não, nem flores, nem mais promessa.
Quero café e etc.
Troco meu Martini por um solúvel,
insolúvel é você!
E se não se diluirnão diluir meu lado volúvel, doce Martini branco, branca em mim
e diluir-se no seu próprio amargo, adeus.
Deixa eu misturar café na maresia
e a maresia te corroer... Sem proteção de capa
acabar contigo, castigar e não te sobrar nada.

Vem maestro, me doma, me pauta.
Usa essa sua batuta na minha vulva.
Chega assim, igual gole de Rum que nunca bebi
certeiro sem ser mastro.
Entorpece a mente para que eu esqueça o asco.

Vem coração, paixão, vazão, bregas endiabrados de ãos,
néctar vão cheio de imensidão vazia
que irá me livrar de dúvidas, responsável por arrependimentose deixando somente nãos.

Vem que a morte é certa em teia tecida de cetim,
mesmo sabendo do afã da tua vontade.
Mas com variáveis minhas escondendo o sim, escondendo o fim
de quem não quer outra coisa vã
de quem não quer mais nada.

Vem se fazer de querida, meu querido, meu macho.
Vem, esbraveja no meio do meu silêncio
e se entitula, se nomeia incalculável, indecifrável, imensurável,
pois há mentiras sustentáveis.
E há de haver outros pontos em vista, incredulidade.
Voa no mar que sou, mesmo firme continente
e dê braçadas, nadando na minha língua...
Me mima.

Isso. Pensa que sou domável, que irei ceder,
que sou lataque sou dourado falso,
de bijuteria...
Estou frívola feito máscara...
Vem tirar minha casca.
Me cura.

E aí, no seu lamento
chegou a hora.

Entro, enfiando-te inteiro
e te mostro:
Antes, a vontade do corte
durante, a falta de norte
depois, o devaneio da morte.

Agora sai, tira, acabou, esquece a partitura.
deixa eu voltar pro meu Martini,
Não quero repetir essa melodia nem solucionar.
Quero nadar em outro solúvel etc.
Fora.



Denise Machado.

POEMA TENTADO























Vou tentar um poema novo.
Sem que o cálculo e a simetria
me impeçam de sonhar.
Será possível?
Não sei!
A mente é uma bolha lunática
difícil de represar.
Emoção,
eu queria compreender-te.
Saber prender-te.
Em vão!
A paixão é dona da vida
e a sina da vida é sentir.
Medindo a dura pressão
de um mar revolto no peito
quebrando contra a razão.


Marcelo Farias - Para Entender a Mágica. Ilustração: La Condition Humaine - Magritte.